Wagner Moura transforma vitória em Cannes em manifesto político. O ator reafirma que o Brasil segue sendo potência cultural, apesar dos ataques.
Num país que tenta matar a arte, é ela que insiste em manter o Brasil vivo.
Londres – Ausente fisicamente da cerimônia, mas presente em cada segundo do impacto de seu trabalho, Wagner Moura não perdeu tempo para celebrar sua conquista no Festival de Cannes 2025. Em vídeo publicado nas redes, o ator baiano comemorou o prêmio de melhor ator por sua atuação em O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho, e fez um discurso direto, emocionado e repleto de orgulho nacional: “O Brasil é o país da arte.”
A frase não foi mero afago à audiência. Foi um grito de resistência, um posicionamento político e um aceno a um país que, mesmo sob o descaso institucional, continua produzindo cultura com densidade e fúria criativa. “Felicidade por mim, pelo Kleber, pelo Agente Secreto e pelo cinema brasileiro. Pela cultura brasileira. Pelo fato desse filme ser mais uma peça que aproxima os brasileiros da sua cultura, dos seus artistas”, declarou Moura.
Reconhecimento mundial, conexão nacional
A consagração no maior festival de cinema do mundo não é só dele. Wagner compartilhou a vitória com o público que tem acompanhado — e muitas vezes salvado — o cinema nacional da extinção. “Ver brasileiros torcendo pela vitória do cinema brasileiro internacionalmente, dizendo que os filmes e artistas representam o povo, assim como aconteceu com ‘Ainda Estou Aqui’, me dá uma alegria profunda”, disse, citando outro longa que conquistou plateias internacionais.
Em um país em que a cultura foi tratada como inimiga durante os anos de governo Bolsonaro, a fala de Moura funciona como desagravo e reaproximação. A arte, segundo ele, não apenas representa o povo, mas o resgata de silenciamentos históricos.
Cinema como ato político
A ausência de Wagner em Cannes teve motivo nobre: estava filmando em Londres quando recebeu a notícia da premiação. “Recebi a notícia dos prêmios que a gente ganhou da forma mais louca possível, no set de filmagem”, contou. Mesmo longe, sua conexão com o feito era inegável.
Wagner tem feito do cinema seu instrumento de denúncia e intervenção — seja ao interpretar Marighella, dirigir filmes sobre ditaduras, ou agora ao encarnar o protagonista de O Agente Secreto, que ainda não teve detalhes da trama revelados, mas já é celebrado como uma obra potente sobre espionagem e relações de poder.
“Viva o cinema brasileiro”
Ao encerrar sua mensagem, o ator reforçou o papel da cultura na construção de uma sociedade democrática. “Viva o cinema brasileiro. Viva a importância da cultura para o desenvolvimento de qualquer país. O Brasil é o país da cultura, o país da arte. Vamos celebrar e aproveitar mais esse momento bonito na cultura e no cinema do Brasil”, afirmou.
O recado é claro: a arte brasileira, quando não é sabotada, brilha. E quando brilha, ilumina — mesmo num país onde parte da elite ainda prefere as sombras.
O Carioca esclarece
Quem é Wagner Moura e qual sua relevância internacional?
Ator, diretor e produtor baiano, Wagner Moura é conhecido por papéis como Capitão Nascimento (Tropa de Elite) e Pablo Escobar (Narcos). Tem construído uma carreira internacional e engajada, abordando temas como ditadura, violência e direitos humanos.
O que é o Festival de Cannes?
É o festival de cinema mais prestigiado do mundo, realizado anualmente na França. Prêmios concedidos em Cannes elevam filmes e artistas à visibilidade global.
Por que dizer que “o Brasil é o país da arte” é um gesto político?
Em um cenário de ataques à cultura, cortes de orçamento e perseguição a artistas, afirmar que o Brasil é o país da arte é uma defesa da identidade nacional e uma provocação aos que tentam deslegitimar a produção cultural brasileira.
Como o cinema contribui para a democracia?
Ao narrar histórias do povo, denunciar injustiças e afirmar vozes silenciadas, o cinema promove reflexão crítica e participação cidadã — pilares de qualquer sociedade democrática.