Mãe não vê morte de Marielle como um “fim”: “Ou não estaríamos aqui”

Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, foi a segunda testemunha a prestar depoimento no julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, assassinos confessos da então vereadora e do motorista Anderson Gomes, realizado no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (30/10). Ela emocionou a todos ao relembrar a convivência com a filha e ressaltar a importância da condenação. “É o que eu espero. É o que toda a sociedade espera”. E completou: “A morte da Marielle não é o fim. Se fosse, não estaríamos aqui”.

A noite do crime, em 14 de março de 2018, foi relembrada por Marinete. “Eu me via nitidamente em um delírio de uma mãe, pois naquele momento eu não conseguia acreditar que aquilo tudo era verdade. Às vezes eu não consigo me recordar daquelas noites que passei. Seria insanidade de uma mãe achar que a filha ainda estava viva? Não. Era a dor que ultrapassava meu peito em tão poucos dias”, recordou.

“Parecia que não era real. Não criei ódio no meu coração, criei muita dor. Quem sou eu para questionar a Deus. O livre arbítrio daqueles homens, daqueles covardes. Deus não queria isso. Nem minha filha, nem o Anderson. Vamos ter uma vitória. Não é tudo, mas é o que a gente espera”, afirmou.

Sobre os réus, Ronnie e Élcio, Marinete ressaltou o caminho percorrido até chegar ao dia do julgamento, “depois de muita resistência, depois de passar por cinco delegados, por mudança no Ministério Público”.

“O que a gente traz hoje aqui, eu não posso dizer que eu agradeço não só pela minha insistência e pela minha fé, mas foi muito duro chegar até aqui. Eu nunca desisti desse dia, de ganhar essa confiança da defensoria, que passou a ser uma extensão da minha casa, da minha história com a minha filha”, observou.

Sobre uma possível condenação dos réus, Marinete Silva disse que é o que, obviamente, espera. “É o que eu espero. É o que toda a sociedade espera”, acrescentou. “Eu não caminhei para o fim. Caminhei para o início. Por isso, estamos aqui hoje”.

O julgamento

O julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, que afirmam que mataram Marielle a mando mando dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, ocorre mais de seis anos após os assassinatos que chocaram o país. A data foi definida pelo juiz Gustavo Kalil, titular do 4º Tribunal do Júri, durante reunião especial, no Fórum Central do Rio, com representantes do Ministério Público, os assistentes de acusação e a defesa dos réus.

A primeira testemunha ouvida no julgamento foi a ex-assessora de Marielle Fernanda Gonçalves Chaves, que acompanhava a vereadora do momento do crime. O depoimento foi dado de maneira remota.

Fernanda descreveu o crime com detalhes e afirmou que, quando conseguiu sair do carro recém-alvejado por tiros, ela “não queria admitir que ela [Marielle] pudesse estar morta. Eu queria acreditar que ela estava viva, então minha única preocupação era chamar uma ambulância”.

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