O Presidente Malabarista (por Ricardo Guedes) 

O livro “A Gramática Política do Brasil” de Edson Nunes é um must da literatura das Ciências Sociais brasileira.

Baseado em sua Tese de Doutorado em Berkeley, Edson Nunes afirma que o Brasil não é um país “dicotômico”, categorizado por conceitos antepostos como “direita x esquerda”, “estado x cidadão”, “público x privado”, que tanto explicam a Europa e o mundo de lá, argumentos que tanto nos fascinam.

Aqui é diferente. Somos o resultado de quatro categorias, que ele denomina como “as gramáticas políticas” do nosso país: o “Clientelismo”, o “Corporativismo”, os “Insulamentos Burocráticos”, e o “Universalismo” de ideias, que tanto nos fascina, nós, das classes médias, profissionais e intelectualizados.

O “Clientelismo” tem suas origens históricas no atendimento das demandas de setores populares como “reserva de mercado”, como na “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre e em boa parte das eleições em pequenos municípios atuais. O “Corporativismo” provém de grupos organizados que olham apenas para o próprio umbigo na obtenção e retenção de regalias, como o Congresso Nacional atual, e grupos Empresariais que garantem o lucro com isenções e barreiras alfandegárias, na manutenção de seus privilégios e da mediocridade. Quando algo é mais do que importante para o andamento do país, movimentos de origem político-econômico criam os “Insulamentos Burocráticos”, que se tornam autônomos dentro de sua lógica própria e defensiva. A Petrobrás é um “Insulamento Burocrático”. Assim como o SUS, a Carteira de Trabalho, o INPS, o Banco do Brasil, o BNDES, o IBGE, o Bolsa Família, e tantos mais. E uma vez institucionalizados, passam a ter vida própria, não são mais base eleitoral de ninguém. E o “Universalismo” de ideias, composto, em geral, por ideologias provenientes de fora, por onde tramita a “esquerda”, a “direita”, o “centro”, vocais nas ruas e na internet. Ah! Essas ordens podem coexistir em arranjos simpáticos, como o BNDES e o IPEA, o IPEA para a turma da ideologia.

Essas quatro “gramáticas” andam juntas na história brasileira, às vezes com a predominância de uma ou de algumas sobre as outras, onde o Presidente tem que ser um “Malabarista”, para reger e equilibrar essa difícil orquestra.

Em uma leitura livre, a Primeira República foi predominantemente “clientelista”. Getúlio, com “corporativismo” e “insulamentos burocráticos”. JK, no sincretismo dessas quatro “gramáticas”, todos os elementos presentes e concatenados, na mesma direção. Os Militares, com “corporativismo” e “insulamentos burocráticos”. Fernando Henrique e Lula I e II, época da prevalência do “universalismo” de ideais. De lá prá cá, diante da inoperância política, cresce o “corporativismo”. Sarney, em artigo recente no Noblat, diz mesmo estar impressionado com o atual Congresso, nunca visto antes em somente pensar no dinheiro próprio, sem se lembrar que representam, também, a nação. E o Presidente, “Malabarista”, vai se escorregando por essa corda. Difícil fechar as contas sob o ataque das “gramáticas”.

E na perda de uma eleição, entra outra “gramática”, “Malabarista” também, na sequência do circo ufano dentro do qual vivemos.

Ser Presidente no Brasil não é fácil. Como dizia Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”, nem na Política; nem na Academia!

 

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago e Autor

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