RIO DE JANEIRO – 14 de junho de 2025 – O pastor extremista Anderson Silva, fundador da seita ultraconservadora “Machonaria”, está no centro de uma crise explosiva. Acusado por ex-integrantes de desviar mais de R$ 500 mil, o religioso bolsonarista enfrenta denúncias de corrupção, má gestão e abuso de poder dentro do próprio movimento que criou — uma confraria que prega a chamada “masculinidade bíblica”.
A denúncia partiu de 18 pastores, que romperam coletivamente com a organização no mês passado. Segundo eles, a decisão foi motivada pela falta de transparência financeira, atrasos no pagamento de salários, férias, contas e impostos, além do desvio sistemático de recursos que deveriam ser destinados a projetos sociais.
Mesmo com uma arrecadação de mais de R$ 626 mil só em 2023, as dívidas se acumularam e boa parte dos projetos foi simplesmente cancelada. O dinheiro vinha de eventos, rifas, doações e venda de produtos — mas, segundo os dissidentes, acabou indo parar sabe-se lá onde.
Tentativas de diálogo com Anderson Silva foram ignoradas, e os pastores decidiram romper em definitivo. Não é a primeira vez que o líder religioso se vê cercado de escândalos. Antes, já havia sido afastado da igreja que ele próprio fundou, sob acusações semelhantes.
Quem é Anderson Silva?
Anderson Silva não é apenas mais um pastor. É um dos nomes mais barulhentos do bolsonarismo evangélico. Em 2023, chocou até setores conservadores ao sugerir, durante um podcast, que fiéis orassem para “quebrar a mandíbula de Lula” e pedissem a Deus para “prostrar ministros do STF no leito de enfermidade”.
“O Senhor está rindo. Rindo por quê? Porque Ele pode destruir qualquer imperador da Terra”, disse, citando os salmos. Em seguida, disparou:
— “Falta a gente orar assim: Senhor, arrebenta a mandíbula do Lula. Prostra enfermos os ministros do STF.”
Pouco depois, anunciou que deixaria o comando da igreja “Vivo por Ti”, onde esteve por 16 anos. Alegou diagnóstico de TDAH e autismo como justificativa, mas nos bastidores o afastamento teria sido motivado pela crescente rejeição às suas falas violentas e extremistas.
Bolsonarista arrependido? Nem tanto.
Apesar de ter sido linha de frente na campanha de Jair Bolsonaro (PL), Anderson Silva disse em 2024 que se arrependeu de ter ajudado a “bolsonarizar a igreja”. Mas o discurso radical permanece.
No próprio meio evangélico, acumula inimizades. Já chamou o coach e também autoproclamado pastor Pablo Marçal de “filho de Satanás, um salafrário”, acusando-o de usar a fé para enriquecer. Sobre o deputado pastor Marco Feliciano (PL-SP), disparou:
— “Todo pastor famoso sabe que Feliciano é um dos pastores mais sexualmente imorais do nosso país.”
Nem mesmo o influente Silas Malafaia escapou das críticas. Segundo Anderson, Malafaia “há muito tempo poderia ter parado Feliciano”, mas preferiu se omitir.
As polêmicas sobre sexualidade
Em outra polêmica recente, Anderson Silva afirmou que homens viciados em pornografia acabam, sem perceber, consumindo conteúdo com pessoas trans. Citando supostos dados, disse que “65% dos vídeos assistidos por homens brasileiros envolvem o universo trans”.
Diante de uma plateia, ironizou:
— “Tu estás tão gay que nem percebeu que gosta é de mandioca.”
A fala veio na esteira do lançamento do projeto “Escola Uma Só Carne”, no qual ele e a esposa, Keila Silva, ensinam casais cristãos a terem uma vida sexual “segundo a bíblia”. O detalhe que chocou parte da comunidade evangélica: palestras recheadas de lingeries, próteses e acessórios sexuais dispostos na mesa.
— “Aquilo que Deus criou, que não é pecado, é um ato de louvor. Quer você entenda ou não”, disse no evento.
Crise, debandada e investigações
O racha na “Machonaria” virou escândalo público. Documentos e prints divulgados nas redes sociais mostram pastores cobrando explicações sobre o destino dos recursos. Há relatos de que fornecedores não receberam, funcionários estão sem salários e projetos sociais foram abandonados.
O caso está mobilizando autoridades e pode resultar em investigação criminal por apropriação indébita e estelionato.
O Diário Carioca segue acompanhando os desdobramentos desse caso que escancara as relações perigosas entre religião, política e dinheiro no Brasil.
O Carioca Esclarece
A “Machonaria” não é uma igreja formal, mas uma associação religiosa sem CNPJ e sem fiscalização, o que dificulta o rastreio do dinheiro arrecadado.
Entenda o Caso
Quem é Anderson Silva, da ‘Machonaria’?
Pastor extremista, ex-bolsonarista arrependido, fundador da ‘Machonaria’, conhecido por discursos de ódio, polêmicas sexuais e agora acusado de desviar R$ 500 mil.
O que é a ‘Machonaria’?
Movimento religioso criado por Anderson Silva que defende a chamada ‘masculinidade bíblica’. Funciona sem CNPJ, como uma confraria privada.
Anderson Silva pode ser preso?
Se confirmadas as denúncias de desvio de dinheiro e apropriação indébita, ele pode responder criminalmente. As investigações estão em andamento.