Brasília – Enquanto o Brasil vivia a reta final da campanha presidencial de 2022, Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, já previa o próprio destino: cadeia. Em áudios enviados à família, o tenente-coronel do Exército antecipava que seria preso caso Luiz Inácio Lula da Silva vencesse. E foi exatamente o que aconteceu. A diferença é que, até lá, Cid ainda teria tempo de mentir, distorcer dados e espalhar fake news em defesa do chefe.
As gravações, reveladas pelo UOL, expõem a tentativa desesperada de Cid em se blindar das consequências dos crimes que já acumulava nos bastidores do poder. Ao mesmo tempo em que defendia o capitão da reserva com fervor quase religioso, colocava pressão sobre seus familiares, dizendo que o Brasil não suportaria um novo governo do PT — repetindo o repertório raso e mentiroso da extrema-direita sobre Petrobras, BNDES e Caixa Econômica Federal.
Mentiras, medo e fanatismo
Nos áudios, Mauro Cid tenta vender a imagem de um Bolsonaro austero, simples e quase franciscano. Chega a relatar que o ex-presidente se recusou a jantar num restaurante chique na Suíça, preferindo comer com a equipe de segurança em um local mais barato. Também garante que o então mandatário nunca usou o cartão corporativo — que, ironicamente, estava sob controle do próprio Cid e tinha um limite mensal de saque de R$ 18 mil.
É claro que as afirmações não se sustentam. Basta lembrar que os gastos sigilosos da família Bolsonaro com o cartão corporativo ultrapassaram R$ 27 milhões durante o mandato, conforme revelado por portais como o UOL (DoFollow).
Além disso, Cid distorceu dados da pandemia, afirmando que o Brasil foi “pioneiro” no financiamento de vacinas contra a Covid-19 — quando, na realidade, o país demorou a iniciar a imunização e ignorou dezenas de ofertas da Pfizer, como apontou a CPI da Covid.
Golpismo como estratégia de sobrevivência
Mas as mentiras mais graves vieram com o tom de profecia. Em um dos trechos, Cid prevê a própria prisão, alegando que seria alvo de retaliação caso o “sistema” fosse retomado pelo PT. “Eu sei que vou ser preso sem ter culpa nenhuma e ninguém vai segurar minha onda. Nem o Exército.” Na mesma linha, repete a ladainha de que o Brasil “viraria uma Venezuela”.
O que Cid não previu é que não seriam os “comunistas”, mas sim os crimes cometidos sob as asas de Bolsonaro que o levariam para trás das grades. E foi o que aconteceu.
Da lealdade ao abandono: o destino de um cúmplice
Em maio de 2023, Mauro Cid foi preso pela Polícia Federal, acusado de falsificar certificados de vacinação contra Covid-19 para si, sua família e o próprio Bolsonaro. Mais tarde, passou a ser investigado por envolvimento no desvio de joias públicas e na articulação de um plano golpista para impedir a posse de Lula.
Diante das provas e do isolamento, Cid fez o que Bolsonaro jamais faria por ele: entregou os comparsas. Em setembro de 2023, fechou acordo de delação premiada, revelando que o então presidente reuniu-se com comandantes das Forças Armadas para discutir um possível golpe militar após a derrota eleitoral.
Essas declarações foram incorporadas pela Procuradoria-Geral da República à denúncia contra Bolsonaro por tentativa de golpe, como já destacado pelo Diário Carioca.
Quem deve, teme — e delata
Das muitas mentiras espalhadas por Mauro Cid, uma se confirmou: foi abandonado. O Exército lavou as mãos, Bolsonaro calou-se, e a extrema-direita, que tanto o aplaudia, virou o rosto. O que restou foi a delação, a tornozeleira e o rastro de destruição institucional deixado pelos dias sombrios do bolsonarismo.
O exército não segurou. O capitão não protegeu. O herói virou réu.
O Carioca esclarece
Quem é Mauro Cid e qual sua relação com Bolsonaro?
Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Cid era um dos militares mais próximos do ex-presidente, atuando como operador de confiança no gabinete e em viagens internacionais.
Por que Mauro Cid foi preso?
Foi detido pela PF em 2023 por falsificar certificados de vacinação e passou a responder por outros crimes, como desvio de joias e participação na tentativa de golpe.
Como as mensagens de Cid afetam Bolsonaro?
As declarações e provas apresentadas por Cid na delação premiada foram cruciais para a PGR denunciar Bolsonaro por tentativa de golpe e crimes contra a democracia.
O que as mentiras de Cid revelam sobre o bolsonarismo?
Revelam uma estrutura baseada em fake news, autoritarismo, autoproteção e total desprezo pelas instituições democráticas.