Série Cidade de Deus repete fórmula de sucesso com atores da periferia

Cidade de Deus: A Luta Não Para, lançada em agosto no Max, compartilha mais do que o nome com o sucesso cinematográfico de 2002. A série adota a mesma abordagem de produção e escalação de elenco, destacando as comunidades e atores da favela, em uma estratégia que busca conquistar o público.

Presente no filme Cidade de Deus, Edson Oliveira interpreta Barbantinho, o melhor amigo do protagonista Buscapé. O ator apareceu em cenas icônicas, mas não teve um grande destaque. Agora, na série, tornou-se um dos principais personagens da produção.

Carismático e amado, Barbantinho se tornou um líder comunitário. Em conversa com o Metrópoles, Edson Oliveira avalia que o personagem é um reflexo das comunidades cariocas.

“É um privilégio, um grande presente poder dar vida a esse personagem novamente. Ele representa muito as comunidades, as pessoas de periferia. Espero que meu personagem atinja cada vez mais as pessoas, para que elas se sintam representadas”, comenta o ator.

4 imagens

Cidade de Deus: A Luta Não Para

Marcos Palmeira na série Cidade de Deus
Série baseada no filme Cidade de Deus
1 de 4

Edson Oliveira e Victor Andrade estão em destaque em Cidade de Deus: A Luta Não Para

Reprodução

2 de 4

Cidade de Deus: A Luta Não Para

Reprodução

3 de 4

Marcos Palmeira na série Cidade de Deus

Reprodução

4 de 4

Série baseada no filme Cidade de Deus

Reprodução

Nascido e criado na Cidade de Deus

Oriundo do teatro e da poesia, Victor Andrade, que interpreta Geninho, filho mais velho de Curió, está vivendo a sua primeira oportunidade no audiovisual. Fora do streaming e do teatro, o ator ainda participa de projetos sociais na comunidade, que ajudam crianças e adolescentes.

O artista classificou sua estreia, em uma série “potente globalmente” e sobre o “seu local”, como maravilhosa. “[É] ter uma devolutiva ao local que formou meu caráter, onde fui criança, adolescente, e agora sou um adulto”, diz.

Para o ator, a série Cidade de Deus explora diferentes trajetórias e revela por que apenas uma pequena parte da comunidade está envolvida com o tráfico. Ele também destaca a importância da produção em desfazer estereótipos criados pelo filme original, que, segundo ele, careceu de um “cuidado após o sucesso” e reforçou uma imagem de violência exagerada sobre o local.

“Nos tornamos todos ‘Zés Pequenos’ aos olhos de quem está de fora. Muita gente passou os últimos 22 anos mentindo sobre o endereço e CEP para conseguir emprego”, afirmou. Ele ressaltou que a série não glamouriza a comunidade, mas mostra ao público que, dentro das favelas, também há espaço para alegria e afeto.

Victor Andrade, ator

“Somos um monte de sonhos, como os que aparecem na série, lutadores de mil formas. Seja lutando pela comunidade na política, na associação de moradores, no jornalismo… A realidade do tráfico não mostra nem 10% de quem somos”, completou.

Celeiro de novas oportunidades

Assim como o filme Cidade de Deus revelou e alavancou grandes artistas brasileiros como Seu Jorge, Alice Braga, Babu Santana, Matheus Nachtergaele, Douglas Silva e Thiago Martins, a série vem com a mesma proposta. E os atores presentes na produção também acreditam nisso.

Veterano do Grupo de Teatro Nós do Morro, fundado no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, o ator Edson Oliveira contou que viu sua vida mudar com a participação no filme. Ele acredita em uma nova mudança de carreira com a atuação de destaque na série do Max.

“Espero que Barbantinho traga mais visibilidade para o meu trabalho como ator e artista e me chamem para trabalhar. Sempre vivi da arte de forma digna, promovendo a arte para quem não tem acesso. Eu sou fruto disso e sou multiplicador disso hoje. Meu personagem vai deixar um legado e espero colher bons frutos”, afirmou.

Edson Oliveira, ator

Já Victor Andrade, participa de projetos sociais dentro da Cidade de Deus como o Instituto Arteiros, que tem como finalidade aumentar o acesso à cultura e à educação de jovens e adolescentes em vulnerabilidade social. Foi no local que o ator formou a sua base artística e passou a crescer na profissão, primeiro no teatro e agora na televisão.

Sobre a importância desses projetos, Victor relembra uma frase que ouviu quando era mais novo. “Uma vez ouvi alguém dizer: ‘Eu sou a oportunidade de uma oportunidade’. Projetos sociais são ferramentas que nos dão a chance de viver situações que, como indivíduos na sociedade, deveríamos ter o direito de acessar através de políticas públicas.

Os projetos sociais, segundo o ator, representam uma verdadeira sensação de prosperidade, “presente em muitos de nós” e superam qualquer estereótipo ou preconceito. “Esses projetos muitas vezes são responsáveis por manter pessoas vivas, alimentadas e até mesmo por promover sua ressocialização na sociedade”, acrescentou.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.