Por onde andam Sullivan & Massadas? Compositores de sucessos da MPB ganham doc

O médico, filósofo e astrólogo Nostradamus (1503-1566) previu a chegada de três anticristos ao mundo. O primeiro teria sido o general francês Napoleão Bonaparte (1769-1821), que por pouco não dominou toda a Europa. O segundo, o austríaco Adolf Hitler (1889-1945), cujo nome dispensa apresentações. Já o terceiro… para a crítica e grande parte do consumidor da chamada alta MPB, não era uma pessoa, mas a dupla formada pelos cantores e compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas, que estrelam o documentário “Sullivan & Massadas: Retratos & Canções”. Dirigida por André Barcinski para o Globoplay, a série em cinco episódios repassa a trajetória de compositores que conquistaram o país.

Autores de sucessos como “Retratos e Canções”, gravada por Sandra de Sá, “Um Dia de Domingo”, que estourou nas vozes de Gal Costa (1945-2022) e Tim Maia (1942-1998),  e “Deslizes”, com Fagner, além de músicas infantis e até canção-tema de programa dominical, eles foram acusados de transformar a música brasileira de qualidade uma coleção de baladas insossas, com arranjos “pasteurizados” (seja lá o que for isso: Lincoln Olivetti, o talentoso arranjador que trabalhou em muitos hits da dupla, dizia que não era leite para ser pasteurizado).

A história, contudo, tem dado o devido reconhecimento ao talento de Sullivan e Massadas. Os dois são saudados pelas novas gerações como artífices de um pop genuinamente brasileiro.

A vida nunca foi fácil para o pernambucano Ivanilton de Souza Lima e para o carioca Paulo César de Guimarães Massadas. O primeiro migrou da sua terra natal para o Rio, a fim de fazer sucesso na carreira musical. Dormiu em banco de praça, foi crooner do grupo Renato & seus Blue Caps até que, em 1976, criou a canção em inglês “My Life”.

A composição foi escolhida para tema da novela “Casarão”, da Rede Globo. E como não existia cantor gringo chamado Ivanilton (eram tempos dos falsos gringos, onde até Fábio Jr. era conhecido como Mark Davis), ele recebeu uma lista telefônica de Nova York a fim de criar seu pseudônimo. O Michael foi uma homenagem ao ídolo Michael Jackson e Sullivan veio da tal lista. Pronto, nascia então o cantor Michael Sullivan.

Paulo Massadas, por seu turno, era baixista e vocalista do grupo de baile do tecladista Lincoln Olivetti (1954-2015). Testemunhas dizem que ele imitava Robert Plant, do Led Zeppelin, de modo exemplar. Massadas fez teste para a banda de Sullivan quando este invadiu as paradas com “My Life”, no final dos anos 1970. O encontro deu início à parceria, que começou a fazer barulho em 1984 com a canção “Me Dê Motivo”, gravada por Tim Maia.

O repertório composto de canções acessíveis, somado à onipresença da dupla nas rádios fez com que eles fossem alvo do ódio da crítica musical. Para os jornalistas da época, Sullivan e Massadas era sinônimo de uma música vazia e sem valor artístico.

Massadas tem uma explicação para o sucesso dele e do parceiro. Com o final da ditadura, em 1985, o público queria escutar músicas de temas menos pesados que as criadas durante aquele período. O público queria que seus cantores prediletos falassem de amor –um tema que a dupla dominou como poucos.

Um dos principais feitos do especial de André Barcinski foi reunir Michael Sullivan e Paulo Massadas depois de mais de duas décadas afastados (Paulo mora hoje nos Estados Unidos). O outro está em dividir a trajetória da dupla em temas como novelas, música infantil e canções que fizeram sucesso nas rádios, com depoimentos de gente como Roberto Carlos, Gal Costa e trazer um especial musical, no qual a dupla Anavitória e o cantor e compositor Zeca Baleiro, entre outros, interpretam temas da dupla.

E como o mundo não se acabou, eles de modo algum merecem ser chamados de anticristos.

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