No país do “se a eleição fosse hoje…”, Lula investe no seu futuro

Os presidentes da Câmara dos Deputados (Arthur Lira, PP-AL) e do Senado (Rodrigo Pacheco, PSD-MG) pularam uma fogueira ao desistir de acompanhar Lula e seus ministros em viagem ao Rio Grande do Sul, flagelado pelas inundações.

Valeram-se da desculpa de que tinham mais o que fazer em Brasília, onde o Congresso votaria o projeto para suspender por três anos o pagamento da dívida do Rio Grande. O presidente do Supremo Tribunal Federal foi com Lula.

Esta foi a terceira visita de Lula ao Rio Grande do Sul em menos de 15 dias. Nas anteriores, ele limitou-se a anunciar as primeiras medidas de ajuda ao Estado. Foi elogiado por aliados e desafetos que aprovaram seu comportamento.

Agora, Lula desembrulhou um novo pacote de medidas mais ambicioso, mas em compensação, deu margem para que o acusassem de tentar politizar a tragédia que afetou 452 dos 497 municípios do Estado, matando até aqui 149 pessoas.

O trecho mais marcante de um dos seus discursos foi este:

“Eu vou viver até 120 anos. Já falei para o homem lá em cima: não estou a fim de ir embora. Penso em disputar umas 10 eleições. Mas hoje é um dia feliz porque conseguimos aprovar as coisas que precisávamos. Não é nenhum favor, é necessidade de a gente olhar os 203 milhões de brasileiros como irmãos”.

Lula 3 é dado a atravessar a rua para pisar em cascas de banana. Diz coisas que não combinam com a ocasião. Mas o que abriu a brecha para críticas foi nomear o deputado Paulo Pimenta para ministro da Reconstrução do Rio Grande do Sul.

Pimenta é conhecido como um dos deputados mais linha dura do seu partido. Foi pela quarta vez o mais votado do PT no  Rio Grande do Sul. É candidatíssimo a governá-lo a partir de 2026, e não esconde.

Impossível que o PSDB do governador Eduardo Leite tenha gostado da nomeação de Pimenta, que o MDB do prefeito de Porto Alegre tenha gostado, e que os demais partidos alinhados a Bolsonaro tenham ficado satisfeitos.

O futuro do governo Lula está atrelado à recuperação do Rio Grande do Sul, como o de Bolsonaro esteve à pandemia da Covid-19. Se a recuperação for bem-sucedida, Lula e o PT terão garantido um lugar temporário no céu. Do contrário…

O Brasil é o único país onde pesquisas de intenção de voto são apresentadas assim: “Se a eleição fosse hoje…” Eleição nunca é hoje. Faltam cinco meses e pouco para as eleições municipais deste ano; para a presidencial, faltam 28 meses.

É tempo à beça para que tudo possa acontecer, inclusive nada; sem levar em conta o acaso que ninguém domina, mas que costuma aprontar.

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