UFS e um novo patamar para a ciência sergipana

Prof. Dr. Lucindo José Quintans Júnior

Bolsista de Produtividade do CNPq (Nível A)

Professor Titular no Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe

E-mail: [email protected]

Relativity, de M.C.Escher. 1953. Disponível em: https://totallyhistory.com/relativity/

 

A Universidade Federal de Sergipe (UFS) bateu seu próprio recorde. No resultado preliminar da Chamada CNPq nº 18/2024 – Bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ) e Desenvolvimento Tecnológico (DT), a instituição apresentou uma performance impressionante. Mas, antes de tudo, o que é mesmo uma bolsa de produtividade? Bem, bolsas de produtividade consistem em um apoio financeiro concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a pesquisadores com destacada produção científica, tecnológica ou de inovação.

No edital lançado no ano passado e cujo resultado foi divulgado no último dia 15 de maio, a UFS emplacou 42 aprovações: uma bolsa nível A (a cereja do bolo), três de nível B e 38 de nível C – este último, a porta de entrada para o seleto grupo de pesquisadores com essa honraria. Parafraseando um certo presidente, nunca antes na história da UFS tantos pesquisadores foram contemplados em um só edital. O antigo recorde era de 36 bolsas, em 2021. Agora são 42. Um feito ímpar.

Mas a matemática, claro, não revela tudo. Por trás dessa escalada está o que as conceituadas casas de análise científica chamam de “perfil agressivo de produção qualificada”. Basta uma visita ao SciVal – a Bloomberg dos indicadores bibliométricos – para ver que as Ciências da Vida, as Exatas e as Ciências da Natureza puxam a fila das bolsas de produtividade na UFS. As três áreas apresentam alto impacto, colaborações internacionais em expansão e uma constância de publicação, deixando pouca margem para dúvidas. Não se trata de medir cada artigo com régua de ouro, mas de olhar o todo, como fazem o SciVal, o CNPq e a CAPES. Uma lógica até certo ponto enviesada – porque ignora o nível de investimento (ou sua crônica ausência), as dificuldades estruturais e as assimetrias regionais que ainda limitam a produção científica fora do eixo. Mas, bem, é a regra do jogo. E, enquanto ela não muda, nos cabe jogar com inteligência.

Ainda assim, há mais a celebrar. Pela primeira vez, metade das bolsas nos níveis mais elevados (A e B) foi destinada às Ciências Humanas e Sociais. Num país que ainda torce o nariz para o pensamento crítico, isso é quase revolucionário. E mais que isso: é um feito histórico que precisa ser celebrado com todas as letras e com todos os dados. No caso da UFS, as Ciências Humanas e Sociais não apenas concentram o maior número de programas de pós-graduação — são também as áreas que mais avançaram na última Avaliação Quadrienal da CAPES. São elas que mais formam mestres e doutores, que mais entregam egressos à sociedade sergipana e, contraditoriamente, são também as que menos recebem recursos. Subfinanciadas cronicamente pelas agências de fomento, com infraestrutura precária e laboratórios que, muitas vezes, cabem em uma estante, essas áreas têm feito ciência com criatividade, rigor e coragem.

O reconhecimento, portanto, não caiu do céu. É o resultado de uma política científica com bússola e mapa: leitura criteriosa dos documentos de área, inserção consciente nos critérios de avaliação, fortalecimento dos programas de base, como PIBIC e PIBITI, formação em integridade científica, oficinas práticas para elaboração de projetos no CNPq e na FINEP ocorrendo regularmente, e uma internacionalização que foi muito além dos carimbos no passaporte — firmou cooperações reais, com impacto. Tudo isso se deu em meio a severos cortes orçamentários. Ainda assim, resistimos. E, resistentes que fomos, avançamos. Porque esse resultado é muito mais do que uma planilha com nomes e códigos publicada pelo CNPq. É um sinal verde para a entrada de nossos pesquisadores no núcleo duro da ciência nacional. Muitos deles, aliás, figuram pela primeira vez nessa seleta lista — e isso muda tudo. Passam a ter acesso a editais mais competitivos, ampliam sua capacidade de captação de recursos e, o mais importante, tornam-se vetores de renovação para seus grupos, programas e laboratórios. Por isso, é fundamental que se entenda que cada uma dessas bolsas não é só um reconhecimento individual — é também uma alavanca coletiva. A bolsa de produtividade, por sua própria natureza, reforça a infraestrutura, atrai novos talentos, oxigena redes e renova o fôlego de quem insiste em fazer ciência mesmo com cortes orçamentários, apagões de insumos e o peso cotidiano da subvalorização.

Coincidência? Talvez. Mas não custa lembrar: a UFS obteve nota 5 — a máxima — na última avaliação institucional realizada pelo MEC. E esse novo recorde de bolsas de produtividade do CNPq, o maior da nossa história, soma-se a esse marco. Não foi mágica. A Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, nos últimos oito anos, dona de uma equipe docente e técnica qualificada e incansável, buscou fazer o dever de casa: planejamos, capacitamos, integramos áreas, otimizamos recursos e, sobretudo, acreditamos na ciência feita em Sergipe. O resultado está aí — e não veio fácil. Veio com suor, estratégia e compromisso institucional.

Cabe agora manter o rumo, com coragem e responsabilidade. Independentemente dos obstáculos, não se pode retroceder — isso seria desperdício. Porque cada conquista dessa não é apenas da UFS — é de Sergipe, e do Brasil, que precisa, como nunca, de universidades fortes, de ciência vibrante e de políticas públicas que saibam distinguir gasto de investimento.

A UFS agradece. Sergipe também. E o Brasil, se quiser andar para frente, precisa seguir esse exemplo da universidade que, com o resultado obtido no edital de bolsas de produtividade, coloca a ciência do nosso estado em um novo patamar.

 

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