Os sistemas de defesa no caos climático (por Felipe Sampaio)

Nem as forças armadas escaparão da necessidade de se prepararem para as transformações do clima decorrentes do aquecimento global. Na verdade, principalmente elas precisarão correr para se adaptarem ao caos climático que avança a passos largos mundo afora.

Segundo a revista Diálogos Soberania e Clima (edição especial V3. Nº1 2024), os sistemas de defesa atuais sofrerão impactos de desastres naturais e de seus efeitos, da mesma forma que outros setores públicos e privados, ou com maior intensidade.

Para se ter uma ideia, segundo um relatório do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, cerca de metade das 3.500 instalações de defesa norte-americanas relataram já terem sofrido algum efeito adverso de episódios climáticos como ventos fortes, inundações, incêndios florestais ou secas intensas.

Essa vulnerabilidade física (e da adequação tecnológica) das instalações e dos equipamentos de defesa diante dos extremos climáticos será, sem dúvida, um dos aspectos com maior relevância no planejamento de investimentos e atividades do setor nos próximos anos e já consta dos documentos oficiais de defesa de diversos países, inclusive no Brasil.

A mudança climática afetará também a própria capacidade operacional militar em assuntos como comunicações, eficiência de armamentos, mobilidade aérea, marítima e terrestre, entre outros itens da atividade cotidiana típica das missões de defesa, incluídas aqui as operações de defesa civil para emergências em casos de desastres ambientais, cada vez mais frequentes, intensos e imprevisíveis.

No entanto, o desafio mais importante que as mudanças climáticas vão impor aos sistemas de defesa é o aumento da ameaça às diferentes soberanias nacionais do modo como as conhecemos hoje. A pressão interna e externa, resultante dos desastres climáticos, sobre os Estados nacionais poderá ampliar conflitos entre países e a desestabilização de governos, segundo a revista Diálogos Soberania e Clima.

Os fatores envolvem a disputa por terras agricultáveis, fontes de energia, água, alimentos, locais de moradia, bem como migrações em massa, epidemias, fuga de secas, nevascas, ondas de calor ou frio e inundações, por exemplo. Tudo isso implica em deslocamentos de populações, mas também de governos, empresas e infraestruturas (e consequentemente de fronteiras…).

Nesse cenário, os principais aliados das forças armadas serão os organismos multilaterais, os órgãos de diplomacia e a sociedade civil, que funcionarão como amortecedores, negociadores e mediadores dos interesses geopolíticos sujeitos às adaptações compulsórias a uma realidade que ainda sequer conhecemos.

 

Felipe Sampaio: chefiou a assessoria especial dos ministros da Defesa (2016-2017) e da Segurança Pública (2018); cofundador do Centro Soberania e Clima; foi secretário-executivo de segurança urbana do Recife (2019-2021); atual diretor do SINESP no ministério da Justiça.

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