Simple Plan encerra festival com anti-clímax e ‘coitadolândia’

O Simple Plan acenou para uma audiência que enfrentou muita coisa para poder cantar “I’d Do Anything”, tema de abertura do último show da noite de sábado (2), do I Wanna Be Tour e do primeiro álbum “No Pads, No Helmet… Just Balls”, de 2002.

Pra quem não sabe, a banda historicamente viveu uma história de amor com o público brasileiro: desfilou uma série de hits que eram transmitidos pela MTV ou baixados em peer-to-peer, torrent ou no mIRC. Se você não sabe o que MTV ou mIRC significam, não se assuste: muitos dos que gritavam a cada interação do vocalista Pierre Bouvier também não fazem ideia. Nem disso nem do fato de que a banda já tocou em um “Big Brother Brasil”.

Por isso, as vozes adolescentes que ecoavam no Allianz Parque vinham de ambas as direções: da plateia e do palco —as cordas vocais de Bouvier fazem sua voz parecer jovial até demais.

Se o show dos brasileiros do NX Zero transformou o estádio alviverde em uma celebração do hoje, os canadenses soaram, ainda, como se estivessem na primeira década dos anos 2000. Os ganchos simplórios para os refrães de canções como “Jet Lag” ou “Jump” fizeram a alegria de quem, agora, queria mesmo era terminar a festa em puro algodão doce da nostalgia.

Por isso, talvez, a sensação nesta arena emo era de uma empolgação mais cansada, típica da nostalgia quando encaramos o espelho e sentimos a força do tempo. Aqui, além disso, os fãs que ficaram o dia inteiro no estádio sentiram também os agentes que marcaram presença no I Wanna Be Tour: calor, corredores mal organizados, funcionários confusos, filas grandes de banheiros e pipoca como principal quitute ambulante para quem não queria enfrentar as filas das lanchonetes.

Mesmo com os singles da banda na ponta da língua, momentos como “Addicted”, por exemplo, davam a deixa de que a situação ia se tornar uníssona mesmo quando chegassem os grandes planos da noite. E dizendo “muito, muito obrigado, tá tudo muito bonito nesta noite”, o Simple Plan brindou o público com o sentimento com que muitos esticavam suas franjas tempos atrás.

O público esperou ansiosamente pela apresentação, a última da noite de sábado (Taiz Dering/Billboard BR)

“No, you don’t know what it’s like/ When nothin’ feels alright/ You don’t know what it’s like to be like me”, diz o finalzinho do refrão antes de estourar na frase “Welcome to my life”, que dá nome ao maior sucesso da banda. Você já se sentiu assim? O coral respondia que sim e alguns se olhavam como “nossa! lembra?”. Outros se abraçavam como que dizendo “estou por aqui, vamos juntos”.

No fundo, o envelhecimento emo é uma vantagem para os dois lados dessa festa. “Pra mim, isso tudo parece como um paraíso”, diz Pierre antes de “Summer Paradise” e de jogar um balão para que os fãs ficassem brincando. Afinal, se é para terminar um festival com acordes tão, desculpe, simples, que pelo menos tudo vire um salão de festas.

Enquanto as bolas quicavam e alguém da plateia se sentia mal, a banda parou a exibição, ofereceu água e viu os próprios fãs congelarem a brincadeira até que o paraíso emo voltasse a ser paradisíaco.

Fora isso, foram poucos momentos que trouxeram uma sensação que suprisse algo a mais que a carência dos fãs dos canadenses. O repertório da banda trouxe até “What’s New Scooby Doo”, insossa ao vivo como já era na época de seu lançamento, em 2002, para a série de mesmo nome. Aí virou “Festa Ploc”: teve Mamonas Assassinas (“Vira-Vira”) e um bando de gente vestida de personagem da Hannah Barbera no palco. Ninguém pediu, mas teve.

Pra quem viu o show anterior do NX Zero, a impressão era de categorias diferentes de artistas.

Com isso posto, restou à banda um medley de “All Star” (Smash Mouth) com “Sk8er Boi” (Avril Lavigne) e “Mr. Brightside” (The Killers) como últimas tentativas de fazer uma festa no país “das caipirinhas e dos pães de queijo”, como enfatizado no palco. A junção de covers trouxe alguma empolgação para o ato final.

Com a sensação agridoce causada pelo show e acampado no gramado alviverde, o público nem notou o silêncio no palco à espera de um pedido de bis. Assim, a banda voltou a tocar mais um medley (“Crazy”, “Perfect World”, “Save You”, “This Song Saved My Life”) e “I’m Just a Kid” —com a participação de Di Ferrero, como aconteceu na noite anterior, também em São Paulo, e a aparição da bandeira e da camisa do Brasil, itens para dar aquele gás na reta final do show.

Ninguém pediu (ninguém mesmo), e eles entenderam que não era momento de tocar duas inéditas (“Gone Too Soon” e outra ainda sem nome) apresentadas em uma noite mais animada. A noite, assim, foi terminando com o uníssono de “Perfect”.

“Agora é tarde demais e não podemos voltar atrás”, diz a letra. Todos ali concordaram com a agridoce afirmação —e triste constatação de que era esse o show que estava geral esperando.

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