Escala 6×1 no RJ agrava assédio e sobrecarga das mulheres

Rio de Janeiro – A escala 6×1, em que se trabalha seis dias para descansar apenas um, virou sinônimo de violência institucional contra mulheres no mercado de trabalho fluminense.

Durante audiência pública realizada nesta terça-feira (20) na Alerj, parlamentares, sindicatos e trabalhadoras denunciaram uma rotina de assédio moral, jornadas exaustivas e demissões arbitrárias, especialmente contra mães que se desdobram entre o emprego e os cuidados com os filhos.

Dados do Relatório de Transparência Salarial mostram que, no Estado do Rio, as mulheres ainda ganham 27% menos que os homens, acumulam duplas jornadas e seguem sendo penalizadas por exercerem funções que o sistema patriarcal insiste em desvalorizar.


Relatos escancaram a face cruel do 6×1

Enquanto o modelo 6×1 se impõe como regra em muitos setores, a audiência conjunta das comissões de Trabalho e de Defesa dos Direitos da Mulher escancarou sua violência silenciosa.

A cada relato, uma ferida social era exposta: mulheres demitidas por levarem filhos ao médico, impedidas de amamentar com dignidade, sobrecarregadas por um sistema que ignora suas realidades.

Giselle Soares, moradora do Rio, foi dispensada por cuidar do filho com o braço quebrado. “Ele disse que precisava de uma funcionária que não faltasse nunca”, relatou. A frase, típica do discurso desumano do lucro acima da vida, ilustra a perversidade da lógica que rege o mundo do trabalho.


Projeto de lei tenta reparar injustiças

A deputada Renata Souza (PSol), que preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, apresentou o Projeto de Lei 5.321/2025, propondo o abono de faltas mediante atestado médico dos filhos.

“É inadmissível que uma mãe seja penalizada por levar o filho ao médico. A Alerj precisa romper com a lógica da exclusão e do castigo, mesmo com as limitações da legislação federal”, declarou Renata.

A proposta responde a uma demanda histórica e recorrente das trabalhadoras. Para a deputada, garantir o mínimo de justiça às mães é também um passo rumo à equidade.


Omissão do governo escancara cumplicidade

Se por um lado a audiência escancarou as feridas do modelo vigente, por outro, a ausência da Secretaria de Estado de Trabalho e Renda gritou alto. Convidado formalmente, o órgão ignorou o debate, revelando a face mais comum do poder público diante das mulheres: o silêncio conveniente.

A omissão é também uma forma de violência”, criticou Renata.


Mulheres trabalham mais e ganham menos

Os dados falam por si: enquanto homens no RJ recebem em média R$ 5.568,75, as mulheres ficam com R$ 4.051,19. E isso sem contar as 21 horas semanais de trabalho doméstico que elas assumem sozinhas — quase o dobro da média masculina.

“Não estamos falando apenas de salários, mas de um sistema que espreme até o último resquício de dignidade das mulheres trabalhadoras”, denunciou a deputada.


Escala 6×1 é atraso travestido de normalidade

A vice-presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio, Ana Paula Brito, não poupou palavras: “O fim da escala 6×1 é um avanço civilizatório”. E tem razão. Enquanto empregadores alegam que remanejar mulheres em período de amamentação “aumentaria o desemprego feminino”, mantêm um modelo que naturaliza o colapso físico e emocional das funcionárias.


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