{"id":222650,"date":"2025-04-12T11:17:37","date_gmt":"2025-04-12T14:17:37","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia5.jornalfloripa.com.br\/agencia5jf\/222650"},"modified":"2025-04-12T11:17:37","modified_gmt":"2025-04-12T14:17:37","slug":"14-milhao-de-brasileiros-tem-transtorno-de-jogo-aponta-estudo-inedito","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia5.jornalfloripa.com.br\/agencia5jf\/222650","title":{"rendered":"1,4 milh\u00e3o de brasileiros tem transtorno de jogo, aponta estudo in\u00e9dito"},"content":{"rendered":"
\u00a0<\/p>\n
\u00a0<\/em><\/p>\n \u00a0<\/p>\n Um estudo realizado pela primeira vez no pa\u00eds mostrou que 1,4 milh\u00e3o de pessoas j\u00e1 desenvolveram transtornos de jogo, tendo o envolvimento com apostas associadas a preju\u00edzos pessoais, sociais ou financeiros, e que 10,9 milh\u00e3o de brasileiros apresentam sintomas de depend\u00eancia em jogos de aposta, com maior preval\u00eancia entre os adolescentes e pessoas de baixa renda.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n O inqu\u00e9rito epidemiol\u00f3gico, que entrevistou uma amostra representativa de 16,6 mil participantes com 14 anos ou mais em todas as regi\u00f5es brasileiras entre os anos de 2023 e 2024, integra a terceira edi\u00e7\u00e3o do Levantamento Nacional de \u00c1lcool e Drogas (Lenad), da Unifesp, divulgado recentemente pelo Observat\u00f3rio Brasileiro de Informa\u00e7\u00e3o sobre Drogas, do Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Segundo o estudo, 25,9% da popula\u00e7\u00e3o brasileira j\u00e1 apostou ao longo da vida e 17,6% apostou no \u00faltimo ano. As plataformas digitais, conhecidas como \u201cbets\u201d j\u00e1 s\u00e3o a segunda modalidade de jogos mais utilizada no pa\u00eds, respondendo por 32,1% \u2013 quase um ter\u00e7o \u2013 dos apostadores. Em n\u00fameros absolutos, s\u00e3o 9,13 milh\u00f5es de brasileiros que utilizam plataformas online para jogos.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Mais de um ter\u00e7o (38,4%) dos brasileiros que apostaram no \u00faltimo ano foram considerados em situa\u00e7\u00e3o de risco ou j\u00e1 s\u00e3o considerados jogadores problem\u00e1ticos, segundo a escala PGSI (em ingl\u00eas, Problem Gambling Severity Index) instrumento utilizado no estudo e que identifica\u00a0crit\u00e9rios diagn\u00f3sticos do Transtorno de Jogo, patologia reconhecida pelo Manual Diagn\u00f3stico de Transtornos Psiqui\u00e1tricos.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Os dados apontaram ainda que 4,4% (IC95%: 2,8-6,8)\u00a0do\u00a0total de apostadores possivelmente j\u00e1 desenvolveram o transtorno de jogo, o que equivale a 0,8% da popula\u00e7\u00e3o brasileira.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Grupos Vulner\u00e1veis:<\/p>\n Ainda que a propor\u00e7\u00e3o de apostadores seja menor entre adolescentes (10,5%), eles tem maiores chances de desenvolver problemas. Entre dos adolescentes.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Mais da metade dos apostadores com idade entre 14 e 17 anos\u00a0j\u00e1 tem indica\u00e7\u00e3o de jogo de risco ou problem\u00e1tico (55,2%, 95%CI: 29,6\u201361,0)\u00a0comparado a maior do que os 37,7% entre os adultos (IC95%: 32,8- 42,8).<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Os usu\u00e1rios das \u201cbets\u201d(plataformas online) tamb\u00e9m est\u00e3o mais propensos a desenvolver problemas,\u00a0com chances quadruplicadas\u00a0(OR: 4,02; IC95%: 2,83-5,72 ajustado por sexo) de desenvolver o chamado Transtorno de Jogo.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Entre esses apostadores a propor\u00e7\u00e3o de indiv\u00edduos com indica\u00e7\u00e3o de risco ou problema chega a 66,8% (IC95%: 59,0-73,9), contra 26,8% (IC95%:22,0-32,1) entre os apostadores que n\u00e3o usam essa modalidade de apostas.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Apostadores com renda mensal inferior a um sal\u00e1rio-m\u00ednimo tamb\u00e9m est\u00e3o em maior risco de apresentar problemas. Mais da metade dos apostadores desse estrato da popula\u00e7\u00e3o j\u00e1 apresentam indica\u00e7\u00e3o de jogo de risco ou problem\u00e1tico (52,8%,\u00a0IC95%: 46,1\u201359,4, ante 21,1% (IC95%: 13,2\u201332,1) entre os apostadores com renda superior a dois sal\u00e1rios-m\u00ednimos.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u201cOs dados do levantamento evidenciam a crescente popularidade dos jogos de apostas no Brasil, impulsionada pelas plataformas online. Al\u00e9m disso, o envolvimento precoce de adolescentes e os altos \u00edndices de problemas entre usu\u00e1rios de bets e a rela\u00e7\u00e3o entre vulnerabilidade socioecon\u00f4mica e o maior risco de transtorno de jogo refor\u00e7am a urg\u00eancia de pol\u00edticas p\u00fablicas que protejam a sa\u00fade mental da popula\u00e7\u00e3o\u201d, afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor-titular da Unifesp, diretor da Uniad e presidente da SPDM (Associa\u00e7\u00e3o Paulista para o Desenvolvimento da Medicina).<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Segundo ele, \u00e9 fundamental que, diante do cen\u00e1rio identificado, os gestores do SUS (Sistema \u00danico de Sa\u00fade) apresentem modelos eficazes de tratamento de apostadores de risco ou diagnosticados com transtorno de jogo. O diretor da Uniad tamb\u00e9m alerta para a necessidade de medidas de preven\u00e7\u00e3o por meio de pol\u00edticas p\u00fablicas regulat\u00f3rias.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Recomenda\u00e7\u00f5es<\/p>\n Diante dos resultados do estudo, torna-se fundamental a implementa\u00e7\u00e3o de estrat\u00e9gias preventivas que busquem reduzir os danos associados aos jogos de aposta, especialmente entre popula\u00e7\u00f5es vulner\u00e1veis, como crian\u00e7as, adolescentes e indiv\u00edduos suscet\u00edveis ao desenvolvimento de comportamentos de risco.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Com o objetivo de fomentar iniciativas fundamentadas em evid\u00eancias cient\u00edficas para enfrentar esse novo desafio de sa\u00fade p\u00fablica, a equipe do LENAD\/UNIFESP, em colabora\u00e7\u00e3o com pesquisadores do Centro de Pesquisa em \u00c1lcool e Drogas do Hospital de Cl\u00ednicas de Porto Alegre e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), elaborou um conjunto de recomenda\u00e7\u00f5es. A abordagem adotada est\u00e1 em conson\u00e2ncia com estrat\u00e9gias internacionais reconhecidas por sua efetividade e baseadas nas melhores evid\u00eancias cient\u00edficas dispon\u00edveis at\u00e9 o momento.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n 1) Regulamenta\u00e7\u00e3o e Supervis\u00e3o<\/p>\n \u2013 Implementar requisitos mais rigorosos de licenciamento para operadores de jogos de azar online, assegurando transpar\u00eancia e responsabiliza\u00e7\u00e3o na oferta desses servi\u00e7os (Dash et al., 2024).<\/p>\n \u2013 Assegurar que \u00f3rg\u00e3os regulat\u00f3rios independentes tenham autoridade para fiscalizar o setor, monitorar pr\u00e1ticas comerciais e, principalmenge, sejam capazes de aplicar san\u00e7\u00f5es quando necess\u00e1rio (Dash et al.,2024; Wardle et al.,2024).<\/p>\n \u00a0<\/p>\n 2) Prote\u00e7\u00e3o de Crian\u00e7as e Adolescentes:<\/p>\n \u2013 \u2060Prote\u00e7\u00e3o mandat\u00f3ria de crian\u00e7as e adolescentes para as apostas, aplicando rigorosamente os requisitos de idade m\u00ednima, respaldados por identifica\u00e7\u00e3o obrigat\u00f3ria (Wardle et al.,2024).<\/p>\n \u2013 Modernizar sistemas de cadastro e monitoramento, incorporando estrat\u00e9gias como: Verifica\u00e7\u00e3o de identidade biom\u00e9trica, analise de comportamente e padr\u00f5es de uso (behavioral analytics), verifica\u00e7\u00e3o de documentos com intelig\u00eancia artificial ou autentica\u00e7\u00e3o com selfie (sistemas de KYC refor\u00e7ados), implementar limites t\u00e9cnicos e de perfil (soft blocks), entre outros m\u00e9todos.<\/p>\n \u2013 Integrar conte\u00fados educativos nas escolas sobre os riscos associados aos jogos de azar e estrat\u00e9gias de resist\u00eancia a influ\u00eancias sociais e midi\u00e1ticas.<\/p>\n \u2013 \u2060Reduzir a exposi\u00e7\u00e3o de menores de idade aos jogos de azar, proibindo ou restringindo o acesso, a promo\u00e7\u00e3o, o marketing e o patroc\u00ednio em canais acess\u00edveis a esse p\u00fablico (Wardle et al., 2024).<\/p>\n \u00a0<\/p>\n O marco regulat\u00f3rio das apostas (Lei n\u00ba 14.790\/2023) do Brasil ainda n\u00e3o definiu diretrizes espec\u00edficas de propaganda.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n 3) Prote\u00e7\u00e3o aos Grupos Vulner\u00e1veis:<\/p>\n \u2013 \u2060Implementar registros obrigat\u00f3rios de usu\u00e1rios para possibilitar rastreamento de padr\u00f5es de uso e interven\u00e7\u00f5es precoces.<\/p>\n \u2013 Criar sistemas universais de autoexclus\u00e3o, permitindo que indiv\u00edduos limitem voluntariamente seu acesso \u00e0s plataformas de jogo (Wardle et al., 2024).<\/p>\n \u2013 \u2060Oferecer ferramentas tecnol\u00f3gicas de monitoramento, como alertas personalizados e bloqueios autom\u00e1ticos com base em comportamento de risco.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u00a0<\/p>\n 4) Financiamento para pesquisa, educa\u00e7\u00e3o e assist\u00eancia:<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u2013 Estabelecer contribui\u00e7\u00f5es obrigat\u00f3rias dos operadores para um fundo p\u00fablico destinado a financiar pesquisas independentes sobre os impactos dos jogos de azar,<\/p>\n campanhas educativas de amplo alcance e<\/p>\n servi\u00e7os de tratamento e apoio \u00e0s pessoas afetadas (Dash et al., 2024).<\/p>\n \u00a0<\/p>\n 5) Mudan\u00e7a na Abordagem de Comunica\u00e7\u00e3o:<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u2060- Substituir o discurso centrado no \u201cjogo respons\u00e1vel\u201d, que transfere a responsabilidade exclusivamente ao indiv\u00edduo.\u00a0Sugere-se que a resposta de sa\u00fade p\u00fablica deve priorizar promover campanhas educativas baseadas em evid\u00eancias para desnormalizar comportamentos de risco (Livingstone & Rintoul, 2020 ).<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u2013 \u2060Promover campanhas educativas baseadas em evid\u00eancias com foco na desnormaliza\u00e7\u00e3o das apostas como forma de lazer aceit\u00e1vel, especialmente entre jovens e popula\u00e7\u00f5es vulner\u00e1veis<\/p>\n \u2013 Exigir transpar\u00eancia nos riscos associados aos jogos, incluindo a probabilidade real de perdas financeiras e os mecanismos de manipula\u00e7\u00e3o utilizados pelas plataformas.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n 6) Restri\u00e7\u00e3o \u00e0 Publicidade de Apostas<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u2013 Proibir a publicidade de jogos de azar em m\u00eddias acess\u00edveis a menores de idade e em hor\u00e1rios de ampla audi\u00eancia.<\/p>\n \u2013 \u2060Limitar o uso de figuras p\u00fablicas, influenciadores e atletas na promo\u00e7\u00e3o de apostas.<\/p>\n \u2013 \u2060Obrigar a inclus\u00e3o de alertas claros e vis\u00edveis sobre os riscos associados ao jogo, semelhantes aos utilizados em campanhas antitabaco.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Recomenda\u00e7\u00f5es para apostadores: (Baseadas no United Kingdom Gambling Commission, 2021)<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Informe-se sobre os riscos reais das apostas, as probabilidades de perda e os mecanismos de manipula\u00e7\u00e3o empregados pelas plataformas. Conhecimento \u00e9 uma ferramenta poderosa de prote\u00e7\u00e3o.<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u00a0<\/p>\n \u00a0<\/p>\n Evite consumir \u00e1lcool ou outras subst\u00e2ncias durante a pr\u00e1tica de apostas, pois isso pode comprometer o julgamento e favorecer decis\u00f5es impulsivas<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" \u00a0 \u00a0 \u00a0 Um estudo realizado pela primeira vez no pa\u00eds mostrou que 1,4 milh\u00e3o de pessoas j\u00e1 desenvolveram transtornos de jogo, tendo o envolvimento com apostas associadas a preju\u00edzos pessoais, sociais ou financeiros, e que 10,9 milh\u00e3o de brasileiros apresentam sintomas de depend\u00eancia em jogos de aposta, com maior… Continue lendo \n
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