O governo de Lula conta agora com um aspirante a Marechal de Ferro

Quem muito se expõe e acumula poder corre o risco em Brasília, mas não só aqui, de ser alvejado por uma bala perdida ou certeira. É o que deve saber, e se não souber, aprenda, Rui Costa, chefe da Casa Civil da presidência da República, por duas vezes governador da Bahia.

Ouvi de um dos seus admiradores (e eles são poucos) que Costa está se tornando o Marechal de Ferro do terceiro governo Lula. Exagero, é claro, mas exagerar ainda não é crime. Se fosse, estaria aos cuidados do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O alagoano Floriano Vieira Peixoto, nascido em Maceió (1834) e que morreu no Rio (1895), ficou conhecido como o Marechal de Ferro. Foi general, elegeu-se vice-presidente e assumiu a presidência com a renúncia do marechal Deodoro da Fonseca, seu colega de farda.

A Constituição de 1891 dizia no artigo 42: “Se, no caso de vaga, por qualquer causa, da saída da presidência ou vice-presidência, não havendo ainda decorrido dois anos do período eleitoral, proceder-se-á a uma nova eleição”. Floriano simplesmente ignorou a Constituição.

Governou com mão de ferro, enfrentou rebeliões, venceu todas elas e ajudou a consolidar a República proclamada por Fonseca, que era monarquista e amigo do Imperador Dom Pedro II. O período de governo de Floriano foi marcado pela violência e o personalismo em excesso.

Costa não governa, embora possa vir a ser candidato à sucessão de Lula se Lula quiser, em 2026 ou em 2030. Seu poder, portanto, é um poder delegado, como foi o de José Dirceu e o de Antonio Palocci no primeiro governo Lula, e o de Dilma Rousseff no primeiro e no segundo.

Lula não hesitou em guilhotinar Dirceu com o escândalo do mensalão do PT, e Palocci com o escândalo do caseiro que o viu em festas íntimas com mocinhas escolhidas a dedo por uma cafetina, e empresários interessados em fazer negócios com o governo.

Mas em matéria de importância, Costa está hoje para Lula como estiveram Dirceu, Palocci e Dilma no passado, e como não está, por ora, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que sequer foi consultado sobre a demissão recente do presidente da Petrobras.

Lula tem uma dívida impagável com Costa porque ele desistiu de uma eleição garantida para o Senado para facilitar na Bahia a composição política que Lula queria fazer, e fez. A Bahia deu a Lula 72% dos seus votos no segundo turno. Só deu menos do que o Piauí (77%).

Não é só por isso, no entanto, que Costa está tão forte. Lula admira sua lealdade e eficiência. O ministro Alexandre Padilha é quem coordena as ações políticas do governo, mas Costa é o principal interlocutor do deputado Arthur Lira, presidente da Câmara.

Centralizador, mal-humorado e sempre disposto a enfrentar qualquer parada, Costa convenceu Lula a demitir o presidente da Petrobras. Passará por ele a indicação dos novos diretores da empresa, como já passam todas as medidas para a reconstrução do Rio Grande do Sul.

A sucessão de Lira na presidência da Câmara também passará por Costa, pau para toda obra, e, hoje, um dos donos dos ouvidos de Lula; só perde para Janja. O naipe de conselheiros de Lula foi maior nos governos anteriores. Some-se a isso a solidão do poder que é grande e sempre será.

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