{"id":1947,"date":"2024-02-28T01:58:10","date_gmt":"2024-02-28T04:58:10","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia5.jornalfloripa.com.br\/agencia5jf\/1947"},"modified":"2024-02-28T01:58:10","modified_gmt":"2024-02-28T04:58:10","slug":"twin-peaks-day-7-momentos-unicos-das-obras-do-genio-david-lynch","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia5.jornalfloripa.com.br\/agencia5jf\/1947","title":{"rendered":"Twin Peaks Day: 7 momentos \u00fanicos das obras do g\u00eanio David Lynch"},"content":{"rendered":"
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Voc\u00ea j\u00e1 tentou desenhar um sonho ou um pesadelo, seja desperto ou logo ap\u00f3s acordar de algum deles? Independente de qual seja sua resposta, essa tarefa sempre ser\u00e1 dif\u00edcil, e, para a maioria, imposs\u00edvel.\u00a0 Mas a mente de David Lynch \u00e9 t\u00e3o genial que ele consegue encontrar os sons para o sil\u00eancio de nosso mergulho dormente na profundidade de nossa mente para transformar na realidade devaneios, imagens e outras viagens on\u00edricas em objetos, pessoas, ambientes, atmosferas, narrativas e muito mist\u00e9rio.<\/p>\n
Assistir a algumas de suas obras \u00e9 praticamente como estar sonhando de olhos abertos\u2014 na maioria das vezes tendo um pesadelo. Como anualmente os f\u00e3s celebram no dia 24 de fevereiro o Twin Peaks Day, referente ao dia em que o Agente Cooper desembarcou na pequena cidade fict\u00edcia no in\u00edcio da hist\u00f3ria, o Canaltech<\/strong> aproveitou para mostrar por que esse artista \u00e9 t\u00e3o incr\u00edvel.<\/p>\n E porque, provavelmente, n\u00e3o teremos um igual por d\u00e9cadas depois que ele nos deixar \u2014 ali\u00e1s, embora ele tenha 78 anos e esteja muito bem de sa\u00fade, sequer estou preparado para discutir essa possibilidade por enquanto. Fique, ent\u00e3o, abaixo, com algumas informa\u00e7\u00f5es sobre a import\u00e2ncia de cada obra e sete momentos que provam como a mente de Lynch \u00e9 bizarro e irresist\u00edvel parque de divers\u00f5es de conceitos, imagens e sequ\u00eancias \u00fanicas e completamente originais.<\/p>\n – ATEN\u00c7\u00c3O: algumas imagens sens\u00edveis e temas ilustrados e descritos abaixo podem gerar desconforto ou gatilhos emocionais!<\/strong><\/p>\n O primeiro trabalho de Lynch estipula as poucas \u201cregras\u201d, temas e elementos recorrentes em quase todas as suas obras no futuro. Reconhecer essas coisas \u00e9 o melhor passo para encontrar o fio da meada em meio aos simbolismos e provoca\u00e7\u00f5es surreais.<\/p>\n Vale lembrar que voc\u00ea vai se dar muito mal no universo do diretor se o seu perfil \u00e9 daqueles que sempre quer ser o sabich\u00e3o entendedor de tudo, esperando por respostas f\u00e1ceis. N\u00e3o se iluda se a satisfa\u00e7\u00e3o de ter \u201csolucionado\u201d uma ou outra coisa do roteiro pobre e pregui\u00e7oso de Lost<\/strong> te deixou entusiasmado: aqui, a l\u00f3gica med\u00edocre e as respostas sem criatividade para perguntas infantis n\u00e3o t\u00eam a m\u00ednima chance.<\/p>\n Lynch \u00e9 muito generoso com a audi\u00eancia, pois ele provoca com quebra-cabe\u00e7as, inc\u00f3gnitas e charadas que, no final das contas, deixa-nos preencher lacunas para criar uma vers\u00e3o pr\u00f3pria da hist\u00f3ria, que sempre est\u00e1 se movendo em nossa mente, mesmo depois que a sess\u00e3o acaba. As tramas t\u00eam um andamento linear com come\u00e7o, meio e fim, com um objetivo mais simples e mundano, assim como os personagens possuem motiva\u00e7\u00f5es f\u00e1ceis de reconhecer e acreditar.<\/p>\n Somente em Inland Empire<\/strong> (2006) \u00e9 que o diretor criou distra\u00e7\u00f5es desnecess\u00e1rias para criar confus\u00e3o proposital e desviar os f\u00e3s da hist\u00f3ria. Em todas suas outras obras, \u00e9 poss\u00edvel encontrar aspectos em comum que ajudam a desvendar os enigmas e montar a narrativa com a cronologia de eventos e finalidade das principais imagens e sequ\u00eancias brisadas.<\/p>\n Daqui em diante, voc\u00ea poder\u00e1 notar em todas suas obras alguma luz piscando quando h\u00e1 uma presen\u00e7a e\/ou interven\u00e7\u00e3o maldosa e\/ou sobrenatural. Assistir\u00a0 a institui\u00e7\u00f5es tradicionais sendo\u00a0 corrompidas com uma atmosfera de mist\u00e9rio e personagens moralmente question\u00e1veis \u00e9 algo comum nos filmes de Lynch.<\/p>\n Em Eraserhead<\/strong>, o casal Henry e Mary se separa depois da chegada de um filho indesejado. A falta de carinho e considera\u00e7\u00e3o com a crian\u00e7a, que sempre est\u00e1 chorando e n\u00e3o se alimenta de nada, s\u00f3 aumenta a sensa\u00e7\u00e3o de incapacidade e culpa. E as coisas ficam ainda mais sombrias depois que Mary os abandona e o desejo por uma vizinha aumenta. A\u00ed \u00e9 que ele at\u00e9 come\u00e7a a pensar em acabar com a pr\u00f3pria vida.<\/p>\n A sequ\u00eancia que mais marca o primeiro filme \u00e9 o momento em que Henry encontra a \u201cMulher do Radiador\u201d (ou Mulher-Esquilo, como muitos a chamam) cantando: \u201cIn heaven\u2026 everything is fine\u201d \u2014 can\u00e7\u00e3o que se tornou cult por conta do filme e da vers\u00e3o que a banda Pixies executava em seus shows.<\/p>\n Embora pare\u00e7a inocente, essa cena e a letra s\u00e3o um convite para Henry aceitar o falso conforto do suic\u00eddio, pois a mo\u00e7a aproveita a vulnerabilidade do rapaz para faz\u00ea-lo acreditar que n\u00e3o h\u00e1 outra sa\u00edda mais f\u00e1cil e menos dolorosa.<\/p>\n <\/strong>Eraserhead<\/strong> causou tanto impacto nos corredores de Hollywood que logo os produtores que buscavam por novos talentos com forte assinatura autoral come\u00e7aram a assediar David Lynch. E foi com O Homem-Elefante<\/strong> (1980) e Duna<\/strong> (1984) que o ent\u00e3o jovem diretor aprendeu como \u00e9 dif\u00edcil dividir seu \u201cbeb\u00ea\u201d com outras pessoas, ainda mais em est\u00fadios maiores.<\/p>\n Ambos os trabalhos foram considerados fracassos comerciais, entretanto, mantiveram o interesse em Lynch, que come\u00e7ou a dominar seu \u00edmpeto criativo para al\u00e7ar voos maiores. E \u00e9 a\u00ed que entra Veludo Azul, produ\u00e7\u00e3o que ganhou destaque extra por conta da escala\u00e7\u00e3o dos atores Dennis Hopper e Isabella Rossellini, ao lado de um jovenzinho Kyle MacLachlan, que deram a carga dram\u00e1tica necess\u00e1ria para que as bizarrices do diretor fossem conduzidas de maneira carism\u00e1tica, misteriosa e intrigante \u2014 e por que n\u00e3o, um pouco assustadora, certo?<\/p>\n Em Veludo Azul<\/strong>, um jovem jeca chamado Jeffrey Beaumont (MacLachlan) encontra uma orelha decepada em seu jardim, e, ao lado da filha do delegado, Sandy (Laura Dern), decide investigar o caso por conta pr\u00f3pria depois que a pol\u00edcia desiste de ir mais a fundo. Ambos descobrem os podres de uma cidadezinha aparentemente perfeita.<\/p>\n Na cena escolhida aqui, tudo foi milimetricamente planejado para causar desconforto: desde as cores que n\u00e3o combinam at\u00e9 a assimetria dos elementos na fotografia; a sujeira, o sangue e a destrui\u00e7\u00e3o no pequeno flat que divide a cozinha com a sala. E o principal, as duas mortes mais originais do cinema: um homem de p\u00e9, convulsionando sem vida, enquanto outro sentado e com as m\u00e3os presas, aparece sodomizado e asfixiado. Essa situa\u00e7\u00e3o fica ainda mais estranha porque os mortos, inicialmente, parecem estar vivos.<\/p>\n Embora n\u00e3o seja o predileto de muitos, Cora\u00e7\u00e3o Selvagem<\/strong> ajudou a estabelecer o nome de Lynch em Hollywood, com mais uma produ\u00e7\u00e3o recheada de grandes nomes no elenco: al\u00e9m do retorno de Rossellini e Dern, o filme foi protagonizado por nomes em ascens\u00e3o, como Nicolas Cage e Willem Dafoe.<\/p>\n Na trama, depois de passar um tempo na pris\u00e3o, Sailor Ripley (Cage) reencontra sua namorada, Lula Fortune (Dern), e eles viajam para a Calif\u00f3rnia. A m\u00e3e de Lula, Marietta (Diane Ladd) n\u00e3o aceita o namoro e contrata um assassino profissional, Bobby Peru (Dafoe), para matar Sailor.<\/p>\n Em determinado momento do road movie, uma mulher acidentada tenta explicar algo, n\u00e3o consegue direito. Ela come\u00e7a a balbuciar e falar as palavras de forma estranha e incompleta enquanto p\u00f5e a m\u00e3o na cabe\u00e7a. Na verdade, ela estava co\u00e7ando seu c\u00e9rebro, depois de a tampa de sua cabe\u00e7a se romper expor seus miolos ap\u00f3s o capotamento.<\/p>\n Lynch ganhou tanto prest\u00edgio em Hollywood que a produ\u00e7\u00e3o do Showtime procurou-o em busca de algo que o diretor pudesse contar de forma bizarra, mas ao mesmo tempo acess\u00edvel, para um grande p\u00fablico. Assim, juntamente com Mark Frost, ele ofereceu inicialmente a trama de Mulholland Drive<\/strong>, que foi descartada \u2014 posteriormente reaproveitada no filme Cidade dos Sonhos<\/strong>, de 2001.<\/p>\n Twin Peaks<\/strong>, ent\u00e3o, se tornou um marco para a TV, que antes s\u00f3 dividia as hist\u00f3rias seriadas em dois g\u00eaneros: com\u00e9dia e drama. A s\u00e9rie de Lynch, com o mist\u00e9rio da morte de Laura Palmer desvendando uma comunidade c\u00ednica e perturbada escondida nos lares perfeitos do American Way of Life<\/em> \u2014 s\u00e9ries como Arquivo X<\/strong> ou Dexter<\/strong> talvez nunca chegassem ao hor\u00e1rio nobre, n\u00e3o fosse por Twin Peaks<\/strong>.<\/p>\n \u00c9 verdade que, depois do sucesso da primeira temporada, que j\u00e1 havia sido \u201cesticada\u201d por Lynch e Frost, as coisas degringolaram um pouco na segunda, pois a trama, que nem mesmo tinha conte\u00fado inicial para os oito primeiro epis\u00f3dios, precisou se transformar quase em uma novela mexicana de mais 22 cap\u00edtulos.<\/p>\n Ainda assim, Twin Peaks<\/strong> foi iconoclasta, e o momento que destaco aqui \u00e9 ainda da primeira temporada, ou do pr\u00f3prio filme hom\u00f4nimo, em que o detetive pede \u00e0 m\u00e3e transtornada de Laura Palmer para fazer um esfor\u00e7o extra na tentativa de lembrar se havia algo estranho no quarto de sua filha nos dias pr\u00f3ximos de sua morte. A mulher fica extremamente perturbada ao resgatar de sua mente a presen\u00e7a do suposto assassino, Bob, em um canto do quarto, olhando para ela.<\/p>\n Desde seus primeiros trabalhos, Lynch j\u00e1 havia mostrado conex\u00f5es de seus trabalhos com os trabalhos dos psicanalistas Sigmund Freud e Carl Jung \u2014 o pr\u00f3prio diretor j\u00e1 falou sobre ambos como refer\u00eancias de v\u00e1rias de suas vis\u00f5es em s\u00edmbolos e personagens de seus trabalhos.<\/p>\n Estrada Perdida<\/strong> \u00e9 o seu trabalho em que isso pode ser visto com mais clareza, especialmente no momento em destaco aqui: quando Mistery Man (ou \u201cHomem Misterioso\u201d), um homem p\u00e1lido e pequeno, que lembra o an\u00e3o vestido de vermelho em Twin Peaks<\/strong>, diz a ele que est\u00e1 em dois lugares ao mesmo tempo.<\/p>\n Com isso, a trama confirma a influ\u00eancia Junguiana, que j\u00e1 havia se desenhado com a transfer\u00eancia e separa\u00e7\u00e3o do quadro inicial, em que o marido Fred Madison (Bill Pullman), sexualmente impotente, de repente, torna-se o amante viril de sua esposa Renee\u00a0(Patrica Arquette). O Homem Misterioso representa seu \u201ceu\u201d onisciente.<\/p>\n No filme mais convencional de David Lynch, ele abre o cora\u00e7\u00e3o sobre o que sente depois de ter crescido mudando de cidade constantemente. A ideia inicial veio da hist\u00f3ria real de Alvin Straight, um veterano de guerra que, em 1994, decidiu percorrer o trajeto de Iowa e Wisconsin, nos Estados Unidos, usando como ve\u00edculo um cortador de grama.<\/p>\n A sinopse do filme \u00e9 parecida, entretanto, o pr\u00f3prio Lynch j\u00e1 admitiu que a hist\u00f3ria tem tudo a ver com sua pr\u00f3pria biografia. Isso porque, quando crian\u00e7a, ele precisou mudar constantemente de cidade, por conta do trabalho de seu pai como pesquisador de agricultura do governo dos Estados Unidos, e isso fez com que suas amizades nunca fossem longevas em cada local que morou.<\/p>\n Em A Hist\u00f3ria Real<\/strong>, cada personagem \u00e9 como se fosse uma dessas amizades, que, embora ele n\u00e3o tenha tido muito tempo para se dedicar, todas tenham sido importantes. Cada uma plantou uma sementinha em sua vida, assim como o velhinho no cortador de grama (Richard Farnsworth) faz com os jovens no filme.<\/p>\n A terceira e \u00faltima temporada de Twin Peaks<\/strong> \u00e9, basicamente, uma am\u00e1lgama de todos os temas recorrentes de Lynch. Os personagens que entram e saem da trama, aparentemente sem relev\u00e2ncia alguma, tamb\u00e9m representam seus amigos, assim como em A Hist\u00f3ria Real<\/strong>.<\/p>\n O humor peculiar visto em diversas cenas de Cora\u00e7\u00e3o Selvagem<\/strong> e nos personagens que o ator MacLachlan interpreta em seus trabalhos (especialmente o Agente Cooper) est\u00e1 em v\u00e1rias cenas longas sem som e edi\u00e7\u00e3o dos cap\u00edtulos dirigidos por Lynch nesta terceira temporada.<\/p>\n No epis\u00f3dio sete, que simplesmente quebrou a TV e nunca ser\u00e1 superado no entretenimento, Lynch finalmente explica que a defini\u00e7\u00e3o de maldade recorrente em seus filmes vem da bomba at\u00f4mica: para ele, \u00e9 quando a humanidade passou realmente a fazer crueldade extrema de forma completamente deliberada, superando a viol\u00eancia instintiva ao longo dos s\u00e9culos.<\/p>\n Leia a mat\u00e9ria no Canaltech.<\/p>\n Trending no Canaltech:<\/p>\n<\/p>\n Voc\u00ea j\u00e1 tentou desenhar um sonho ou um pesadelo, seja desperto ou logo ap\u00f3s acordar de algum deles? Independente de qual seja sua resposta, essa tarefa sempre ser\u00e1 dif\u00edcil, e, para a maioria, imposs\u00edvel.\u00a0 Mas a mente de David Lynch \u00e9 t\u00e3o genial que ele consegue encontrar os sons para… Continue lendo
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–<\/p>\n1. Eraserhead (1977)<\/h2>\n
2. Veludo Azul (1986)<\/h2>\n
3. Cora\u00e7\u00e3o Selvagem (1990)<\/h2>\n
4. Twin Peaks (1990)<\/h2>\n
5. Estrada Perdida (1997)<\/h2>\n
6. A Hist\u00f3ria Real (1999)<\/h2>\n
7. Twin Peaks: O Retorno ( 2017)<\/h2>\n
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