Parasita mata células humanas e usa restos como disfarce, diz estudo

A Entamoeba histolytica é um protozoário que causa a amebíase, uma doença que pode ser grave, acometendo o intestino, fígado e até outros órgãos. Apesar de afetar cerca de 50 milhões de pessoas anualmente, o parasita é difícil de ser estudado por ser resistente e ter a habilidade de se camuflar.

Um novo estudo descobriu que o protozoário, que pode danificar seriamente os órgãos internos, se esconde do sistema imunológico humano engolindo partes de células.

“Ela pode matar qualquer coisa que você jogue contra ela, qualquer tipo de célula humana. A E.histolytica pode escapar do sistema imunológico – e até matar os glóbulos brancos que deveriam combatê-la”, diz uma das autoras do artigo, Katherine Ralston, que é professora do Departamento de Microbiologia e Genética Molecular, em comunicado à imprensa. O estudo que investigou como o protozoário se esconde foi publicado no periódico Trends in Parasitology neste mês.

Pesquisadores buscam entender modo de ação

A transmissão da E.histolytica ocorre via água ou alimentos contaminados, por meio da rota fecal-oral. Geralmente, a incidência é maior em países em desenvolvimento com saneamento básico precário.

Katherine começou a estudar o parasita em 2011 e acreditava que a E.histolytica matava as células ao injetar veneno nelas. Porém, em artigo publicado na revista Nature em 2014, a pesquisadora mostra que o mecanismo era bem diferente. Na verdade, ele arrancava pedaços das células humanas por meio de um processo chamado de trogocitose.

Ilustração mostra um fígado feito de linha - Metrópoles
Parasita pode causar doenças graves no fígado

Em 2022, a pesquisadora descobriu que o parasita ingere partes de células humanas, se tornando resistente a um componente importante do nosso sistema imunológico, as proteínas complementares. A função delas é encontrar e matar células invasoras.

Já no ano passado, Katherine e outros colegas se deram conta de uma revelação ainda mais curiosa. Ao ingerir proteínas externas das células humanas, chamadas de CD46 e CD55, o parasita consegue colocá-las em sua própria superfície externa, utilizando os uniformes proteicos como disfarce e escapando do sistema imunológico.

Caminhos para eliminar parasita

A E.histolytica usa um mecanismo chamado RNAi (inibição de RNA), permitindo que ele ligue e desligue genes quando quiser, dificultando ainda mais a identificação de partes importantes do genoma.

Em 2021, a equipe de pesquisa criou uma biblioteca de RNAi, que permite desligar um por um os 8.734 genes do parasita para entender a função de cada unidade. Além do RNAi, os cientistas estão usando o CRISPR, uma ferramenta de edição genética.

Com ele, os estudiosos conseguem marcar proteínas do parasita com compostos fluorescentes, que brilham sob o microscópio, tornando possível ver como o parasita interage com as células humanas e cortar pedaços do DNA da pequena criatura para estudar o que muda quando certos genes são removidos.

Com esses recursos, os pesquisadores esperam conseguir entender melhor e desenvolver medicamentos ou vacinas que ataquem os pontos fracos do parasita. “A ciência é um processo de construção. É preciso construir uma ferramenta sobre a outra, até que finalmente estejamos prontos para descobrir novos tratamentos”, afirma Katherine.

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