Em primeiro lugar, temos que honrar nossos atletas, aqueles que ganharam medalhas e aos que não ganharam, verdadeiros heróis que lutam desesperadamente na vida e nos esportes, neste deserto que é o Brasil em suas políticas públicas e desportivas.
O Brasil, com o 9º PIB do mundo, 7ª população do planeta, ficou em 20º lugar nas Olimpíadas de Paris. Em Paris, os Estados Unidos em 1º lugar, a China ficou em 2º lugar. De 2010 a 2023, o PIB do mundo cresceu de US$ 67 trilhões para US$ 105 trilhões; os Estados Unidos de US$ 15 trilhões para US$ 27 trilhões; a China de US$ 6 trilhões para US$ 18 trilhões; o Brasil rateia, decrescendo de US$ 2,21 trilhões para US$ 2,17 trilhões.
Existem três tipos de atletas, ou de apoio à atividade esportiva. O esporte que é o produto do desenvolvimento econômico, como os Estados Unidos; o esporte que é o produto do apoio governamental, como a China; e o esporte que depende, quase que exclusivamente, do esforço individual dos atletas, como o Brasil, salvo alguns setores relativamente organizados, como exceção.
O Brasil caiu em sua colocação nas últimas Olimpíadas: 13º lugar no Rio em 2016 com 7 medalhas de ouro, 19 no total; 12º lugar em Pequim com 7 medalhas de ouro, 21 no total; 20º lugar em Paris com 3 medalhas de ouro, 20 no total. Do total das medalhas do Brasil, 12 foram mulheres, e 7 foram homens, 1 coletiva homens e mulheres. Agradecemos às mulheres, que nos salvaram em Paris.
Não que não tenha havido um aumento no apoio financeiro ao esporte no Brasil, mas este apoio tem sido relativamente pouco significativo comparado a outros países. A Austrália, em Paris, ficou no 4º lugar, com 18 medalhas de ouro e 33 no total, atrás do Japão em 3º lugar, com 20 medalhas de ouro e 45 no total. De 2010 a 2023, o PIB da Austrália aumentou de US$ 1,15 trilhão para US$ 1,72 trilhão, 49,6% de crescimento, com renda per capita de US$ 54.763,00, enquanto o Brasil variou de US$ 2,21 trilhões para US$ 2,17 trilhões, 9,8% de decréscimo, com renda per capita de US$ 8.755,00.
No Brasil, é louvável o apoio do Exército Brasileiro e do Bolsa Atleta no apoio ao atleta brasileiro, e os investimentos do COB, mas este apoio centra-se naqueles que, individualmente, já são os melhores pelo próprio esforço pessoal. Das 20 medalhas do Brasil em Paris, 2 são no skate e 2 são no surf, no total de 4 medalhas, 20% de nossas medalhas, esportes até há pouco estigmatizados como “street athletes” e “atletas de praia”. As lutas, nos proporcionaram 6 medalhas, 30% de nossas medalhas, no esforço tipicamente individual em nosso país. O mesmo ocorre com as adicionais 2 medalhas no atletismo, 10% de nossas medalhas; e com o vôlei de praia com 1 medalha, com o meritório apoio do Praia Clube de Uberlândia/MG, 5% de nossas medalhas. Nas lutas, 6 medalhas, 7,2% do total. Canoagem, 1 medalha, 5% do total. Na ginástica olímpica, ganhamos 4 medalhas, em um projeto definido que se inicia no Sul do Brasil com a vinda de técnicos da Ucrânia, altamente meritório, que resulta em Paris em 20% das nossas medalhas. Dos setores de esportes coletivos institucionalmente organizados, obtivemos 2 medalhas, bronze no vôlei feminino, e prata no futebol feminino, certamente meritórios, representando 10% de nossas medalhas. O futebol masculino brasileiro nem mesmo se classificou para as Olimpíadas. Ou seja, no Brasil, nas Olimpíadas de Paris, 10% de nossas medalhas foram decorrentes da profissionalização e institucionalização do esporte no país; 20% de um projeto único na ginástica olímpica; 70% do esforço exclusivamente individual de atletas pontuais, da “ralação”, que é o que o brasileiro faz.
Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, diz que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. No Brasil, parafraseando, “o atleta abrasileiro é, apesar de tudo, um herói”.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago