Entenda o que aconteceria se Biden desistisse de candidatura nos EUA

Após o primeiro debate entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seu principal adversário, Donald Trump, na noite de quinta-feira (27/6), não é exagero dizer que a parte liberal do país entrou em desespero. Biden parecia frágil e proferiu frases que não faziam sentido repetidas vezes durante a noite.

Os usuários das redes sociais brincaram que a vice-presidente Kamala Harris deveria substituir o presidente depois dos intervalos comerciais e que o debate foi como uma humilhante briga de família. “Os democratas estão em estado de pânico”, avaliou Ines Pohl, correspondente da DW em Washington, logo após o término do debate.

“Enquanto no período logo após o debate houve muita energia nervosa no partido, nos últimos dois dias houve um fortalecimento da base democrata”, disse  Cathryn Clüver Ashbrook, especialista em política transatlântica germano-americana da Fundação Bertelsmann. “E os possíveis candidatos que foram apresentados para substituir Joe Biden imediatamente após o debate se manifestaram em forte apoio ao presidente.”

O governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, que era um dos cotados, disse na emissora americana MSNBC: “Você não dá as costas [ao seu candidato] por causa de um desempenho. Que tipo de partido faz isso?”

Qual é a probabilidade de Biden renunciar?

O fato é que, mesmo antes do debate, já havia preocupações de que Biden não fosse o melhor candidato para concorrer às eleições de novembro por causa de sua idade, e essas preocupações se fortaleceram desde então.

Mudar um candidato, especialmente um presidente em exercício, tão tarde na corrida seria altamente incomum. Mas não é impossível. De acordo com Filippo Trevisan, especialista em política e campanhas nos EUA da Universidade Americana Escola de Comunicação, a melhor opção para substituir um candidato nessa altura é se ele próprio renunciasse.

“As coisas podem mudar na próxima semana, quando eles analisarem os números das pesquisas”, disse Trevisan. “Mas, no momento, com base no que ouvimos de [Biden] e de sua equipe de campanha, acho que é altamente improvável que ele renuncie.”

Em 1º de julho, a campanha de Biden lançou um anúncio que mostra um Biden vigoroso falando para uma multidão, dizendo: “Sei que não sou um homem jovem, mas sei como fazer esse trabalho… e sei, como milhões de americanos sabem, que quando você é derrubado, você se levanta novamente”.

E se Biden renunciasse?

Nas eleições primárias, os apoiadores democratas e republicanos votam em quem eles querem que seja seu candidato. Quem quer que vença em cada um dos 50 estados “tem” os delegados daquele estado. Na Convenção Nacional Democrata, em agosto, esses delegados votam em quem será o candidato presidencial democrata. A grande maioria deles está comprometida com Biden. Eles não são legalmente obrigados a votar nele, mas, em virtude do funcionamento do processo de primárias dos EUA, é isso o que se espera deles.

Se Biden desistir, “será um vale-tudo”, disse Trevisan. “Eles podem votar em quem quiserem”.

Isso é o que se chama de “convenção aberta”. Os delegados votariam de acordo com sua consciência. A liderança do Partido Democrata escolheria um candidato que considerasse ter a melhor chance de vencer a eleição presidencial e depois tentaria fazer com que os delegados votassem nele.

“Kamala Harris teria a preferência”, avaliou J. Miles Coleman, analista eleitoral do Centro de Política da Universidade da Virgínia, à DW logo após o debate.

Mas Trevisan disse que, nesse caso, escolher Harris pode não ser a melhor opção. “Sua associação com a presidência de Biden pode ser negativa”, disse ele. “Seus números de aprovação são semelhantes aos de Biden.”

Quando um presidente fica incapacitado durante o exercício do cargo, por exemplo, devido a uma emergência médica, o vice-presidente assume o cargo. Mas ele não se torna automaticamente candidato quando o presidente desiste de concorrer pouco antes da convenção.

Possíveis substitutos de Biden: Harris, Newsom, Whitmer

Vários nomes foram citados, especialmente nos dias após o debate, sobre quem poderia se tornar o candidato presidencial se Biden desistisse. Além da vice-presidente Kamala Harris e do governador da Califórnia, Gavin Newsom, há também a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer.

Whitmer foi eleita governadora pela primeira vez em 2018 e reeleita em 2022. Sua reeleição, em especial, foi considerada um grande sucesso – 2022 foi uma eleição de meio de mandato sob um presidente democrata (Biden), e geralmente é mais difícil para os candidatos do partido do titular conquistar os eleitores. Mas Whitmer conseguiu, com uma margem maior do que a esperada e no importante estado de Michigan, que não é considerado um estado de vitória certa para os democratas, como é o caso da Califórnia ou de Nova York.

Mas, assim como outros democratas poderosos, Whitmer apoiou Biden publicamente após o debate, escrevendo na rede social X (antigo Twitter) que “precisamos reeleger Joe Biden e Kamala Harris”.

Outro candidato poderia ser eleito contra a vontade de Biden?

E se Biden não renunciar, mas os democratas ainda quiserem colocar outro candidato na convenção em agosto? “Isso não vai funcionar”, afirmou Ashbrook. Os EUA, afinal, “tiveram primárias em que Joe Biden teve o voto de 99% dos delegados. Ir contra o voto dos delegados é contornar um processo democrático. Quando o país está em um momento perigoso em sua própria democracia, ninguém vai tentar fazer isso no Partido Democrata”.

Se Biden desistisse ainda mais tarde, após a convenção, por exemplo, por motivos de saúde, nem mesmo os delegados poderiam mais votar em um candidato. Em vez disso, o Comitê Nacional Democrata se reuniria e decidiria quem seria o novo candidato – algo que certamente alimentaria discussões sobre o estado da democracia dos EUA.

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