Uma música para o carnaval 2025

O Carnaval, a festa, de certa forma, não mudou. É fácil ver que continua movendo pessoas e movimentando o turismo e o comércio mesmo com o crescimento conservador no país e no mundo. Nos últimos anos, é possível dizer que até aumentou, afinal cidades que não tinham histórico de sediar a festa entraram na lista de grandes carnavais, como Belo Horizonte. O que parece ter mudado é um outro elemento comum nessa fórmula: a música do carnaval.

Música de carnaval é frevo, é samba, é marchinha. Já “música do carnaval” há anos costumava ser axé, uma música animada, chiclete que gruda e não sai da boca nem da cabeça, boa para tocar no trio elétrico e arrastar multidões – mesmo em lugares onde não tem trio elétrico e nem se formam multidões. A impressão, no entanto, é que esta “função” está se perdendo.

O axé não morre, não se perde, continua aí, mas sua função de “música do carnaval” parece estar reduzida a tentativas de Ivete Sangalo de furar uma bolha cada vez mais resistente criada pela agro music, como uma sobrevivente dos tempos em que a TV ditava o que seria sucesso. 

A verdade é que, com a mudança no consumo de mídia, as novelas já não fazem bombar músicas (sequer tendências ou discussões) e os programas de auditório, que recebiam artistas para divulgar seus trabalhos, estão minguando. 

No podcast “O assunto” sobre os 40 anos do axé, Natuza Nery, em conversa com Luiz Caldas, o criador do axé, aponta a importância da novela Tieta para a popularização desse movimento. Era o cantor que interpretava a música de abertura. Sinal de outros tempos.  

No “cada um por si” que se tornou o mercado, vence quem tem mais dinheiro para investir, notadamente a turma do agronegócio. E aí chegamos neste ponto em que, em detrimento da “Energia de gostosa” da Ivete, provavelmente a música do carnaval 2025 é mesmo “Descer para BC”, tocada à exaustão nas rádios do país. Provavelmente, uma vingança um tanto tardia de quem gostava de marchinha.

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