Washington (EUA) – A diplomacia foi para o ralo nesta terça (21) quando o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, enfrentou mais uma cena constrangedora da cartilha trumpista. Durante um encontro oficial na Casa Branca, Donald Trump resolveu exibir um vídeo recheado de fake news sobre um suposto “genocídio branco” em território sul-africano.
A tentativa de reforçar a velha narrativa supremacista não pegou bem. Ramaphosa, visivelmente incomodado, colocou o dedo na ferida ao questionar a procedência do material. Quando Trump confessou que nem sabia de onde vinham as imagens, ouviu uma resposta afiada: “Me desculpe, não tenho um avião para te dar”. Ironia direta ao mimo de US$ 200 milhões que o governo americano havia acabado de aceitar do Catar.
Trump tenta impor fake news
Não satisfeito com os recados diplomáticos, Donald Trump insistiu na exibição do vídeo que sugeria uma perseguição organizada contra a minoria branca na África do Sul. As cenas incluíam trechos de discursos de Julius Malema, político da oposição, distorcidos para reforçar a paranoia do “genocídio branco” — uma das obsessões da extrema-direita global.
“Temos milhares de histórias falando sobre isso. Temos documentários, temos notícias”, bradou Trump, ignorando qualquer critério mínimo de verificação.
Ramaphosa reage e desmonta narrativa
Com calma e firmeza, Cyril Ramaphosa expôs a superficialidade do argumento trumpista. A pergunta sobre a origem do vídeo — sem resposta — foi o suficiente para mostrar a fragilidade da acusação. E ainda sugeriu que conversas mais duras fossem feitas fora das câmeras, deixando claro quem ainda mantém alguma noção de diplomacia.
A provocação sobre o avião — uma referência direta ao novo Air Force One doado pelo Catar — arrancou risadas desconcertadas, mas também escancarou o uso político de “presentes” em troca de alinhamento internacional.
Expropriação de terras: o pano de fundo real
O ataque de Trump à África do Sul tem contexto. Em fevereiro, os EUA suspenderam ajuda ao país após a aprovação de uma lei que permite expropriação de terras privadas por interesse público. Embora a medida não especifique grupos étnicos, a extrema-direita americana transformou isso numa cruzada contra os brancos.
Vale lembrar: os brancos sul-africanos, especialmente os africâneres, controlam a maior parte das terras agrícolas, mesmo sendo menos de 10% da população — uma herança direta do apartheid.
Ramaphosa respondeu com firmeza:
“Nossa Constituição protege todos os sul-africanos no que diz respeito à propriedade da terra”, disse.
E ainda lembrou que os EUA também têm mecanismos para desapropriações. O governo sul-africano classificou a postura americana como uma “campanha de desinformação e propaganda”.
Refugiados para alimentar paranoia
Como parte do show, Trump ainda assinou uma ordem executiva para acolher refugiados africâneres, sob a desculpa de que estariam sendo perseguidos em casa. O primeiro grupo chegou aos EUA na semana passada — mais um movimento midiático para inflar sua base supremacista.
Enquanto isso, a real crise de refugiados — africanos negros fugindo de guerras, fome e perseguições reais — segue ignorada por Washington. Afinal, empatia seletiva é regra no manual da extrema-direita.