Conheça as três atividades econômicas do PCC que mais preocupam autoridades

 

Não é novidade que o Primeiro Comando da Capital (PCC) é um dos maiores atores globais no tráfico de drogas. Daí vem a pujança econômica da organização criminosa e o combustível para financiar outras atividades ilícitas. Nos últimos anos, a facção nascida nos presídios de São Paulo tomou ares de multinacional e isso significa mais do que a expansão das fronteiras dos negócios clandestinos. Os tentáculos do Primeiro Comando da Capital chegaram a diversas atividades econômicas, o que aumenta os lucros, proporciona a lavagem do dinheiro do crime e contamina o ambiente formal de negócios.

Para além do combate ao tráfico de drogas, um velho desafio das autoridades de Segurança Pública, outras duas atividades econômicas trazem especial preocupação aos órgãos estatais: a infiltração do PCC em garimpos ilegais na região amazônica e os crimes cibernéticos, como estelionato digital ou lavagem de dinheiro por meio de criptomoedas. Além dessas atividades, o grupo criminoso faz o contrabando de combustíveis, madeira, cigarros, veículos e minério. Também tem atuado com força no mercado imobiliário, em agências de artistas e jogadores de futebol e firmado cada vez mais contratos de serviços públicos, confundindo os limites dos negócios formais e do dinheiro oriundo do crime.

Tráfico de drogas

Principal área de atuação do PCC, serve como pilar a todas as outras atividades econômicas e é responsável pela maior fatia do faturamento bilionário da organização. Em apenas sete operações no Porto de Santos, a Polícia Federal (PF) identificou o envio de mais de 1 tonelada de droga, escondida nos cascos dos navios, ao mercado europeu.

Em nível global, a produção de cocaína pura aumentou 143% entre 2010 e 2020. Enquanto isso, o número de apreensões cresceu 220% no mesmo período, o que ainda é insuficiente para controlar o tráfico. Boa parte dessa produção exorbitante do entorpecente sai dos países andinos e passa pelas rotas das facções brasileiras até chegar na Europa, na África e na Ásia.

Garimpo ilegal

Uma das grandes preocupações das autoridades de Segurança Pública é a conexão do PCC com crimes ambientais. A organização criminosa cresceu na Região Norte como no resto do país: o aumento exponencial da população carcerária não foi acompanhado por condições mínimas de cumprimento de pena. A facção ofereceu aos presos condições mínimas de higiene, segurança e conquistou novos soldados. Da penitenciária, a organização criminosa avançou para a floresta.

Em garimpos ilegais em Roraima, integrantes do PCC ditam os códigos de conduta, a chamada “disciplina”, como fazem em algumas periferias de São Paulo, e vendem drogas no varejo para trabalhadores do garimpo. Os entorpecentes chegam, em grande parte, por pistas de voo clandestinas localizadas no sudoeste do Pará. O sistema também é usado para transportar o ouro e outros produtos da exploração ilegal de minérios.

O secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, integrou o Ministério Público de São Paulo por mais de três décadas e acompanhou de perto o nascimento do PCC nos presídios paulistas na década de 1990, e diz que a sofisticação do crime, chegando a Amazônia, antes era “inimaginável” e hoje impõe dificuldades aos órgãos de segurança. “É um local onde nós temos uma dificuldade muito grande para fiscalizar porque é uma região muito grande, com floresta densa, divisa com outros países, que são países produtores de cocaína”, explica.

Crimes cibernéticos

O ponto mais recente de preocupação das autoridades com o PCC são os crimes cibernéticos. A facção é uma das responsáveis pelo crescimento exponencial de estelionatos digitais, além de usar bancos digitais e fintechs para lavar dinheiro por meio de criptomoedas. As instituições de combate ao crime, no entanto, não tem acompanhado essa sofisticação em ambiente digital.

“O Estado não está usufruindo dessa modernização tecnológica. Temos que usar cada vez mais isso”, reconhece Sarrubbo, que defende estabelecer novos parâmetros para investigar movimentações financeiras. “Não quero quebrar sigilo bancário de ninguém. Quero saber de crime organizado, movimentação financeira atípica, como informação de inteligência”, acrescenta.

A qualificação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) é defendida por estudiosos e agentes da Segurança Pública como a medida mais adequada para identificar grandes movimentações financeiras no ambiente digital e, inclusive, combater a corrupção de agentes públicos.

“Por que a gente não estabelece, por exemplo, a possibilidade do cruzamento de dados para verificação da evolução patrimonial de policiais e de políticos? O Coaf pode atuar nesse sentido”, sugere o delegado da polícia civil, André Pereira, presidente da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo (Adpesp).

Fonte: VEJA

 

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