Madeleine em risco: Israel tenta abafar ajuda humanitária liderada por Greta Thunberg
Roma, Itália | 8 de junho de 2025 – O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ordenou neste domingo que as Forças de Defesa interceptem a embarcação Madeleine, que transporta ajuda humanitária à Faixa de Gaza e é tripulada por ativistas internacionais, entre eles a sueca Greta Thunberg. A medida agrava o cerco israelense a qualquer esforço civil de rompimento do bloqueio a Gaza, mesmo quando motivado por razões humanitárias.
A embarcação, operada pela coalizão internacional Flotilha da Liberdade, zarpou da Itália com uma carga simbólica de alimentos e medicamentos rumo ao território palestino sitiado. Entre os passageiros estão também o brasileiro Thiago Ávila e o ator irlandês Liam Cunningham, totalizando 12 tripulantes em missão pacífica que visa desafiar o bloqueio israelense considerado ilegal por diversas resoluções internacionais.
Katz, em tom de ataque pessoal e ideológico, chamou Greta de “antissemita” e acusou os ativistas de propagar “propaganda do Hamas”. A ordem de interceptação foi dada mesmo com a embarcação navegando em águas internacionais.
Bloqueio militar como doutrina de Estado
A declaração de Katz deixa claro que o governo israelense trata iniciativas civis com viés humanitário como ameaças militares. “Instruí o Exército a agir para que o Madeleine não chegue a Gaza”, disse o ministro, acrescentando que a tripulação será deportada após a interceptação e escoltada até o porto de Ashdod, em Israel.
O objetivo declarado do bloqueio naval imposto por Tel Aviv desde 2007 é impedir o suposto fornecimento de armas ao Hamas. Na prática, o bloqueio transforma toda a Faixa de Gaza em uma prisão a céu aberto, onde alimentos, remédios e combustível são controlados como armas de guerra.
A embarcação Madeleine, de bandeira britânica, se encontra atualmente a 160 milhas náuticas da costa palestina. Após a sabotagem de outra embarcação da mesma flotilha – bombardeada por drones anônimos próximos a Malta – a tensão se intensificou.
Ativistas denunciam crime de guerra anunciado
Em vídeo gravado a bordo, o ativista Thiago Ávila afirmou que o ataque anunciado por Israel “admite publicamente a intenção de cometer um crime de guerra, ao impedir o fornecimento de ajuda humanitária essencial à população civil”.
Ele citou decisões da Corte Internacional de Justiça e do Conselho de Segurança da ONU, que consideram a interrupção deliberada de ajuda humanitária em zonas de guerra uma violação do direito internacional. “Israel está ilegal. Nós estamos agindo dentro da legalidade e da legitimidade da resistência pacífica e da solidariedade internacional”, disse Ávila.
Ele denunciou ainda o caráter genocida do bloqueio imposto há 18 anos. “Israel quer matar crianças de fome, bombardear escolas e hospitais, eliminar o futuro de um povo inteiro. Nós viemos dizer: não em nosso nome.”
ONU denuncia fome generalizada em Gaza
Desde o início da ofensiva militar israelense em outubro de 2023, mais de 54 mil palestinos foram mortos, a maioria mulheres e crianças. O bloqueio à entrada de ajuda humanitária levou a fome generalizada entre os 2,3 milhões de habitantes de Gaza, segundo alertas sucessivos da Organização das Nações Unidas.
Apesar disso, Israel anunciou recentemente a construção de 22 novos assentamentos ilegais na Cisjordânia, onde mais de 700 mil colonos vivem em áreas reconhecidas como palestinas pelo direito internacional.
O ministro Israel Katz insiste que o bloqueio naval é essencial para a segurança de Israel, ignorando o impacto catastrófico sobre a população civil palestina. “Não permitiremos que ninguém quebre o bloqueio naval”, disse, ao mesmo tempo em que seu governo recusa acordos de cessar-fogo e promove a destruição sistemática da infraestrutura de Gaza.
EUA vetam cessar-fogo, Hamas aceita entregar governo
Enquanto isso, o Hamas afirmou estar disposto a entregar o controle do governo de Gaza a um “ator palestino consensual” caso a ofensiva israelense seja interrompida. Mesmo assim, os Estados Unidos vetaram mais uma vez uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que exigia cessar-fogo permanente e imediato – os outros 14 países votaram a favor.
O veto norte-americano legitima a escalada da destruição, blindando Israel contra sanções ou investigações. É nesse cenário de impunidade diplomática e cerco informacional que embarcações como a Madeleine se tornam atos políticos de visibilidade internacional.
O Carioca Esclarece
Por que Israel considera ilegal a missão da embarcação Madeleine?
Israel trata qualquer tentativa de furar o bloqueio a Gaza como ameaça à sua segurança, mesmo que a carga seja exclusivamente humanitária. A alegação é que ações como essa podem ser usadas como fachada para contrabando de armas ao Hamas – o que nunca foi comprovado nos casos anteriores da Flotilha da Liberdade.
Greta Thunberg pode ser presa por tentar ajudar Gaza?
Em tese, não. A embarcação está em águas internacionais e não há mandado internacional contra os ativistas. No entanto, Israel já deteve e deportou ativistas anteriormente em circunstâncias semelhantes. A presença de Greta amplia a visibilidade do caso e pode dificultar ações arbitrárias.
A missão da Madeleine pode forçar um recuo diplomático de Israel?
É improvável, mas o impacto simbólico e midiático é significativo. Israel busca controlar a narrativa e ações como essa desestabilizam a propaganda oficial. Se o barco for interceptado com violência, o caso pode reacender o debate internacional sobre o genocídio em curso em Gaza e a cumplicidade das potências ocidentais.