Médico preso por abusos é acusado de estuprar esposa durante saidinha

São Paulo — A Justiça determinou que o médico nutrólogo Abib Maldaun Neto, condenado a mais de 18 anos de prisão por abusos sexuais praticados em pacientes, retorne ao regime fechado de forma temporária por um novo delito, após ele ser acusado pela esposa por estupro e violências doméstica e psicológica durante a saída temporária de Natal de 2024.

No boletim de ocorrência obtido pelo Metrópoles, registrado em 7 de janeiro deste ano na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher, a vítima relata que durante as visitas à Penitenciária II de Tremembé, no interior de São Paulo, onde Abib cumpre sua pena, o médico a obrigava a realizar visitas íntimas, ameaçando-a e afirmando que tinha “contatos” que poderiam prejudicá-la. Mesmo quando ela pedia para parar e dizia “não”, era forçada a ter relações sexuais com ele, todas contra sua vontade, por inúmeras vezes.

Durante a saída temporária entre 23 de dezembro do ano passado e 3 de janeiro deste ano, a vítima afirma ter vivido um verdadeiro “show de
horror”, sendo massacrada psicologicamente. Além disso, informou à polícia que as filhas do casal, gêmeas de 5 anos, também foram submetidas a tortura psicológica.

A partir da denúncia, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) pediu à Justiça no último dia 16 que o regime semiaberto concedido ao médico fosse interrompido, “tendo em vista a notícia de prática de crime gravíssimo por parte do sentenciado durante saída temporária”.

No mesmo dia, a juíza Naira Assis Barbosa, da Comarca de São José dos Campos, acatou o pedido. Na decisão, ela afirma que, como Abib Maldaun Neto “supostamente cometeu falta disciplinar de natureza grave consistente em prática de novo delito na saída temporária”, o regime semiaberto seria sustado temporariamente “por estar sinalizada a incompatibilidade com a disciplina exigida daqueles que foram condenados ou contemplados com o regime intermediário”.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que um inquérito policial foi instaurado para investigar o caso, que foi encaminhado à 3ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), responsável pela área. Além disso, uma medida protetiva foi solicitada à Justiça.

“Exames periciais foram requisitados e estão em elaboração, além de outras diligências que estão em andamento para esclarecer os fatos”, adiciona a pasta.

Entenda o novo crime

À polícia, a esposa de Abib relatou que é casada com ele há aproximadamente 7 anos e que teve duas filhas gêmeas na relação, atualmente com 5 anos de idade.

Na saída temporária em que o médico ficou na residência dela, a vítima afirma que foi estuprada diariamente. Além disso, relata que Abib também a agredia verbalmente, chamando-a de “ladra” e “incompetente”, por ela não saber ser mãe nem educar as filhas.

Segundo o testemunho, o médico demonstrava extrema agressividade e, em determinado momento, chegou a segurar a esposa pelo queixo e a ameaçar, dizendo: “Olhe bem na minha cara. Se sua vida está ruim, poderia ficar bem pior. Você deve cumprir o dever de esposa”.

A vítima contou aos policiais que compartilhou o ocorrido com a família de Abib, mas a irmã os pais dele disseram que a esposa deveria cumprir o seu “papel de mulher”, sendo conivente com ele, e em nenhum momento interferiram em nada.

A família inclusive insinua que a culpa pela prisão de Abib é da da esposa, argumentando que, se ela fosse “uma mulher suficiente para ele”, ele não teria procurado outras mulheres.

Condenação

Abib está preso desde dezembro de 2020, acusado de ter abusado 15 vezes de uma mesma mulher durante consultas na clínica. Ele também responde por abusos sexuais contra outras oito mulheres.

Em 21 de novembro do ano passado, a defesa dele pediu a progressão de pena para o regime semiaberto, afirmando que ele cumpriu todos os requisitos previstos na legislação e que um exame criminológico atestou “ótimo comportamento carcerário”. O pedido foi concedido, e após os novos crimes cometidos contra a esposa, revertido para regime fechado temporariamente.

Em depoimento dado à Justiça, Abib Maldaun Neto admitiu que estimulou o clitóris de pacientes durante exames clínicos em seu consultório nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. O médico nega os abusos sexuais, mas assume que usou testosterona e estimulantes naturais “que acabaram por efeito colateral como o aumento do clitóris em algumas pacientes”.

Ele foi condenado à prisão por abusos sexuais praticados contra pacientes mulheres na clínica que o médico mantinha nos Jardins, bairro nobre de São Paulo.

Médico famoso entre celebridades e políticos de São Paulo, ele já tinha sido condenado em segunda instância, em julho de 2020, em outro processo de abuso sexual.

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