Ainda leva tempo até sermos todas Bethânias (ou Arletes, ou Fernandonas)

Não sabemos como envelhecer, é fato. E a culpa sequer é nossa, afinal nunca se viveu tanto. Como ensinar/aprender o que só sabem os sábios orientais dotados de uma filosofia de vida que não combina com nosso capitalismo? Há alguns anos, mais intensamente, vemos um movimento em prol da saúde que tende a nos preparar para uma velhice saudável, dizem, mas não há clareza sobre o quanto desse discurso é em prol da beleza física ou motivado pelo temor dessa coisa horrível que chamam envelhecer.

Ao mesmo tempo, também há alguns anos, vemos um movimento contra o preconceito de idade, o etarismo, a favor das mulheres aceitarem seus cabelos brancos. Mas não qualquer cabelo branco, um certo tipo, “aquele da Glória Pires”. Cabeleira grisalha ao natural? Aparentemente só quem pode se dar ao luxo é Maria Bethânia que, aliás, em uma entrevista há mais de 10 anos, teve uma fala que vive ecoando por aí, mas dificilmente é seguida: Eu tenho orgulho de ter 63 anos e estar com cabelo branco. Eu gosto dos meus cabelos brancos, das minhas rugas. Gosto. São minhas. O tempo me deu. Mereci. Envelhecer é privilégio.”

Ainda que sempre falemos em cabelos, porque é a primeira coisa que se faz notar e aparece feito erva daninha, do nada, “olha só um fio branco!”, o envelhecimento é um kit completo, cujos componentes ainda relutamos a aceitar. Marcas de expressão ou qualquer nível de flacidez? Aí já é demais, aí não dá, desse jeito não pode. Deixe que a academia resolve ou a mesa do cirurgião, o que for mais rápido ou efetivo. Vai que acaba descobrindo que tem “bons genes e muito dinheiro”, como Jane Fonda? 

Muitas atrizes já se pronunciaram ou foram perguntadas sobre essa questão do etarismo. Ainda nesta semana, Arlete Salles assumiu uma posição quando repetiu Oscar Wilde sobre mulheres que dizem a verdadeira idade em entrevista sobre a novela que estrela aos 85 anos, “Família é tudo”. Fernanda Montenegro, em mais de uma entrevista, comentou sobre seu envelhecimento, suas rugas, sobre as bolsas que traz abaixo dos olhos desde a juventude e a opção por não fazer intervenções cirúrgicas. Talvez devido aos seus trabalhos como atrizes e que exigem essa ou aquela cor de cabelo, não vimos o processo de se agrisalhar como vimos o de Bethânia. O que torna inevitável dizer: Que liberdade a dessa cantatriz! Imagine que loucura seria se um dia acordássemos e não fôssemos todas atrizes! Talvez em 8 de março do ano que vem…

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