Buenos Aires – Acredite se quiser, mas Donald Trump sugeriu que a Argentina invadisse o Chile. A insólita proposta foi revelada por Mauricio Macri, ex-presidente argentino, durante um evento na Espanha, ao comentar bastidores da cúpula do G20 de 2018.
Segundo ele, Trump olhou para o mapa e, com aquele jeito que mistura ignorância com arrogância, quis saber o que era “aquela faixa à esquerda”. Ao ouvir que era o Chile, disparou: “Por que vocês não conquistam isso aí? Assim teriam os dois oceanos.”
Intertítulo: O império segundo Trump
A fala foi tratada como piada, mas Macri reconheceu que ficou em dúvida se o então presidente dos EUA estava mesmo brincando. O histórico de ideias delirantes de Trump ajuda a alimentar a suspeita. Não foi só com a América do Sul: o republicano já sugeriu a anexação do Canadá, da Groenlândia, do Canal do Panamá e até da Faixa de Gaza — como se estivesse escolhendo terrenos para um campo de golfe pessoal.
Macri afirmou que, ao lembrar desses episódios, percebeu um padrão: o ex-presidente norte-americano fala como um imperialista do século XIX, só que com menos leitura. E isso, vindo da boca de alguém que foi aliado de Trump e entusiasta do ultraliberalismo, diz muito.
Intertítulo: Do Alasca ao Estreito de Magalhães
As propostas expansionistas de Trump não são apenas folclóricas: elas têm gerado reações diplomáticas sérias. Em 2019, quando ventilou comprar a Groenlândia, ouviu um “não” seco da Dinamarca — dona do território. A resposta foi diplomática, mas o povo local respondeu com ironia afiada: surgiram bonés com os dizeres “Make America Go Away”, uma resposta à megalomania embalada em “Make America Great Again”.
Já a Faixa de Gaza foi citada como alvo de anexação em meio à carnificina promovida por Israel com aval norte-americano. A ideia foi recebida como mais um delírio racista e colonialista que ignora povos, culturas, fronteiras e direitos.
Intertítulo: América do Sul na mira
A proposta feita à Argentina escancara a forma como Trump enxerga a América Latina: um tabuleiro sem soberania, onde países podem ser movidos conforme os interesses de Washington. A frase, mesmo dita com um sorriso, carrega o veneno de quem se acha dono do mundo — e não tem o menor pudor de sugerir uma guerra em nome do “acesso ao Pacífico”.
Não é coincidência que o comentário tenha sido feito durante o G20, encontro marcado por relações assimétricas entre potências e nações em desenvolvimento. Tampouco surpreende que Macri tenha engolido a provocação com risos nervosos: ele próprio representava o entreguismo disfarçado de pragmatismo.
Intertítulo: Império com verniz pop
Trump não inventou o imperialismo estadunidense, mas deu a ele um verniz pop, grosseiro e performático. É o velho “destino manifesto” com penteado laranja e discurso de Twitter. Suas falas aparentemente “descontraídas” funcionam como balões de ensaio: testam até onde vai a passividade dos aliados e da imprensa internacional.
Em tempos de tensões geopolíticas e avanços autoritários, essa retórica ganha contornos ainda mais perigosos. Um ex-presidente dos EUA propondo invasões com a leveza de quem escolhe sobremesa não deveria ser tratado como anedota — mas como alerta.
O Carioca esclarece
Quem é Mauricio Macri?
Empresário e político argentino, foi presidente entre 2015 e 2019, representando uma agenda liberal e pró-Estados Unidos. É conhecido por ter alinhado a Argentina às diretrizes do mercado financeiro internacional.
Trump realmente queria invadir o Chile?
Segundo Macri, a frase foi dita em tom de brincadeira, mas o histórico do ex-presidente americano mostra que falas assim refletem um padrão expansionista que vai além do humor.
Quais as consequências de declarações assim?
Além do constrangimento diplomático, elas reforçam a imagem dos EUA como potência agressiva e desrespeitosa com a soberania de outros países.
Como isso afeta a democracia e os direitos internacionais?
Normalizar esse tipo de discurso enfraquece tratados internacionais, incentiva conflitos e mina o respeito às fronteiras e autodeterminação dos povos.