Morre José Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos

José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos. O anúncio foi feito pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, que expressou seu pesar e reconheceu o profundo impacto de Mujica na história do país. “Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que você nos deu”, escreveu Orsi em uma mensagem de despedida.

Mujica, que governou o Uruguai entre 2010 e 2015, sempre foi uma figura de destaque por sua postura simples e seu compromisso com as causas sociais. Antes de se tornar presidente, ele teve uma trajetória marcada pela militância no Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, nos anos 1960, um grupo guerrilheiro que se notabilizou por suas ações contra a desigualdade social. Durante esse período, Mujica foi preso e torturado pela ditadura militar, passando 14 anos em cárcere, incluindo longos períodos de isolamento.

De guerrilheiro a presidente

Após ser libertado em 1985, Mujica entrou para a política institucional e, em 1994, foi eleito deputado. Sua ascensão ao Senado se deu em 1999, e, com a chegada de seu correligionário Tabaré Vázquez à presidência em 2005, foi nomeado ministro da Agricultura. Mujica, então, assumiu a presidência em 2010, período no qual implementou diversas reformas significativas, como o aumento do salário mínimo e o avanço das políticas sociais, com o gasto público em áreas sociais subindo de 60,9% para 75,5%.

Uma das suas propostas mais emblemáticas foi a legalização da maconha, aprovada em 2013, que colocou o Uruguai na vanguarda em termos de políticas de drogas. Apesar das críticas, a medida foi um reflexo da visão progressista de Mujica, que acreditava na redução de danos e na promoção de uma sociedade mais justa.

Simplicidade e dedicação ao povo

Mujica ficou famoso por sua vida simples. Ele morava em um sítio na periferia de Montevidéu, dirigindo diariamente seu Fusca 1987 para o Palácio Presidencial. Essa postura foi um reflexo de sua filosofia de vida, em que a riqueza material não tinha valor, e a verdadeira satisfação vinha da dedicação ao bem-estar coletivo. Durante seu governo, Mujica manteve uma vida modesta e até hoje é lembrado por doar grande parte do seu salário para causas sociais.

Após deixar a presidência, voltou ao Senado, onde permaneceu até 2020. Nos últimos anos de sua vida, o ex-presidente se dedicou à sua horta, longe dos holofotes, mas sempre com a mesma paixão por seu povo. Sua morte marca o fim de uma era de resistência e compromisso com a transformação social do Uruguai.

Legado de Mujica

Mujica deixa um legado profundo não só para o Uruguai, mas para o mundo. Sua trajetória como guerrilheiro, preso político e presidente representa uma luta incessante pela liberdade e pela justiça social. Mesmo após o fim de sua presidência, Mujica continuou a inspirar gerações com sua visão de um mundo mais humano e igualitário.

O ex-presidente, que se declarava ateu, dizia admirar profundamente a natureza e a vida simples. Suas palavras e ações seguirão como um exemplo para todos aqueles que acreditam que a verdadeira política deve estar voltada para o bem-estar do povo, e não para o poder ou o dinheiro.

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