Rio de Janeiro – A cidade dá largada ao Mês do Orgulho LGBT+ com um convite à escuta — literal e simbólica. A edição 2025 do Presença Festival, um dos mais relevantes eventos de diversidade cultural do país, começa nesta quinta-feira (29) com a apresentação gratuita do espetáculo “Movimento de Escuta”, no Teatro Ipanema Rubens Corrêa, na Zona Sul do Rio.
Protagonizado por cinco bailarinos surdos, o espetáculo reúne dança, poesia em Libras, artes visuais e sonoridades alternativas, promovendo um encontro potente entre corpo, silêncio e expressão. Mais do que um show, é um manifesto em cena: uma denúncia da surdez social frente às vozes marginalizadas. As apresentações seguem até 1º de junho, com ingressos distribuídos uma hora antes de cada sessão.
Corpo que fala: inclusão sem concessões
A peça tem direção de Clara Kutner, fundadora da Cia Carioca e do Projeto SOM, e é interpretada por Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thaís Souza e Thayssa Araújo. A proposta é simples, mas revolucionária: abrir espaço real para artistas com deficiência não como “participação especial”, mas como protagonistas de uma cena mais justa e plural.
“Mais do que acessibilidade, é visibilidade. Não é favor, é direito”, dispara José Menna Barreto, idealizador, diretor artístico e curador do festival. “A arte só é completa quando inclui todes”, completa. É a segunda vez que o Presença aposta nessa abordagem, e, a julgar pela força da programação, não será a última.
Dança funk, SLAM e silêncio que grita
“Movimento de Escuta” é também um espelho do nosso tempo: um país marcado pela fragmentação, pela gritaria sem escuta, pelo desmonte de políticas culturais inclusivas. Com influências do funk carioca, do passinho e da poesia SLAM, o espetáculo recusa o estereótipo do “coitadismo” e traz potência, ritmo e crítica social em movimento.
As sessões de sábado (31) contarão ainda com audiodescrição e, ao final, o público será convidado a um bate-papo com os artistas. A proposta é derrubar a quarta parede e abrir espaço para trocas reais entre cena e plateia.

Festival do agora: equidade no centro
O Presença Festival 2025 se consolida em sua quarta edição como um dos raros espaços no Brasil em que a cultura é política pública de fato, e não peça de marketing institucional. O evento é uma realização da Maria Angélica Produções, com apresentação do Ministério da Cultura e patrocínio master da Shell, além de apoio do Circo Voador e da Hand Talk.
A programação geral inclui shows, rodas de conversa, exposições e encontros com artistas LGBTQIAPN+, pessoas pretas, mulheres, pessoas com deficiência e povos originários — reforçando a missão do festival de ser não só representativo, mas reparador.
Teatro gratuito com arte surda até 1º de junho
As apresentações da Mostra de Teatro inclusiva acontecem entre 29 de maio e 1º de junho, com duas sessões diárias nos dias 29, 30 e 31 (às 18h e 20h) e duas no dia 1º (às 17h e 19h). Os ingressos são gratuitos, mediante retirada na bilheteria do teatro uma hora antes de cada sessão.
É teatro sem catraca, arte sem exclusão, escuta sem ruído. Em tempos de censura, retrocesso e negacionismo, o Presença Festival insiste em fazer barulho com o silêncio — e isso diz muito.
O Carioca esclarece
O que é o Presença Festival?
É um festival cultural anual que promove diversidade, equidade e inclusão, reunindo artistas LGBTQIAPN+, pessoas pretas, com deficiência, mulheres e povos originários em diversas expressões artísticas.
Quem são os artistas do espetáculo “Movimento de Escuta”?
São cinco bailarinos surdos — Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thaís Souza e Thayssa Araújo — que utilizam dança, Libras, poesia e artes visuais para explorar formas de comunicação.
Como o festival promove inclusão real?
Ao colocar artistas com deficiência no centro da cena e garantir acessibilidade ao público, como sessões com audiodescrição e ingressos gratuitos, o evento rompe com a lógica excludente da indústria cultural tradicional.
Por que essa mostra é importante para a democracia?
Porque cultura acessível e representativa é um pilar essencial da democracia. Dar voz e visibilidade a grupos historicamente silenciados é uma forma de resistência e reconstrução do tecido social.