Sustentabilidade no transporte rodoviário: quais são os desafios e as oportunidades?

Sustentabilidade no transporte rodoviário: quais são os desafios e as oportunidades?

Lei aprovada este ano cria um sistema nacional de gestão de qualidade do ar. A partir de 2025, a concentração média anual de poluentes no ar no país deverá ser de 17 microgramas por metro cúbico – Foto: Divulgação

Quando se fala em sustentabilidade no transporte rodoviário, sabe-se que o setor enfrenta a necessidade de descarbonização e, neste contexto, é importante compreender como a adoção de tecnologias mais limpas pode reduzir a pegada de carbono no segmento.

Tendo em vista a  COP30, que ocorrerá em Belém em 2025, uma nova parceria foi formada por empresas, associações e organizações para promover a descarbonização do setor de transportes no Brasil.

Lançada durante o evento “Brasil Rumo à COP30”, a iniciativa busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que atualmente representam 16% do total no país. As ações propostas abrangerão seis áreas: infraestrutura, mobilidade urbana, transporte rodoviário, ferroviário, aéreo e aquaviário.

Investir em veículos elétricos e alternativas ao diesel contribui para diminuir a poluição e também pode resultar em economias operacionais para as empresas de transporte. Esse tipo de mudança impacta positivamente o meio ambiente e atende à crescente demanda por práticas empresariais responsáveis e sustentáveis.

Importância de sustentabilidade no setor de transporte

A sustentabilidade no transporte rodoviário se refere a práticas que reduzem as emissões de gases poluentes, otimizam a gestão de frotas e adotam tecnologias verdes.

Segundo relatório divulgado este ano pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2023, as emissões de gases de efeito estufa resultantes das atividades humanas relacionadas à matriz energética do Brasil alcançaram 428 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente.

Desses, a maior parte, totalizando 217 milhões de toneladas de CO2 equivalente, foi proveniente do setor de transportes. Porém, existem também perspectivas otimistas.

Ainda segundo o relatório, houve no segmento um aumento de 4,4% no consumo de fontes energéticas em comparação a 2022. Os principais destaques foram o crescimento de 19,2% no uso de biodiesel, 6,9% na gasolina e 6,3% no etanol.

Como resultado dessas mudanças, a matriz energética do setor de transportes no Brasil passou a ser composta por 22,5% de fontes renováveis em 2023, um leve aumento em relação aos 22% registrados em 2022.

A sustentabilidade no transporte rodoviário se refere a práticas que reduzem as emissões de gases poluentes, otimizam a gestão de frotas e adotam tecnologias verdes – Foto: Divulgação

Implementar práticas ambientalmente favoráveis tende a diminuir a dependência de combustíveis fósseis. Medidas como a utilização de combustíveis alternativos e o aprimoramento da eficiência energética dos veículos são medidas recomendadas.

Por que é importante considerar a sustentabilidade no transporte? A resposta está no futuro das próximas gerações. A implementação de tecnologias limpas e a conscientização sobre o uso responsável dos recursos são elementos-chave para garantir a adaptação do setor às exigências ambientais e regulatórias presentes e futuras.

Tendências sustentáveis no transporte rodoviário

A sustentabilidade no transporte rodoviário pressupõe inovações em tecnologia, a busca por fontes de energia renováveis e a implementação de práticas logísticas eficientes para reduzir os impactos ambientais no setor.

Veículos elétricos e híbridos

A adoção de veículos elétricos e híbridos é uma das principais tendências em sustentabilidade no transporte rodoviário. Esses veículos emitem menos poluentes em relação aos tradicionais movidos a combustíveis fósseis.

Os veículos elétricos possuem menor custo operacional ao longo do tempo, devido à economia em combustível e à manutenção reduzida.

É importante notar que a infraestrutura de recarga ainda está em desenvolvimento, mas cresce em resposta à demanda do mercado. Isso faz com que o uso de elétricos e híbridos seja uma solução viável.

Uso de biocombustíveis

Os biocombustíveis, derivados de fontes renováveis, estão ganhando destaque na busca por sustentabilidade no transporte rodoviário. Eles podem ser usados em motores tradicionais, apresentando uma alternativa mais limpa em comparação aos combustíveis fósseis.

Os biocombustíveis como etanol e biodiesel são produzidos a partir de matérias-primas como cana-de-açúcar, soja e resíduos orgânicos. A utilização deles ajuda a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, promove uma economia circular, contribuindo para a gestão sustentável de resíduos.

Logística verde

A logística verde também visa melhorar a sustentabilidade no transporte rodoviário. Medidas como a otimização de rotas, uso de veículos mais eficientes e a integração de tecnologias ajudam a diminuir a pegada de carbono.

Segundo o Sebrae, para implementar a logística verde, existem sete princípios fundamentais. O empacotamento deve ser sustentável, utilizando menos material ou opções biodegradáveis.

A carga e a descarga devem minimizar desperdícios, enquanto o armazenamento deve garantir uma infraestrutura pertinente, por exemplo, com o uso de sistemas de eficiência energética.

O transporte deve incluir alternativas menos poluentes e otimizar rotas para reduzir emissões de CO2. A distribuição urbana deve focar na redução do consumo de combustível e resíduos.

A gestão da informação deve controlar dados para evitar desperdícios e aumentar a eficiência. E, por fim, a reciclagem e reintrodução de resíduos nos ciclos produtivos são essenciais.

Sendo assim, para adotar a logística verde, as empresas devem otimizar a gestão de frotas, seguir padrões sustentáveis na construção de armazéns e implementar medidas para reduzir e classificar resíduos adequadamente.

Desafios do setor

A sustentabilidade no transporte rodoviário enfrenta diversos desafios. O segmento de transporte é responsável por 23% das emissões globais de CO2, mas a transição para fontes renováveis no Brasil ainda é lenta, dificultando a redução das emissões de carbono.

Outro desafio é a infraestrutura. Muitas estradas e pontos de carregamento para veículos elétricos não estão disponíveis ou adequadamente distribuídos.

A concorrência entre modais de transporte também impacta a sustentabilidade. O transporte rodoviário compete com ferrovias e transporte marítimo, que oferecem alternativas mais ecológicas. Essa competição pode desincentivar investimentos em práticas sustentáveis.

A falta de conscientização sobre a sustentabilidade no transporte rodoviário é também um fator relevante. Muitos profissionais da área não estão cientes das melhores práticas em termos de uma eficiência energética favorável ao meio ambiente. Isso pode atrasar a implementação de soluções.

Por fim, a cultura organizacional de muitas empresas dificulta a mudança de paradigmas. A resistência a mudanças pode impedir a adoção de práticas realmente sustentáveis e inovadoras.

Exemplos práticos e cases de sucesso

A Fenatran 2024, a maior feira de transporte rodoviário de cargas e logística da América Latina, aconteceu entre 4 e 8 de novembro e destacou a descarbonização e a renovação de frotas como temas centrais.

Segundo a Confederação Nacional do Transporte, o evento ocupou 100 mil metros quadrados no São Paulo Expo, com a participação de mais de 600 marcas, todas voltadas para o impulso do transporte rodoviário de cargas.

Um case de sucesso apresentado na ocasião foi o da Geotab, que expôs ferramentas que auxiliam as empresas a monitorar suas emissões de gases do efeito estufa e otimizar o consumo de combustível.

O dispositivo GO da Geotab, já preparado para a adoção de veículos elétricos, possui funcionalidades específicas, como monitoramento de carregamento de bateria, relatórios sobre autonomia e consumo de energia, além da análise de emissões de CO2.

Também foi apresentado o Sustainability Center, da Geotab, uma plataforma desenvolvida para ajudar as empresas a medir e reduzir suas emissões de carbono, além de traçar estratégias sustentáveis para suas operações, conforme informa a empresa em seu site oficial.

O papel das políticas públicas no Brasil

As políticas públicas desempenham um papel significativo na promoção da sustentabilidade no transporte rodoviário no Brasil. A lei 14.993/2024 institui ações voltadas para o mercado de carbono e a diminuição das emissões de gases de efeito estufa no setor de transporte rodoviário.

Ela abrange o Programa Nacional de Diesel Verde (PNDV), que promove a fabricação e a utilização de diesel com a finalidade de proporcionar um menor impacto ambiental.

Além disso, a Política Nacional de Qualidade do Ar foi aprovada pelo Senado em março de 2024 e, em maio, transformou-se na Lei 14.850/2024. Esta legislação cria um sistema nacional de gestão de qualidade do ar (MonitorAr). As medidas entrarão em vigor em 2025.

Atualmente, é permitido um máximo de 20 microgramas de poluentes por metro cúbico de ar. Porém, este ano foi aprovada ação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) pelo STF e, a partir de 2025, a concentração média anual de poluentes no ar no país deverá ser de 17 microgramas por metro cúbico.

Esse limite será reduzido para 15 microgramas por metro cúbico em 2033 e, em 2044, cairá para 10 microgramas por metro cúbico. A OMS estabelece como meta ideal uma concentração de 5 microgramas por metro cúbico.

Por fim, a sustentabilidade no transporte rodoviário é um desafio que demanda esforços integrados entre governo, empresas e sociedade para promover a descarbonização e a redução do impacto ambiental no setor.

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