Washington – Donald Trump voltou a usar a velha tática da ameaça seguida de autopromoção como se fosse gesto diplomático. Neste domingo (25 de maio), o presidente dos Estados Unidos anunciou que adiará até 9 de julho a imposição de tarifas de 50% sobre produtos da União Europeia, após um telefonema com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Ele afirmou que a conversa foi “muito agradável” — como se um blefe econômico de proporções bilionárias pudesse ser suavizado com gentilezas ao telefone.
A ofensiva tarifária, que começou com um aviso de 90 dias em abril, saltou de 20% para 50% como forma de punição pela suposta “injustiça” da UE contra empresas americanas. Em sua cruzada protecionista, Trump acusa o bloco europeu de impor regulações e processos legais que prejudicam o mercado dos EUA — uma ladainha conhecida, vinda de um ex-presidente que trata o comércio internacional como tabuleiro de vaidade.
Trump ameaça, depois sorri: o teatro das tarifas
A escalada começou na sexta-feira (24), quando Trump soltou o verbo contra o que chamou de “atraso nas negociações” com os europeus. Em vez de buscar soluções multilaterais, preferiu o caminho da coação: ameaçou impor pesadas tarifas sobre produtos europeus que, segundo ele, minam a competitividade americana. A nova rodada de tarifas teria impacto direto sobre cerca de US$ 321 bilhões em comércio bilateral de bens.
Mas bastou um telefonema para que Trump recuasse. Não por espírito pacificador — mas porque a própria União Europeia correu para tentar evitar a explosão do conflito.
Europa age rápido (demais?) para evitar crise
A presidente Ursula von der Leyen foi direta no X (antigo Twitter): “A Europa está pronta para avançar nas negociações de forma rápida e decisiva”. Mas alertou: um acordo até 9 de julho ainda exigirá tempo. A data marca o fim da trégua tarifária imposta unilateralmente por Trump em abril, após ele já ter subido a temperatura com o anúncio das tarifas iniciais de 20%.
Na tentativa de estancar a crise antes que ela se consolidasse, Maros Sefcovic, chefe de comércio da UE, telefonou na sexta-feira (24) para o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. O objetivo era reforçar uma proposta comercial revisada, apresentada na semana passada pelos europeus. Uma jogada arriscada — ao oferecer novas concessões, a UE parece disposta a ceder antes mesmo de Trump de fato pressionar.
Impacto bilionário e inflação global
O blefe tarifário de Trump tem consequências que vão muito além da retórica. Segundo projeções da Bloomberg Economics, a implementação das tarifas de 50% poderia derrubar o PIB dos EUA em até 0,6% e elevar os preços ao consumidor em mais de 0,3%. Para um país já lidando com inflação resistente e crescimento instável, a medida seria como atirar no próprio pé — algo que Trump parece disposto a fazer, desde que consiga posar de herói protecionista.
Na Europa, a resposta a tarifas desse tamanho também seria inflamada. Tarifas retaliatórias e ruptura de cadeias produtivas são apenas os primeiros reflexos previsíveis. Para além das cifras, o maior risco é o aprofundamento de uma mentalidade bélica no comércio internacional — onde a negociação dá lugar à intimidação, e o multilateralismo é atropelado por impulsos pessoais de um líder populista.
Mais um episódio do “Trump Show”
A estratégia de Trump é conhecida: cria uma crise, ameaça explodir o mundo, e depois se apresenta como o bombeiro que evitou a tragédia. É um enredo ensaiado desde seus tempos de reality show, agora transposto para a geopolítica global. E a União Europeia, pressionada pelas eleições parlamentares e pela guerra na Ucrânia, parece disposta a engolir o teatro — pelo menos por mais 45 dias.
Mas até quando o mundo aceitará esse tipo de chantagem tarifária? A postergação das sanções não resolve o problema. Apenas adia a crise para um momento mais conveniente — ou mais útil eleitoralmente — para Donald Trump, que já usa a retórica do “prejuízo causado pela Europa” como combustível para sua nova campanha presidencial.
O Carioca esclarece
Quem é Maros Sefcovic e qual seu papel nas negociações?
É o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelas relações interinstitucionais e comércio. Atua como principal interlocutor com os EUA na tentativa de conter a escalada tarifária.
Por que Trump ameaça tarifas contra a União Europeia?
Ele alega que a UE adota práticas “injustas” contra empresas americanas, como regulações e processos judiciais que limitariam a competitividade dos EUA.
Quais as consequências econômicas das tarifas de 50%?
Segundo estimativas, o PIB dos EUA pode cair 0,6%, e os preços ao consumidor subir 0,3%. Também há risco de retaliação da UE e agravamento das tensões comerciais globais.
Como isso afeta a democracia e o comércio global?
Ao adotar táticas coercitivas unilaterais, Trump enfraquece os mecanismos multilaterais de negociação e alimenta um ambiente de confronto e imprevisibilidade econômica.