Ou\u00e7o dizer mal da Igreja Cat\u00f3lica, e da maneira como est\u00e1 sempre atrasada em rela\u00e7\u00e3o aos avan\u00e7os da Humanidade, mas h\u00e1 uma coisa \u2013 uma coisa enorme \u2013 em que \u00e9 a Humanidade a atrasar-se cada vez mais, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 qualidade mais antiga da Igreja Cat\u00f3lica: o perd\u00e3o.<\/p>\n

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Perdoar \u00e9 o oposto da vingan\u00e7a, do rancor, do julgamento incessante de tudo e de todos, e do manique\u00edsmo dominante, que divide a Humanidade em maus e bons, entre quem n\u00e3o merece nada, e quem merece tudo.<\/p>\n

Lembro-me de me agarrar ao perd\u00e3o quando o Father Fintan, o padre irland\u00eas que nos dava as primeiras aulas de catequese, nos assustava a todos com os horrores do pecado original.<\/p>\n

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Mal nasc\u00edamos, j\u00e1 \u00e9ramos pecadores. Parecia o c\u00famulo da injusti\u00e7a, culpar logo quem nem sequer tinha tido uma oportunidade de pecar: o rec\u00e9m-nascido.<\/p>\n

Mas agora percebo: inscreviam-nos logo no clube dos pecadores, para depois podermos pecar \u00e0 vontade. Assim, n\u00e3o nos desabava a alma em cima, quando a manch\u00e1ssemos com o primeiro pecado: \u201cN\u00e3o te preocupes, puto, j\u00e1 \u00e9 o segundo. O teu primeiro j\u00e1 estava catalogado.\u201d<\/p>\n

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Pergunt\u00e1mos repetidamente ao Father Fintan se qualquer pecado era perdoado. E ele, chateado, que sim. E n\u00f3s, distra\u00eddos a aula inteira, a inventar maldades: \u201cMesmo se matasse a fam\u00edlia inteira?\u201d, \u201cMesmo que deitasse fogo \u00e0 escola e o Father Fintan ficasse carbonizado?\u201d<\/p>\n

O pre\u00e7o do perd\u00e3o era o arrependimento. E quem \u00e9 que n\u00e3o se arrepende, at\u00e9 das maldades mais pequenas? Era praticamente uma licen\u00e7a para pecar.<\/p>\n

O arrependimento vai-se aprendendo \u00e0 medida que se peca, tornando-se cada vez mais sincero.<\/p>\n