A Convenção Democrata que apresentará formalmente Kamala Harris como candidata a presidente e Tim Walz, como vice, começou nessa segunda-feira (19/8) e terminará na quinta-feira (22/8). Um dos temas mais polêmicos e esperados que serão tratados ao longo dos quatro dias é a guerra entre Israel e Hamas. Do lado de fora do evento, milhares de manifestantes pró-Palestina protestam contra a guerra em Gaza.
O Partido Democrata vem enfrentando dificuldades de unificação do discurso quando o tema é Gaza. A parte mais conservadora do partido se mantém pró-Israel, enquanto os mais progressistas se posicionam como pró-Palestina.
Segundo a plataforma da convenção, a mensagem tradicional do partido se manterá. Apoio a Israel, condenação ao ataque de 7 de outubro pelo Hamas e defesa de “um acordo de cessar-fogo imediato e duradouro”, que devolverá os reféns ainda mantidos pelo grupo terrorista. Além disso, será abordado “o deslocamento e a morte de tantas pessoas inocentes em Gaza”.
Diante disso, milhares de manifestantes pró-Palestina estão chegando a Chicago, além de cerca de 30 delegados que representam os eleitores das primárias democratas que se opuseram a Joe Biden, principalmente em protesto contra Gaza.
A guerra entre Israel X Hamas é o tema que mais gera preocupação ao partido durante as convenções e promove grandes expectativas sobre como Kamala Harris o abordará.
Hatem Abudayyeh, porta-voz da Coalizão para Marchar na Convenção Nacional Democrata, afirmou: “Temos que fazer a nossa parte na barriga da besta para impedir o genocídio, acabar com a ajuda dos EUA a Israel e ficar ao lado da Palestina. Estamos dizendo à Kamala que ela foi cúmplice disso. As pessoas acham que é só Joe Biden, mas ela é vice-presidente”, disse. “Estamos dizendo que você precisa parar se quiser nosso voto.”
A coalizão esteve na Convenção Nacional Republicana do mês passado, em Milwaukee, e espera multidões maiores e manifestações mais robustas no evento democrata.
Segundo o Departamento de Polícia de Chicago (CPD, na sigla em inglês), já foram realizadas duas prisões de manifestantes pró-Palestina nesse domingo (18/8). Uma mulher de 23 anos e um homem de 28 anos. A mulher foi presa por dano criminal de propriedade e resistência e obstrução policial e o homem por danos criminais e resistência e obstrução policial. Todas as acusações são contravenções.
Direito ao aborto
Diferente do que acontece com a temática “Gaza”, o direito ao aborto é unânime e amplamente defendido pelo Partido Democrata e terá grande destaque ao longo de todo o evento como forma de capitalizar a raiva duradoura sobre a decisão da Suprema Corte em 2022 de anular Roe v. Wade, que garantia a todas as mulheres do país, não importanto o estado, o direito ao aborto.
Discursarão na Convenção três mulheres que contarão a história de como foram colocadas em risco médico devido à proibições estaduais de aborto, Amanda Zurawski, Kaitlyn Joshua e Hadley Duvall.
Hadley Duvall, do Kentucky, tem participado de forma ativa na campanha democrata, antes mesmo de Kamala assumir a chapa. Em um vídeo para Joe Bidem ela conta que sofreu um aborto espontâneo de um estupro, mas a ideia de “políticos me forçarem a dar à luz o bebê do meu estuprador é inconcebível”.
“Meninas como eu em todo o país estão sofrendo. O futuro delas está sendo arrancado. Trump e JD Vance não se importam com as mulheres. Eles não se importam com as meninas nessa situação”, disse Duvall.
A Sra. Duvall ainda disse que a oportunidade de contar sua história no palco da convenção foi “incrivelmente significativa” para mulheres e suas famílias em todo o país.
“O que aconteceu conosco não é único, tragicamente. Estamos dando voz a inúmeras mulheres e famílias que foram prejudicadas pelas proibições de aborto MAGA de Donald Trump e estamos todas lutando. O Sr. Trump disse que é “orgulhosamente a pessoa responsável” por anular Roe v. Wade e sugeriu que, se eleito, permitiria que os estados processassem mulheres que violassem as restrições ao aborto”, brada Hadley.
O Partido Democrata planeja fazer dos direitos ao aborto um tema constante nas quatro noites de evento, destacando como a questão surgiu como um pilar central das campanhas do partido e realizando um link com o fato de Kamala poder virar a primeira presidente mulher da história dos Estados Unidos.
Demais temas
A plataforma apresentada pelo partido, nesse domingo (18/8), com os temas que serão abordados na Convenção, retrata uma coleção de prioridades políticas democratas, como mudanças climáticas, apelos para fazer investimentos em infraestrutura e manufatura, corte de impostos para famílias trabalhadoras e taxação de grandes corporações e de ricos para que eles “finalmente paguem sua parte justa”.
Outra parte dos temas abordados versarão sobre a redução de custos em itens cotidianos como alimentação, moradia e assistência médica, em termos semelhantes à agenda econômica.
Será repetida a mensagem de que a visão de Donald Trump para o país é de “vingança e retribuição”.
O Comitê Nacional Democrata, no domingo, iniciou os preparativos da campanha, projetando slogans provocativos na Trump Tower, em Chicago.
As mensagens projetadas diziam “Trump-Vance ‘estranho pra caramba’”, referindo-se à fala de Tim Walz de que os dois eram aberrações estranhas. E, também: “Harris-Walz lutando por você” e “Projeto 2025 HQ”, em alusão aos controversos planos de política conservadora escritos por uma série de aliados do ex-presidente Donald Trump, incluindo a revogação aos direitos ao aborto e à imigração.
Apesar de J.D. Vance ter fortes relações com os autores do projeto, Trump o repudiou nas últimas semanas.
Para assistir ao evento, a Convenção Nacional Democrata realizará transmissões ao vivo em diversas plataformas, como site da convenção, YouTube e X. Pela primeira vez na história da convenção, também serão feitas transmissões verticais no TikTok, Instagram e no YouTube para tornar os procedimentos mais acessíveis para celulares.