Descoberta chocante: fóssil de lagarto nos Alpes é uma falsificação

Um fóssil de lagarto com 280 milhões de anos intrigou a ciência por nove décadas — encontrado nos Alpes Italianos, ele não trazia só os ossos de uma curiosa espécie com cinco dedos, mas também seus tecidos moles, algo muito raro de se preservar. Com a ajuda da tecnologia, no entanto, paleontólogos descobriram algo chocante: o tal fóssil é uma falsificação.

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A não tão real criatura teria sido encontrada pelo engenheiro italiano e funcionário de museu Gualtiero Adami, nas proximidades da vila de Piné. Pequeno, com pescoço longo e cinco dedos em cada membro, o animal teve seus restos levados ao museu local, onde o geólogo Giorgio del Piaz definiu ser um gênero e espécie novos — Tridentinosaurus antiquus.

O fóssil foi analisado sob luz UV e com diversas técnicas não-invasivas, mostrando ser coberto de tinta (Imagem: Rossi et al./Palaeontology)
O fóssil foi analisado sob luz UV e com diversas técnicas não-invasivas, mostrando ser coberto de tinta (Imagem: Rossi et al./Palaeontology)

Contornando o corpo do suposto lagarto, havia uma coloração escura, o que se acreditava ser pele ou carne carbonizadas, talvez por uma explosão piroclástica de vulcão. Plantas fossilizadas com folhas e brotos carbonizados também foram encontradas na localidade, o que apoiou essa crença. 


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A farsa do fóssil

Só em 1959 a espécie foi completamente descrita — o cientista Piero Leonardi a colocou no grupo Protosauria, afirmando ser importante para o entendimento da evolução dos répteis, já que havia tecidos moles preservados no fóssil. Ele também seria o mais antigo encontrado nos Alpes, com 280 milhões de anos.

Para fins de preservação, no entanto, demorou para que técnicas modernas chegassem à análise dos restos. Foi só com técnicas não-invasivas, como mapas fotogramétricos, microscopia eletrônica, difração por micro raios-X e espectroscopias que o fóssil foi examinado a fundo.

O corpo todo brilhou com fluorescência quando exposto à luz UV, o que não aconteceu com as plantas fossilizadas da mesma região também estudadas — um tipo de brilho que ocorre com tintas, colas, vernizes e outros tipos de pigmento artificial. Não havia, também, evidências de melanina fossilizada, o que se espera de tecidos moles.

Valentina Rossi, principal autora do estudo, mostrando uma fotografia do fóssil falsificado descoberto (Imagem: Zixiao Yang)
Valentina Rossi, principal autora do estudo, mostrando uma fotografia do fóssil falsificado descoberto (Imagem: Zixiao Yang)

Para completar, tecido mole preservado geralmente fica achatado, e o T. antiquus mostrou muitas variações topográficas na região do contorno enegrecido.

Tudo indicou uma preparação mecânica, talvez em um esforço mal sucedido de expôr mais do esqueleto na rocha. Uma ou mais camadas de tinta foram aplicadas no fóssil, com a textura sendo igual à usada em pinturas históricas, ou seja, baseada em carbono com algum elemento de ligação orgânico. 

Como a farsa durou tanto tempo?

Uma explicação está na maneira como fósseis eram tratados em 1931. Era basicamente a norma tratar fósseis com tintas e vernizes, única forma de proteger os restos de maior deterioração, além de, às vezes, servir para embelezar os restos.

No caso do fóssil falsificado, a preparação mecânica fez a maior parte dos danos, com a tinta dando a ilusão de ser um tipo de lagarto. Agora, questiona-se a validade da determinação de espécie dos restos, que foi baseada em medições de seu corpo. Parte do fóssil é realmente genuína, com alguns ossos preservados, mas é difícil dizer a qual espécie pertenceria, já que o que resta está em mau estado.

Algumas práticas já não são mais aceitáveis atualmente, lembram os cientistas responsáveis pela revelação, e por isso é importante descrever detalhadamente os métodos usados nas caracterizações de animais preservados.

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