HÁ VINTE ANOS – Ainda sobre a morte por fome de crianças indígenas

Querem um exemplo de extrema sensibilidade social e política? Leiam o que disse há pouco o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a respeito da quinta criança indígena que morreu de fome somente este ano no Mato Grosso do Sul:

– O nosso dever de casa está feito. Nós temos um convênio com o governo do Mato Grosso do Sul, repassamos R$ 5 milhões. Estamos mandando em dia e aumentamos muito o envio de cestas básicas.

Segundo ele, um dos graves problemas da reserva indígena de Dourados é de origem cultural.

– O nível de suicídio é também muito alto, o que mostra uma crise de identidade. É um problema que tem razões culturais, históricas e fundiárias que transcende o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Como nós sabemos, a questão indígena vem desafiando o Brasil exatamente há 505 anos.

Comentário meu: Você deixaria seu filho pequeno aos cuidados de um homem desses mesmo que por algumas horas? O que ele disse passa compaixão, sinceridade, preocupação com o problema, solidariedade com as vítimas e com seus parentes?

As cinco crianças indígenas que morreram de fome de janeiro para cá morreram porque não tinham o que comer – não porque se recusaram a comer. Seus pais não lhes negaram comida – não tinham comida para lhes oferecer.

Elas não foram sacrificadas por razões culturais ou religiosas – morreram de fome. Simplesmente isso.

É lamentável que o ministro da Fome seja incapaz de ver as coisas assim.)

 

(Publicado aqui em 27 de fevereiro de 2005)

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