Brasília – Em meio à escalada de violência digital e desinformação, Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender, com firmeza, a regulação das redes sociais no Brasil. Durante evento neste sábado (24 de maio) em Campo Verde (MT), o presidente denunciou a omissão institucional diante do poder irrestrito das big techs e afirmou que pretende rodar o país para desmascarar fake news e reconectar o governo à população real, não aos algoritmos.
“O que não tem cabimento é tudo neste país estar sob controle, menos os aplicativos. Eles fazem o que querem, espalham o que querem, e o povo que se vire”, disparou Lula, ao lado de lideranças locais durante o lançamento do Programa Solo Vivo.
A urgência de encarar os gigantes digitais
A fala do presidente ecoa uma preocupação crescente entre setores democráticos sobre o impacto de redes como Facebook, Instagram, X (ex-Twitter), TikTok e afins. Apesar do discurso recorrente sobre liberdade de expressão, o que Lula escancara é o desequilíbrio: “Tem regra para tudo — menos para as plataformas que lucram com desinformação, discurso de ódio e bullying”.
O exemplo citado por Lula, de uma menina que tirou a própria vida após ataques virtuais, expõe o drama social que as redes alimentam. Casos assim não são exceções. O Brasil é um dos países com maior índice de violência digital contra crianças e adolescentes, segundo relatório do Unicef.
Congresso se omite e cede à pressão das big techs
O debate sobre regulação já chegou ao Congresso, mas está empacado. O PL das Fake News, aprovado no Senado, foi esvaziado na Câmara dos Deputados após intenso lobby de empresas como Google e Meta, além do boicote da bancada bolsonarista.
Em abril de 2024, o projeto teve urgência aprovada, mas foi retirado de pauta por falta de consenso. A resistência vem sobretudo dos que se alimentam do caos informacional — a extrema-direita digital, canais de desinformação, pastores influencers e robôs em massa que atuam nas eleições.
“O Congresso precisa sair do Twitter e voltar a ouvir o povo real, que sofre com as mentiras, com o assédio, com a manipulação”, disse Lula.
Lula promete reagir com os pés na estrada
Cansado de esperar, Lula anunciou que vai pegar a estrada. “A partir do mês que vem, vou andar esse país inteiro. Não podemos deixar que a mentira vença a verdade. E isso exige presença, exige corpo, exige coragem”, declarou.
A agenda prevê encontros com comunidades, inaugurações, fiscalização de obras e caravanas em defesa da democracia — e contra o lixo tóxico que circula nas redes. O tom do presidente é de enfrentamento direto à milícia digital bolsonarista.
“Não adianta governar bem se o povo só recebe mentira no celular. Precisamos disputar corações e mentes com a verdade, com a presença, com o olhar no olho.”
Programa Solo Vivo: resposta ao agronegócio predatório
No mesmo evento, Lula lançou o Programa Solo Vivo, com R$ 42,8 milhões para recuperação de áreas degradadas por monoculturas e agrotóxicos. O foco é a agricultura familiar, em contraponto ao latifúndio improdutivo que domina o Cerrado.
“A gente quer recuperar o solo e a confiança do povo. E isso se faz com comida saudável, não com veneno. Se faz com conexão real, não com algoritmo manipulador”, provocou o presidente, em clara alfinetada ao agronegócio bolsonarista.
O Carioca esclarece
Por que Lula defende a regulação das redes sociais?
Porque as plataformas digitais operam sem qualquer controle efetivo, permitindo a disseminação de fake news, discursos de ódio e assédio virtual, especialmente contra crianças, mulheres e minorias.
O que é o PL das Fake News?
É um projeto que visa responsabilizar plataformas por conteúdos impulsionados, obrigar transparência de algoritmos e combater a indústria da desinformação. Aprovado no Senado, o texto enfrenta bloqueio na Câmara.
Como a omissão do Congresso afeta a democracia?
Sem regulação, as redes viram terreno fértil para a manipulação eleitoral, a radicalização política e a erosão da confiança nas instituições — fenômenos explorados sistematicamente pela extrema-direita.
O que é o Programa Solo Vivo?
Iniciativa federal que destina quase R$ 43 milhões para recuperação de solos degradados, com foco na agricultura familiar sustentável, como resposta às práticas destrutivas do agronegócio convencional.