Delator do PCC, Odebrecht e famosos: o histórico de bicos na PM de SP

São Paulo — O assassinato de Vinícius Gritzbach, o delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) fuzilado há 10 dias após desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, jogou luz sobre a atuação de policiais militares como seguranças particulares durante a folga, o chamado bico, que é proibido pelo regimento interno da corporação.

Na última semana, a força-tarefa criada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) para investigar a execução de Gritzbach afastou oito PMs envolvidos na escolta particular do delator do PCC. Ele era réu por homicídio, acusado de lavagem de dinheiro, estava jurado de morte por integrantes da facção criminosa e havia delatado policiais civis suspeitos de corrupção.

Escolta de delator do PCC

Em depoimento à Corregedoria da PM, três policiais que protegiam Gritzbach disseram que foram recrutados para o bico irregular pelo  tenente Giovanni de Oliveira Garcia, do 23º Batalhão da PM. Chamado de “chefinho” entre seus subordinados, ele é apontado como administrador de uma rede de policiais escalados para realizar segurança particular, como escolta de clientes com alto poder aquisitivo.

Um deles, o soldado Adolfo Oliveira Chaves, afirmou que fazia o trabalho proibido na hora de folga para compensar sua “precária condição financeira”, mesmo sabendo que Gritzbach era acusado de envolvimento com PCC. Já o colega de farda Samuel Tillvitz da Luz admitiu que usava uma arma da corporação para fazer a segurança particular do delator assassinado, o que é expressamente proibido.

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Corpo de rival do PCC executado no aeroporto

Rival de PCC é morto em aeroporto
Empresário, preso sob suspeita de mandar matar membros do PCC, foi solto por determinação do STJ
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Empresário, preso sob suspeita de mandar matar membros do PCC, foi solto por determinação do STJ

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Gritzbach foi solto em 7 de junho

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Segundo MPSP, Gritzbach teria mandado matar dois integrantes do PCC

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Entrega de dinheiro da Odebrecht

O modus operandi relatado pelos PMs envolvidos com o aparato de segurança de Gritzbach é semelhante ao que foi exposto por um grupo de policiais militares destacados para operar o delivery da propina da Odebrecht. Em 2014, o doleiro contratado pela empreiteira para fazer pagamentos ilícitos a políticos usava PMs para escoltar ou entregar dinheiro vivo em diversos endereços da capital paulista.

Ao menos oito PMs da ativa ou aposentados atuaram para a transportadora encarregada de fazer os pagamentos conforme a programação do setor de propinas da Odebrecht. Eles ganhavam R$ 180 por dia de trabalho e carregavam em sacolas quantias que chegavam a R$ 500 mil para serem entregues diretamente aos intermediários indicados pelos políticos em suas residências, escritórios ou flats.

Quando o esquema foi descoberto, o cabo Ednaldo Rocha Silva, que atuava no 14.º Batalhão da PM, em Osasco, relatou à Polícia Federal (PF) que havia sido recrutado para o bico pelo sargento Paulo Roberto Romualdo, que se aposentara um ano antes no 49.º Batalhão, em Pirituba. Em 2019, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) abriu uma investigação para apurar a atuação dos policiais no delivery da propina.

À Corregedoria da PM, todos disseram que aceitaram o bico para “complementar a renda” e que “não sabiam nem a origem nem a finalidade das entregas de dinheiro”. Acabaram recebendo punição no processo disciplinar que variaram entre um e três dias de detenção. O promotor Ricardo Manuel Castro destacou que além da sanção interna os PMs também colaboraram com a investigação de corrupção, com detalhes que lembravam sobre as entregas de dinheiro, e arquivou o inquérito.

Guarda-costas de famosos

O treinamento recebido pelos policiais e a rede de contatos e influência que eles adquirem dentro da estrutura da segurança pública são importantes ativos que levam empresários endinheirados e famosos a contratarem PMs para fazerem sua segurança particular. O caso mais emblemático envolve o hoje deputado federal Coronel Telhada (PP), que foi comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).

Por 15 anos, enquanto era PM da ativa, Telhada fez a segurança privada do apresentador Augusto Liberato, o Gugu, que morreu em 2019. Apesar da proibição, ele sempre falou abertamente sobre o bico que fazia e chegou a aparecer várias vezes no palco do programa conduzido por Gugu no SBT.

Ao Metrópoles, Telhada afirma que já ficou preso no quartel e respondeu a procedimentos investigatórios por causa da atividade extra e diz que, no passado, 70% da corporação atuava em segurança privada no horário de folga por necessidade para complementar a renda. “Todos nós que fazemos ou fizemos bico, sabemos que é público e notório que é proibido”, diz.

O deputado conta ainda que acabou mantendo uma relação de amizade e confiança com Gugu ao longo dos anos. Tanto que quando o apresentador do SBT precisava de segurança no horário de trabalho dele na PM ele chamava outro policial que tivesse de folga para cobrir o serviço particular. “Era um homem de confiança, ele ia no meu lugar e exercia o serviço, sempre através da minha coordenação, do meu controle”, conta Telhada. “Com o tempo, o Gugu passou a conhecer esses policiais também e nós fazíamos um revezamento tranquilo, sem alterar e atrapalhar a escala na Polícia Militar”, completou.

Quem também sempre contou com um policial da Rota na sua segurança particular é empresário e apresentador Roberto Justus. A relação dele com os PMs era de tanta confiança que ele chegou a testemunhar a favor de um sargento da sua escolta particular no julgamento em que o agente era acusado de torturar e matar um suspeito já rendido, em maio de 2012. O PM acabou absolvido.

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O ex-comandante da Rota Paulo Telhada, durante trabalho como segurança do apresentador Gugu

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