Lisboa – O partido Os Verdes não mediu palavras: “o Chega cresceu, e a culpa é da comunicação social”. A crítica ácida veio à tona no comunicado divulgado após o Conselho Nacional do PEV, realizado no sábado (24 de maio), onde a legenda ambientalista responsabilizou a mídia portuguesa por impulsionar o avanço da extrema-direita nas eleições legislativas de 2025.
Segundo os Verdes, a imprensa deu palco, microfone e manchetes a um partido que só espalha “intolerância, discursos de ódio, mentiras e demagogia”. Um Chega que, para completar o pacote, também apoia o desmonte dos serviços públicos e a corrosão dos direitos dos cidadãos.
A imprensa que normaliza o inaceitável
“Escandaloso favorecimento”. Foi assim que o PEV definiu a cobertura jornalística concedida ao partido de André Ventura, que não apenas cresceu em número de votos, como pintou de azul a maior parte do sul português — Setúbal, inclusive, foi onde o Chega obteve sua maior vitória em números absolutos: 129.569 votos.
Coincidência trágica: Setúbal é justamente o distrito que, por 24 anos, elegeu a histórica deputada verde Heloísa Apolónia, hoje fora do Parlamento.
Sem representação, mas não calados
O comunicado também expressa a frustração com o desempenho da coligação CDU (PCP+PEV) nas urnas. Embora tenha garantido três cadeiras no Parlamento, a CDU encolheu — e os Verdes seguem sem qualquer representação na Assembleia da República.
Para o partido ecologista, isso significa um Parlamento sem uma voz pacifista, ambientalista e comprometida com a democracia constitucional. Mas, segundo prometem, a luta continua: “reforçaremos nossas ações a nível nacional e local, ligados às preocupações reais da maioria das pessoas”.
Abril em risco: alerta contra a ofensiva autoritária
A nota dos Verdes vai além da crítica à imprensa. Há um alerta explícito: o país vive um ataque coordenado aos valores de Abril, referência à Revolução dos Cravos que instaurou a democracia em Portugal. No centro da crítica estão Chega, Iniciativa Liberal (IL) e a coligação Aliança Democrática (AD), que juntos, segundo o PEV, “declaram uma ofensiva à Constituição da República Portuguesa”.
Essa ofensiva, explicam, visa desmantelar direitos sociais, como o acesso universal ao Serviço Nacional de Saúde, à Escola Pública e à proteção trabalhista. Uma investida também contra a pluralidade democrática, com propostas como a redução do número de deputados, apresentada sob o verniz enganoso da “eficiência parlamentar”.
Mapa eleitoral: azul, laranja e o último bastião rosa
O novo mapa político português é um retrato sombrio para as forças progressistas. Da região norte ao centro, a AD (laranja) dominou. Do Alentejo ao Algarve, o Chega (azul) tomou conta. Apenas Évora resistiu, pintada de rosa, como último reduto socialista.
O avanço da direita e da extrema-direita revela um cenário preocupante — não só pela guinada conservadora nas urnas, mas pela normalização midiática de projetos autoritários.
O Carioca esclarece
Quem são “Os Verdes” e por que perderam representação?
O Partido Ecologista Os Verdes integra a coligação CDU e é uma das poucas forças com histórico pacifista e ambientalista no Parlamento português. Sem votos suficientes, perderam a única vaga que ocupavam desde 1991.
Por que os Verdes acusam a mídia?
Segundo o PEV, a imprensa portuguesa deu cobertura desproporcional ao Chega, transformando um partido de extrema-direita em protagonista político, sem o devido escrutínio crítico.
Quais as consequências do crescimento do Chega?
Aumento da presença de um partido com discurso autoritário no Parlamento, riscos à Constituição, aos serviços públicos e aos direitos sociais já conquistados desde a Revolução dos Cravos.
Como isso afeta a democracia portuguesa?
Com a normalização da extrema-direita, a democracia lusitana entra em modo de alerta: valores como pluralismo, igualdade e liberdade de imprensa estão sob ameaça.