Em homilia, Leão XIV pede amor e fala sobre caridade. Leia íntegra

Na homilia que marcou o início oficial do ministério como líder da Igreja Católica, o papa Leão XIV destacou a importância da unidade entre os cristãos e do exercício da caridade como fundamento da missão pastoral. Durante a missa celebrada na manhã deste domingo (18/5), na Praça de São Pedro, no Vaticano, o pontífice afirmou que assume o novo cargo “sem qualquer mérito e com temor e tremor”, comprometido em “servir à fé e à alegria” do povo de Deus.

Referindo-se à morte de seu antecessor, o papa Francisco, Leão XIV reconheceu o sentimento de perda, mas reforçou a confiança na ação divina.

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 Fiéis comparecem à posse do novo Papa Leão XIV na Praça de São Pedro
O novo Papa Leão XIV com um anel de pescador e um pálio em sua posse na Praça de São Pedro
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Fiéis comparecem à posse do novo Papa Leão XIV na Praça de São Pedro

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O novo Papa Leão XIV com um anel de pescador e um pálio em sua posse na Praça de São Pedro

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O novo Papa Leão XIV chega à Praça de São Pedro para sua posse. O americano Robert Francis Prevost é o primeiro pontífice dos Estados Unidos

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O americano Robert Francis Prevost é o primeiro pontífice dos Estados Unidos

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Visitantes chegam à Praça de São Pedro no início da manhã para a posse do Papa Leão XIV

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O presidente ucraniano Volodymyr Selenskyj (esq.) e o vice-presidente dos EUA, JD Vance (dir.) se cumprimentam durante a missa de abertura do pontificado do Papa

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O novo Papa Leão XIV chega à Praça de São Pedro para sua posse

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“O Senhor nunca abandona o seu povo, mas congrega-o quando se dispersa e guarda-o.” A reflexão do novo papa foi inspirada no Evangelho de João, no qual Jesus confia a Pedro o cuidado do rebanho. Segundo Leão XIV, essa missão só é possível “quando se conhece e se experimenta o amor de Deus, que nunca falha”.

Ele ressaltou que a autoridade na Igreja deve ser vivida como um ato de amor, e não como domínio: “Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, mas de amar como fez Jesus”. O papa também fez menção aos desafios contemporâneos — como a violência, os preconceitos e a exclusão social — e disse que a Igreja deve ser “um pequeno fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade”.

Leia a íntegra da homilia

“Queridos irmãos cardeais, irmãos do episcopado e do sacerdócio, distintas autoridades e membros do Corpo Diplomático, uma saudação. Os peregrinos, vindo. Os peregrinos, vindo para o jubileu das Irmandades. Irmãos, irmãs, saúdo a todos vocês, com um coração cheio de gratidão no início do ministério que me foi confiado.

Escreveu Santo Agostinho: fizeste-nos para vós, Senhor, e nosso coração está inquieto enquanto não repousar em vós.

Nos últimos dias, vivemos tempos particularmente intensos. A morte do Papa Francisco encheu os nossos corações de tristeza. E, naquelas horas difíceis, sentíamo-nos como as multidões, como o Evangelho diz: como ovelhas sem pastor. No entanto, precisamente no dia de Páscoa, recebemos a sua última bênção. E, à luz da ressurreição, enfrentamos esse momento na certeza de que o Senhor nunca abandona o seu povo, mas congrega-o quando se dispersa e guarda-o.

Nesse espírito de fé, o Colégio Cardinalício reuniu-se para o conclave. Chegando de histórias diferentes e a partir de caminhos diversos, colocamos nas mãos de Deus o desejo de eleger o novo sucessor de Pedro, Cristo de Roma, um pastor capaz de guardar o rico patrimônio da fé cristã e, ao mesmo tempo, de olhar para longe, para ir ao encontro das interrogações, das inquietações e dos desafios de hoje.

Acompanhados pela vossa oração, sentimos a ação do Espírito Santo, que harmonizou os diferentes instrumentos musicais e fez vibrar as cordas do nosso coração numa única melodia.

Fui escolhido sem qualquer mérito e com temor e tremor. Venho até vós como um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família.

Amor e unidade. Essas são as duas dimensões da missão que Jesus confiou a Pedro. É o que nos narra o trecho do Evangelho que nos leva ao lago de Tiberíades, o mesmo onde Jesus iniciou a missão recebida do Pai: pescar a humanidade para salvá-la das águas do mal e da morte.

Passando pela margem daquele lago, chama Pedro e os outros primeiros discípulos para serem, como ele, pescadores de homens. E agora, após a Ressurreição, cabe precisamente a eles levar em frente esta missão: lançar sempre novamente a rede, emergindo nas águas do mundo a esperança do Evangelho, e navegar no mar da vida, para que todos se possam reencontrar no abraço de Deus.

Como pode Pedro levar adiante esta tarefa? O Evangelho diz-nos que isso só é possível porque ele experimentou, na própria vida, o amor infinito e incondicional de Deus, mesmo na hora do fracasso e da negação. Por isso, quando Jesus se dirige a Pedro, o Evangelho usa o verbo grego agapáō, que se refere ao amor que Deus tem por nós: a sua entrega, sem reservas nem cálculos. Diferente do usado na resposta de Pedro, que descreve o amor de amizade que cultivamos entre nós.

Quando Jesus pergunta: “Pedro, Simão, filho de João, tu amas-me?”, refere-se ao amor do Pai. É como se Jesus lhe dissesse: “Só se conheceste e experimentaste este amor de Deus, que nunca falha, poderás apascentar as minhas ovelhas.” Só no amor de Deus Pai poderás amar os teus irmãos com algo mais, isto é, oferecendo a vida por eles.

A Pedro, portanto, é confiada a tarefa de amar mais e dar a sua vida pelo rebanho. O ministério de Pedro é marcado precisamente por esse amor oblativo. Porque a Igreja de Roma preside na caridade, e a sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo.

Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder. Mas trata-se sempre — e apenas — de amar como fez Jesus. Ele, afirma o próprio apóstolo Pedro, é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que se transformou em pedra angular.

E, se a pedra é Cristo, Pedro deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas. Pelo contrário, é-lhe pedido que sirva à fé dos irmãos, caminhando com eles.

Todos nós, com efeito, somos pedras vivas, chamados pelo nosso batismo a construir o edifício de Deus na comunhão fraterna, na harmonia do espírito, na convivência das diversidades. Como afirma Santo Agostinho: a Igreja é constituída por todos aqueles que mantêm a concórdia com os irmãos e que amam o próximo.

Esse, irmãos, gostaria que fosse o nosso primeiro grande desejo: uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado. No nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, pela violência, pelos preconceitos, pelo medo do diferente; por um paradigma econômico que explora os recursos da terra e marginaliza os mais pobres.

E nós queremos ser, dentro dessa massa, um pequeno fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade. Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria: olhai para Cristo, aproximai-vos d’Ele. Acolhei a Sua Palavra, que ilumina e consola. Escutai a Sua proposta de amor, com a qual vos tornareis a Sua única família. No único Cristo, somos um.

E esse é o caminho a percorrer juntos: entre nós, mas também com as Igrejas cristãs e irmãs; com aqueles que percorrem outros caminhos religiosos; com quem cultiva a inquietação da busca de Deus; com todas as mulheres e todos os homens de boa vontade — para construirmos um mundo novo, onde rime a paz.

Esse é o espírito missionário que deve animar-nos, sem nos fecharmos no nosso pequeno grupo, nem nos sentirmos superiores ao mundo. Somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo.

Irmãos e irmãs, esta é a hora do amor: a caridade de Deus, que faz de nós irmãos, é o coração do Evangelho. E, como meu predecessor Leão XIII, podemos hoje perguntar-nos: não se viria, em breve prazo, a estabelecer a pacificação, se esses ensinamentos pudessem vir a prevalecer nas sociedades?

Com a luz e a força do Espírito Santo, construamos uma Igreja fundada no amor de Deus — e será dom de unidade. Uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade.

Juntos, como um único povo, todos irmãos, caminhemos ao encontro de Deus e amemo-nos uns aos outros.”

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