Vini Jr e Davi Brito – Dois heróis de carne e osso

No Campeonato Espanhol, Vini Jr comemorou o seu gol com punhos cerrados no Estádio Mestalla, onde sofreu fortes ataques racistas. Por aqui, o motorista de aplicativo Davi Brito está confinado há 57 dias em um reality show, recebendo constantemente violências verbais, dentro e fora do programa, muitas delas com cunho racista. O que aproxima os dois?

Dois jovens negros brasileiros; Vini tem 23 anos e Davi tem 21.

Tenho escutado o quanto os dois têm resiliência e equilíbrio mental para defrontar o racismo. Nossos heróis não usam capa, são de carne e osso.

Primeiro, quero frisar que não há forma correta para o enfrentamento de algo tão perverso. Não podemos cobrar da vítima uma maneira adequada de responder ao racismo. Tem gente que chora, outros respondem, e existem aqueles que se silenciam. Tudo depende do seu estado, da circunstância e do repertório, a partir do letramento racial.

O que é aconselhável é que sempre esteja dentro da legalidade, para que tudo não se vire contra quem deveria ser protegido. E acreditem que, em muitos casos, a denúncia é desacreditada na delegacia, no clube de futebol ou na visão do espectador que julga, minimizando o acontecimento.

A dor é sentida, mesmo não sendo externada.

Em um momento no qual falamos tanto em saúde mental, começo a minha coluna aqui no jornal escrevendo sobre o jovem negro e os índices de transtornos mentais.

O percentual de suicídio entre adolescentes e jovens negros no Brasil é 45% maior que entre os brancos, segundo dados do Ministério da Saúde. Nos últimos anos, o risco de suicídio ficou estável entre os brancos, mas aumentou 12% para a população negra. Quando pensamos em depressão, os jovens negros chegam a ter 45% mais chances de desenvolver depressão que os brancos.

Dados sérios, para uma parcela em que a maioria não tem condições socioeconômicas de fazer terapia ou não acredita na falácia de que todo tipo de psicanálise é para gente rica ou é supérfluo.

Qualquer tipo de violência fica marcada na vida, querendo ou não. O que nos resta é buscar ajuda, gritar por ajuda. Porque, se tem algo sobre o que não temos gerência, é sobre o outro – este pode nos xingar, nos excluir, nos preconceber. E o que estamos fazendo por nós?

Precisamos cuidar dos nossos jovens, começando a humanizá-los. São fortes, mas a fragilidade faz parte do ser humano. E o racismo os enxerga como coisa, os animaliza.

Jogue no site de busca “Psicologia social”. Possivelmente você encontrará um preço que possa custear. Por aqui são 46 anos de vida, e sempre fazendo análise. Está sendo melhor assim. Acredite!

Ah, beba água e diminua o sal da sua comida.

Rodrigo França é cineasta, ator, diretor teatral, dramaturgo, escritor, roteirista e artista plástico

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