9 de junho de 2025 – Washington, EUA
Em meio a protestos crescentes na Califórnia contra deportações em massa e abusos policiais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escalou a retórica autoritária e acusatória nesta segunda-feira (9), ao afirmar que seu governo está tentando “evitar uma guerra civil” no país. Em tom agressivo, o republicano atacou diretamente o governador do estado, Gavin Newsom, a quem chamou de “extremamente incompetente” e sugeriu que deveria ser preso.
As declarações ocorrem no momento em que milhares de manifestantes ocupam as ruas de cidades como Los Angeles, San Diego e San Francisco, denunciando as batidas imigratórias promovidas por autoridades federais aliadas de Trump. A tensão social é agravada pela militarização das fronteiras e pelo uso da força contra comunidades latinas e asiáticas, que relatam perseguição política e racial.
Trump ativa discurso bélico e autoritário
A pergunta de um jornalista sobre a acusação feita por Gavin Newsom, de que Trump desejaria uma guerra civil, foi respondida com sarcasmo e ameaça velada. “Não, é exatamente o oposto. A guerra civil aconteceria se deixássemos isso nas mãos de pessoas como ele”, disse o presidente, insinuando que o caos seria culpa dos governadores que resistem às suas diretrizes.
Trump ainda fez menção direta ao ex-diretor da agência de imigração, Tom Homan, sugerindo que este deveria prender o governador democrata. “Ele é um cara legal, mas extremamente incompetente. Todo mundo sabe disso. Basta olhar para a pequena ferrovia que ele está construindo.” A crítica faz referência ao projeto de trem de alta velocidade da Califórnia, alvo frequente da ala trumpista.
A fala presidencial causou repúdio imediato em setores democratas e progressistas, que enxergam na retórica de Trump uma tentativa de criminalizar a oposição e usar o aparato federal para fins de intimidação política.
Califórnia se torna epicentro da resistência
Os protestos que eclodiram no início do ano após novas medidas de deportação se intensificaram nas últimas semanas, com denúncias de violações de direitos humanos, detenções arbitrárias e perseguição racial. Cidades californianas viram o aumento da presença da ICE (Imigração e Alfândega), acompanhada de forças policiais locais treinadas com recursos federais.
A atuação dessas forças é parte de uma ofensiva coordenada por setores ultraconservadores do governo Trump, que incluem conselheiros ligados ao ideólogo Steve Bannon e figuras influentes da mídia de extrema direita. O objetivo, segundo analistas, seria forçar um ambiente de “lei e ordem” que justifique medidas excepcionais de repressão.
Gavin Newsom, por sua vez, tem adotado posição de confronto institucional com Washington, defendendo “santuários migratórios” e financiando assistência jurídica a imigrantes ameaçados de deportação.
Acusações de golpe branco e uso eleitoral da violência
Especialistas em direito constitucional e segurança interna alertam que o discurso de Trump pode estar preparando terreno para uma nova escalada autoritária em ano eleitoral. A evocação de uma “guerra civil” serve, segundo eles, como instrumento de chantagem política e mobilização de sua base radicalizada.
A Califórnia, maior colégio eleitoral do país e símbolo do progressismo norte-americano, se tornou alvo prioritário do trumpismo, tanto por razões ideológicas quanto por seu peso econômico e midiático.
“Trump usa a figura de Newsom como espantalho para instigar o medo e justificar o uso da força. Ele sabe que não vencerá o voto popular, então aposta no caos institucional”, avalia a cientista política Naomi Klein, que também relaciona a retórica presidencial ao avanço de políticas neofascistas em outros países ocidentais.
O Carioca Esclarece
Donald Trump pode realmente mandar prender um governador?
Não. A Constituição dos EUA impede o presidente de ordenar a prisão de um governador sem o devido processo judicial. Apenas o sistema judiciário estadual ou federal pode autorizar tal ação com base em evidências criminais sólidas. A sugestão de prisão por parte de Trump tem caráter político e simbólico, mas configura ameaça institucional grave.
Por que Trump evoca a guerra civil agora?
A menção à guerra civil funciona como estratégia retórica para polarizar o eleitorado e justificar medidas autoritárias. Trump tenta mobilizar sua base sob a lógica de “nós contra eles”, retratando o governo da Califórnia como inimigo interno. Essa tática já foi usada por líderes populistas em momentos de instabilidade.
O que está em jogo nas deportações na Califórnia?
Trump pretende acelerar a expulsão de imigrantes sem documentação sob pretexto de segurança nacional. No entanto, há denúncias de que as operações visam comunidades inteiras por perfil étnico, não por histórico criminal. A Califórnia, por sua diversidade e legislação protetiva, virou um campo de batalha entre o governo federal e os defensores dos direitos civis.
