Brasil investe R$ 1 bi em laboratório de biossegurança máxima

Para impedir novas pandemias e investigar novos vírus, o Brasil planeja investir um bilhão de reais na construção de um complexo de máxima contenção biológica, apelidado de Orion. O projeto contará com o primeiro laboratório brasileiro de biossegurança máxima (nível NB4).

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Com previsão de entrega para 2026, o laboratório NB4 do Orion funcionará de modo integrado a fontes de luz síncrotron — isto é algo inédito para a comunidade científica mundial. A integração poderá ajudar na descoberta de mecanismos inéditos na proliferação de doenças, além de apoiar a descoberta de novos remédios e vacinas.

Pesquisas futuras no Orion

O projeto Orion contará com o primeiro laboratório a atender aos requisitos de biossegurança classificados como nível 4, o mais alto nível de segurança. Será o primeiro do tipo em toda a América do Sul e Central. 


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Para obter essa certificação, é preciso respeitar uma série de critérios e normas durante os experimentos com agentes infecciosos que causam doenças graves e são altamente contagiosos.

Vírus que podem ser investigados

Ainda não foram definidas quais vírus, bactérias ou fungos serão analisados através das instalações do Orion, mas é provável que as primeiras pesquisas envolvam o vírus Sabiá (Sabv), responsável pela febre hemorrágica brasileira.

Brasil investe um bilhão na construção de laboratório de máxima contenção biológica (Imagem: Divulgação/Cnpem)

Rara, a doença foi diagnosticada, pela primeira vez, nos anos 1990. Passados 20 anos, em 2019, dois novos casos da infecção foram detectados no interior do estado de São Paulo. Hoje, sabe-se muito pouco sobre o vírus. Nos casos recentes, a confirmação envolveu testes nos EUA, por falta de infraestrutura nacional.

Além do Sabv, o laboratório poderá ser usado em testes com outros agentes infecciosos da família Arenaviridae já detectados nas Américas, como o vírus Guanarito (Venezuela), o Junín (Argentina) e o Machupo (Bolívia). Em tese, têm potencial epidêmico e pandêmico.

Outra possibilidade de pesquisa é a realização de experimentos em primatas não humanos (PNH), ainda necessários no desenvolvimento de medicamentos e imunizantes.

Como evitar vazamento de patógenos?

“Para lidar com patógenos altamente perigosos, o laboratório NB4 tem sistemas de filtragem de ar para impedir a fuga desses agentes, equipamentos de proteção individual específicos, rígido treinamento de pessoal e controle rigoroso do acesso, entre outros procedimentos de segurança máxima”, detalha João Pessoa Araújo Júnior, virologista e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em artigo para a plataforma The conversation.

Laboratório conectado a uma fonte de luz síncrotron

Como já adiantamos, o complexo Orion será o único laboratório NB4 do mundo a estar conectado a fontes de luz síncrotron. As instalações estarão ligadas a três das das 38 linhas de luz Síncrotron que o acelerador de partículas Sirius terá, quando for concluído.

Vale mencionar que o Sirius é outro ambicioso projeto nacional. É uma fonte de luz de quarta geração, ou seja, um tipo especial de radiação eletromagnética produzida por partículas aceleradas a velocidades semelhantes à velocidade da luz.

“As características dessa radiação permitem obter informações detalhadas sobre a estrutura e composição da matéria em diversas escalas”, afirma Araújo. No caso das pesquisas sobre vírus, será possível identificar “as mudanças em uma célula infectada por um patógeno enquanto elas estão acontecendo”, pontua.

Porjeto Orion estará conectado com acelerar de partículas Sirius (Imagem: Divulgação/Cnpem)

Além da medicina, isso abre portas para descobertas em outras áreas. Essas descobertas podem melhorar tecnologias na agricultura, energia e meio ambiente. Também viabiliza a descoberta de materiais mais sustentáveis.

Curiosidade sobre Orion e Sirius: cabe destacar que o nome do complexo Orion não é mera coincidência. Ele foi escolhido em homenagem à constelação que possui três estrelas apontadas para a estrela Sirius. 

Missão: evitar novas pandemias

“O desmatamento contínuo e a degradação ambiental, que estão abrindo clareiras e forçando a aproximação entre a biodiversidade do ambiente natural e as áreas urbanas, pode elevar os riscos de surgimento de novos agentes patogênicos”, lembra o pesquisador.

Inclusive, há um possível risco de uma nova pandemia surgir no Brasil, entre outras coisas, por causa da perda de habitat dos animais selvagens. Com isso, zoonoses desconhecidas — doenças transmitidas de animais para humanos — podem aparecer, se proliferar e chegar a outros países. Neste caso, é preciso ter ferramentas para controlá-las antes que se espalhem.

“A pandemia [da covid-19] recolocou no centro do debate a importância do domínio nacional de uma base produtiva em saúde, bem como o papel do Estado na coordenação de agentes e investimentos no enfrentamento da crise sanitária”, destaca Luciana Santos, ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, em nota.

Nesse contexto, a ministra afirma que a implantação do projeto é “estratégica para o país” e pode posicionar o Brasil como uma liderança global na área dos estudos envolvendo patógenos.

Custos e construção do Orion

Com uma missão bastante desafiadora, o complexo de um bilhão de reais será construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (Cnpem), em Campinas, no interior de São Paulo. Serão 20 mil metros quadrados destinados à ciência.

As obras são financiadas com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fndct), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Mcti), e integram o Novo PAC.

Leia a matéria no Canaltech.

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