Como Final Fantasy 7 Rebirth tira o impacto de um dos maiores momentos do jogo

Antes de qualquer coisa, pode ficar tranquilo: este texto NÃO tem spoilers de Final Fantasy 7 Rebirth.

Final Fantasy 7 foi um divisor de águas para a então Squaresoft, já que era o primeiro título da franquia a ser desenvolvido em 3D e representava novas possibilidades narrativas para a série. O jogo também ficou bastante conhecido por um momento bem específico, que assombrou os jogadores por muito tempo: a morte de Aerith.

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Depois de 27 anos do lançamento do jogo original, não é nem mais spoiler dizer que a simpática moça morre após ser empalada pela espada do vilão Sephiroth. Essa cena e as repercussões dela para a trama marcaram (e traumatizaram) uma geração inteira de fãs de RPGs, seja por ser bastante gráfica em uma época que o público ainda estava se acostumando a essas cenas mais cinematográficas ou pelo simples fato de que muita gente se apegou à personagem.


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Porém, Final Fantasy 7 Rebirth, segunda parte do projeto que está recriando o jogo da Square Enix, usou bastante a possibilidade de a personagem morrer ou não na nova versão, o que acabou mudando completamente a forma como esse momento é visto pelos jogadores. E, pior, acabou tirando muito do impacto que a morte deveria ter dentro da trama.

A surpresa no lugar do impacto

A conclusão de FF7 Remake apresentava uma possibilidade muito interessante para o projeto, que era a de que nem tudo precisava seguir a risca o que aconteceu no jogo original. Isso por si só era motivo para se empolgar bastante com a sequência, mas também levantou questionamentos sobre como isso poderia impactar a experiência do game.

Como comentamos, o momento da morte de Aerith é uma virada na narrativa do título original, já que ao jogar sem saber o que vai acontecer, o jogador a trata como uma personagem comum. Sua importância na trama faz com que você invista seu tempo para melhorar suas habilidades, para desenvolver melhor o relacionamento entre Cloud e ela (apesar de a Tifa estar logo ali).

 

Quando aquele cabeludo malandro mata esse quase literal anjo, tudo muda. O impacto é impressionante, já que o jogador passa por uma enxurrada de reações. Você passou horas evoluindo uma personagem que morreu e não importa o quanto você use Phoenix Down, ela não vai voltar. 

Você não consegue salvar a personagem que claramente o jogo estava querendo empurrar como par para o herói da história. Tudo isso acontece e você só vê ela caindo e o Sephiroth sorrindo. Não importa o quanto você treinou a moça, ela vai morrer. Na verdade, isso é até pior: quem dedicou muitas horas para treiná-la criou um vínculo a mais com ela, o que torna a morte ainda mais brutal.

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O impacto que esse momento tem para a história, para a franquia, e até mesmo para os games em geral, é imenso. Como jogo, é onde a trama realmente se transforma em algo especial. Ninguém está a salvo e depois de aparecer como um vilão como qualquer outro, Sephiroth é alçado a outro patamar. 

Ele deixa de ser um cabeludo maluco para se tornar um dos vilões mais memoráveis de toda a série, principalmente por causa desse momento. As motivações do grupo ganham mais contornos e força, e tudo por causa da morte da Aerith e o que ela representa para o jogador.

Sephiroth só se torna o grande vilão que todos conhecemos por causa do seu sadismo ao matar uma personagem tão querida (Imagem: Reprodução/Square Enix)

Então, vemos como isso é abordado no projeto do Remake. Sephiroth é colocado desde os momentos iniciais do primeiro jogo como esse grande vilão, sem demonstrar exatamente por que para quem nunca jogou o original. Um enorme “Confia” por parte da Square Enix.

O final da primeira parte levanta a possibilidade de Aerith se salvar em FF7 Rebirth, algo que, confesso, me deixou muito empolgado em 2020. Não traremos spoilers sobre o que acontece no jogo que foi lançado para o PlayStation 5, mas sim, da maneira como a personagem é retratada em todo o marketing e no game, que mudam completamente a forma como a vemos.

Mudanças deixando as coisas sem graça

Mencionamos alguns motivos para a morte de Aerith no jogo original ter tanto impacto, sendo eles a impossibilidade de trazê-la de volta, o tempo investido na evolução da personagem e a própria surpresa com que tudo isso acontece. Muitas dessas coisas ainda estão no novo jogo, mas há algumas que são muito importantes que acabam se perdendo no caminho.

Belíssima imagem que foi lançada para machucar quem já sabe o que acontece (Imagem: Divulgação/Square Enix)

A começar pela própria decisão da Square Enix de dividir Final Fantasy 7 em três jogos distintos. Como dito, parte do peso da morte de Aerith no RPG original era que você passou mais da metade do jogo treinando a garota de laço no cabelo para, de repente, ela ser empalada para uma espada gigantesca por um maluco sádico de madeixas platinadas. É uma virada de roteiro que, de certa forma, trai o jogador. Afinal, todo o esforço que ele fez até aquele momento evoluindo a personagem não serviu de nada e, a partir daquele ponto, você vai precisar rever seu time e criar novas estratégias com quem restou.

Só que, quando as novas versões de FF7 dividem a história em jogos distintos, parte desse impacto desaparece. Como o save não é transportado de um jogo para o outro, pouco importa se você dedicou tempo e recursos para evoluir Aerith, pois o terceiro game começará um progresso do zero e todo aquela sensação de vazio que o RPG original tinha deixa de existir. Não há mais o peso de que você a treinou para nada ou, o que é pior, de que parte importante do seu time lhe foi roubada. Em Rebirth, ela é apenas mais uma aliada e isso tira muito do peso que a simples expectativa da morte pode trazer.

Que novamente comece o debate: Tifa ou Aerith? (Imagem: Captura de tela/Canaltech/André Mello)

Além disso, há a própria mudança na mecânica de experiência que a Square trouxe. O sistema de Final Fantasy Remake e Rebirth permite que todos os personagens evoluam juntos, até mesmo aqueles que não fazem parte de sua party. Essa é uma escolha excelente para não ter que ficar indo e voltando para evoluir cada um dos personagens para que, eventualmente, possa usá-los em um momento chave do jogo. Todo mundo evoluiu junto, mas isso torna a vontade de jogar com a Aerith quase negativa.

Existem personagens que conseguem cobrir com tranquilidade tudo o que ela faz na campanha. Durante os nossos testes para o review, em dado momento, ela só era usada quando o jogo obrigava, pois todo o marketing de “Vai, não vai” em torno da morte da personagem leva o jogador a ficar sempre desconfiado do que pode acontecer com ela.

Sephiroth é bastante afetado por essa escolha, já que o jogo parte do princípio que ele é o maior vilão da história da franquia, sem que demonstre de verdade isso. A morte de Aerith “cria” Sephiroth como principal antagonista de FF7.

Rebirth dá muita ênfase em como Sephiroth está a um passo de matar Aerith do que realmente fazendo você gostar da personagem (Imagem: Divulgação/Square Enix)

No nosso review, comentei como em vários momentos, a história de FF7 Rebirth parecia um pouco sem foco, com Cloud e seus companheiros viajando e participando de loucas aventuras, interrompidas com “A gente precisa deitar esse cabeludo na porrada”.

Desde o Remake, a importância que o vilão deveria ganhar simplesmente é dada a ele desde o começo porque todo mundo já sabe quem ele é. Porque todo mundo sabe que ele fez Aerith virar uma camiseta de saudade eterna. Em vez de deixar o jogador decidir as coisas, os desenvolvedores chegam na frente e falam como ele deve se sentir.

Ao brincar com a possibilidade de a Aerith morrer ou não na nova versão, a Square Enix acabou matando só a graça desse momento.

Leia a matéria no Canaltech.

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