São Paulo – Em tempos de retrocessos culturais e apagamento histórico, dois filmes chegam aos cinemas para relembrar que a arte ainda pode ser trincheira. “A Mulher Sem Chão” e “De Longe Toda Serra é Azul” estreiam neste mês em São Paulo, Salvador e Manaus, com distribuição da ELO STUDIOS. Ambos trazem à tona histórias indígenas que desmontam estereótipos e reafirmam a urgência de narrativas próprias sobre território, memória e resistência.
Com exibições já confirmadas em espaços como o SPCine, o CineMAM e o Cine Casarão, os dois longas colocam o protagonismo indígena no centro da tela — não como exceção exótica, mas como regra legítima de um país cuja história sempre foi contada por invasores.
Resgatar memórias, reconstruir futuros
Premiado em festivais internacionais, “De Longe Toda Serra é Azul” acompanha a trajetória de Fernando Schiavini, indigenista que revisita aldeias onde atuou nos anos 1970. O documentário é dirigido por Neto Borges, com produção ao lado de Renato Barbieri, e propõe uma jornada entre o passado e o presente, justamente para expor as marcas — ainda abertas — de um Brasil profundo e frequentemente ignorado.
Com narração de Caio Blat e trilha de Zeca Baleiro, o filme emociona não só pela memória afetiva, mas pela denúncia silenciosa de uma política que insiste em varrer povos originários para debaixo do tapete. O projeto conta com apoio do BRDE-FSA-ANCINE e do FAC-DF, reafirmando que o financiamento público, quando bem direcionado, ainda pode servir ao povo.
Voz e corpo de mulher indígena
Se a memória é ferramenta de luta, a palavra também é. Em “A Mulher Sem Chão”, a protagonista Auritha Tabajara — que também dirige o filme com Débora McDowell — narra sua própria travessia do sertão cearense até os subúrbios de São Paulo. Mais do que uma biografia, o longa é um grito: por identidade, por espaço e por escuta.
Auritha é contadora de histórias, mas também símbolo de um Brasil real que sobrevive às margens. Sua voz ecoa as de suas ancestrais Tabajaras, que lhe ensinaram que caminhar sobre chão hostil é também plantar resistência.
Sessões especiais e estreia em salas públicas
No Dia dos Povos Indígenas, em 19 de abril, a ELO STUDIOS organizou sessões gratuitas dos dois filmes em Manaus e Brasília, em um gesto que vai além da simbologia. A ação reforça que o acesso à cultura não pode ser privilégio de poucos.
Os filmes estão em cartaz nos seguintes espaços:
- São Paulo: SPCine, Biblioteca Roberto Santos e CCSP Paulo Emílio
- Salvador: Saladearte – CineMAM
- Manaus: Cine Casarão