Ética, muito mais que uma palavra de cinco letras (por Fábio Scarton)

A palavra “ética” pode ser curta em extensão, mas é vasta em significado e essencial para a
convivência em sociedade. Não se trata apenas de um conjunto de regras ou preceitos morais, mas
de um alicerce invisível que orienta ações, escolhas e a própria estrutura das instituições.

Na tradição filosófica, Aristóteles já afirmava que a ética está ligada à busca da virtude e da
felicidade. Para ele, viver eticamente é agir segundo a razão, encontrando o equilíbrio entre os
excessos. Kant, por sua vez, introduziu a ideia do imperativo categórico, em que a moralidade se
dá quando se age de modo que a ação possa ser universalizada. Ambas as abordagens indicam
que a ética transcende convenções momentâneas e está enraizada na dignidade humana.

No cotidiano, a ética se manifesta nas pequenas atitudes: respeitar o tempo do outro, cumprir
compromissos, agir com honestidade mesmo quando ninguém está olhando. Em uma época
marcada pela exposição constante e pela velocidade das redes sociais, a ética se torna ainda mais
necessária – e, paradoxalmente, mais desafiadora.

No campo público e institucional, a ética é o pilar da confiança. Governos, parlamentos e empresas
não sobrevivem sem credibilidade, e esta só se sustenta quando as decisões são orientadas por
princípios, não por interesses escusos. Um exemplo marcante é a valorização crescente das
políticas de compliance, que buscam assegurar condutas éticas e prevenir desvios.

É também importante destacar que ética não é sinônimo de moral. Enquanto a moral é cultural e
variável, a ética é uma reflexão crítica sobre o agir humano. Como bem observou Norberto Bobbio,
um dos mais importantes filósofos do direito e da política do século XX, a ética moderna deve ser
pensada não apenas como um conjunto de valores, mas como um sistema de normas que busca a
convivência pacífica entre os indivíduos. Para ele, a ética pública deve estar ligada à promoção dos
direitos fundamentais e da justiça, sendo inseparável da democracia e do Estado de Direito.

Em tempos de crise – sejam políticas, ambientais ou sociais -, a ética se revela como o instrumento
mais potente para restaurar laços, corrigir rumos e reconstruir a esperança. Quando o tecido social
parece esgarçado, é pela ética que podemos reconstituí-lo com solidez e humanidade.

Por isso, mais do que uma palavra, ética é um compromisso. É um chamado silencioso, mas
constante, à integridade, à responsabilidade e ao respeito ao outro. É, em última instância, o que
torna possível a vida em sociedade.

Fábio Scarton é advogado do Senado Federal. Chefia o gabinete do senador Otto Alencar (PSD-BA)

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