Em continuidade ao que já vinha sendo feito pela administração de Joe Biden, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu sinal verde para o novo governo sírio – liderado por figuras que há alguns anos possuíam ligações com o jihadismo. O novo passo foi o fim das sanções contra a Síria, anunciado nessa terça-feira (13/5).
Em um fórum de investimento na Arábia Saudita, primeiro destino internacional do líder norte-americano em seu segundo mandato, o presidente norte-americano ainda se mostrou esperançoso com a nova administração síria.
“Há um novo governo que esperamos que consiga estabilizar o país e manter a paz”, declarou Trump, após dizer que o fim das sanções era uma chance do novo governo demonstrar “grandeza”.
Para especialistas consultados pelo Metrópoles, o movimento pode ser classificado como “política do realismo”. Abordagem onde a busca por resultados é maior do que questões ideológicas.
“A decisão de Donald Trump reflete uma estratégia pragmática de realinhar interesses geopolíticos”, explica o conselheiro da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig) e ex-diretor da Apex-Brasil, Márcio Coimba. “Isso poderia incluir a redução da influência de rivais como Irã e Rússia na região, a busca por estabilidade pós-guerra civil ou até a exploração de oportunidades econômicas, como projetos de reconstrução”.
EUA já ensaiava aproximação antes de Trump
A aproximação norte-americana, e de parte da comunidade internacional, já vinha sendo desenhada nos últimos atos da presidência de Joe Biden. Depois das diversas promessas de um governo mais inclusivo e conciliador, Washington afrouxou algumas sanções contra a Síria ainda em dezembro de 2024, mês que Bashar Al-Assad caiu.
Além disso, o nome do novo líder da Síria, Ahmed Al-Shaara, foi retirado da lista do Programa de Recompensas por Justiça dos EUA.
O objetivo da ação é obter informações que levem a captura de indivíduos acusados de ligações com o terrorismo global, como era o caso de Al-Shaara. Ele chegou a ser preso em meados de 2006 no Iraque, por forças dos EUA, junto de fileiras da Al-Qaeda.
Essa experiência o qualificou para fundar a Frente Al-Nusra, braço sírio da organização criada por Osama Bin Laden. O grupo, após divergências com a Al-Qaeda, foi dissolvido e transformado no Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), organização que liderou a ofensiva responsável por derrubar a dinastia Assad no último ano.
Cautela
Apesar da decisão simbólica do presidente dos EUA, a aproximação entre Washington e Damasco – agora comandada por figuras controversas -, depende de outros fatores mais burocráticos e complexos.
“Para ser revolucionário, seria preciso uma normalização completa das relações, incluindo reconhecimento diplomático, cooperação militar e apoio econômico ao governo sírio — algo improvável sem revisão de leis como a Lei César [que puniu o governo sírio por crimes de guerra durante o regime Assad], que criminaliza investimentos no regime de Assad. Além disso, resistências internas nos EUA, pressões de aliados como Israel e a UE, e a própria volatilidade do cenário sírio limitam a transformação, mantendo a ação como um ajuste tático, não um marco definitivo”, afirma Coimba.