BOGOTÁ, COLÔMBIA – 7 de junho de 2025 – O senador e pré-candidato à presidência Miguel Uribe Turbay, principal nome da extrema direita na Colômbia, foi baleado nas costas durante um ato de campanha neste sábado (7), em Bogotá.
O atentado ocorreu em plena luz do dia, no bairro de Fontibón, próximo ao Aeroporto Internacional El Dorado, escancarando a escalada da violência política às vésperas das eleições de 2026. O estado de saúde do político é considerado grave.
As imagens que circulam nas redes sociais mostram Uribe com o rosto ensanguentado, atendido às pressas por sua equipe de segurança. A tentativa de homicídio já mobiliza os principais setores do Estado, incluindo as Forças Armadas, a Polícia Nacional e os serviços de inteligência.
Alvo emblemático da disputa ideológica
Miguel Uribe Turbay, de 39 anos, representa o que há de mais aguerrido na ala conservadora do país. Ligado ao Centro Democrático, partido fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, o senador personifica a reação da elite colombiana ao governo progressista de Gustavo Petro, atual presidente.
Uribe defende uma agenda ultraliberal, com redução de impostos para grandes corporações, enxugamento do Estado, repressão militar nas escolas públicas e desmonte de políticas ambientais. Sua retórica incessantemente anticomunista o coloca em sintonia com figuras como Jair Bolsonaro, no Brasil, e Javier Milei, na Argentina.
A tentativa de assassinato, ainda não reivindicada, interrompe uma ofensiva pública de Uribe contra a proposta de Petro de realizar uma reforma trabalhista por meio de consulta popular. O senador havia ameaçado judicializar os ministros que endossassem a iniciativa, alegando “prevaricação” e abuso de poder.
Dinastia política marcada pela violência
Nascido em 1986, Miguel Uribe carrega um sobrenome pesado. É neto do ex-presidente Julio César Turbay Ayala (1978–1982), expoente da direita colombiana no século XX, e filho da jornalista Diana Turbay, assassinada por um grupo ligado a Pablo Escobar em 1991, após ser sequestrada por cobrir negociações sobre a extradição de narcotraficantes para os EUA.
A biografia de Uribe é, portanto, marcada por dois legados: o político, da casta liberal-conservadora colombiana; e o traumático, vinculado à violência do narcotráfico e à permanente instabilidade institucional do país.
A tragédia pessoal virou bandeira de campanha. Em suas redes sociais, Uribe costuma explorar a narrativa da “liberdade ameaçada” por “governos esquerdistas” e evocar a memória da mãe como símbolo de uma Colômbia que, segundo ele, está sob ataque do “comunismo internacional”.
Reações oficiais e cerco ao extremismo
A Presidência da Colômbia condenou o ataque em nota divulgada no X (antigo Twitter), afirmando que “o atentado não é apenas contra o senador, mas contra a democracia e o exercício legítimo da política”. O ministro da Defesa, Pedro Sánchez, anunciou uma recompensa de US$ 728 mil por informações sobre os autores do crime.
O presidente Gustavo Petro, alvo constante das investidas de Uribe, reagiu de forma simbólica e emocional: “Querem matar o filho de uma árabe em Bogotá, que já haviam assassinado… Matam o filho e a mãe. Não se deve matar no coração do mundo”, escreveu.
A frase, carregada de crítica à normalização da barbárie, alude à mãe de Uribe, de origem libanesa, e ao ciclo infinito de violência política na Colômbia, país que já testemunhou os assassinatos de múltiplos presidenciáveis, como Luis Carlos Galán (1989), Jorge Eliécer Gaitán (1948) e Carlos Pizarro (1990).
Polarização extrema e riscos à democracia
O atentado contra Miguel Uribe lança uma nova sombra sobre o processo eleitoral colombiano. A combinação de extremismo político, paramilitarismo e campanhas de desinformação ameaça empurrar o país para um colapso institucional.
Em 2022, Petro venceu com uma coalizão de esquerda inédita no país. Desde então, enfrenta um Congresso hostil, uma mídia corporativa alinhada com o uribismo e uma série de sabotagens judiciais e administrativas. Uribe, nesse contexto, tornou-se o principal porta-voz do revanchismo conservador.
Seu estilo agressivo, replicando estratégias de guerra cultural similares às da alt-right norte-americana, o transformou num fenômeno de mobilização nas redes. Mas também o tornou um símbolo do radicalismo político que mina o debate público e estimula o ódio como plataforma eleitoral.
O Carioca Esclarece
Por que Miguel Uribe é considerado figura-chave da extrema direita?
Uribe combina três elementos centrais do extremismo de direita latino-americano: culto à autoridade, ataque sistemático à esquerda e deslegitimação das instituições democráticas quando ocupadas por adversários. Seu vínculo direto com o uribismo — doutrina de Álvaro Uribe Vélez — o coloca no epicentro do reacionarismo colombiano.
O atentado pode alterar o rumo das eleições colombianas?
Sim. Atos de violência política frequentemente provocam realinhamentos eleitorais. Uribe pode ganhar capital simbólico como “mártir da direita”, enquanto Petro poderá ser responsabilizado, ainda que indiretamente, pelo clima de instabilidade. O episódio tende a radicalizar ainda mais a campanha.
A Colômbia vive uma nova era de violência política?
A violência nunca desapareceu completamente da política colombiana. O que se vê agora é sua transformação: do conflito armado rural para a disputa institucional urbana, com ataques seletivos contra lideranças. Grupos extremistas, interesses paramilitares e forças clandestinas continuam ativos e influentes, inclusive dentro do aparato estatal.