Uma teia de intimidações, denúncias anônimas e pressão institucional vem sendo denunciada por médicos anestesistas do Distrito Federal que romperam com o controle da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF). Os relatos integram uma investigação policial que expõe o funcionamento de um sistema de perseguição sistemática contra profissionais considerados dissidentes.
Em comum, as vítimas afirmam que passaram a ser alvo de represálias após aceitar prestar serviços em um hospital particular da capital, que, em março de 2023, rompeu contrato com uma clínica associada à cooperativa. A partir daí, os profissionais contratados diretamente pelo hospital passaram a relatar episódios de assédio, campanhas de difamação e ameaças envolvendo até familiares.
Em um dos episódios relatados, mensagens enviadas por colegas anestesistas acusam os dissidentes de quebra de ética, anunciam expulsões da cooperativa e antecipam denúncias junto a conselhos profissionais e sindicatos. Médicos também relataram o recebimento de notificações formais de abertura de processo de exclusão da Coopanest-DF poucos dias após os primeiros plantões no hospital.
As pressões não se limitaram ao ambiente corporativo. Um dos anestesistas denunciou o uso de denúncias falsas junto a órgãos públicos com o objetivo de manchar sua reputação e dificultar sua permanência em outras instituições. Em um caso específico, houve abertura de sindicância em um órgão militar estadual após denúncia atribuída à campanha de perseguição.
Boicote
Segundo os relatos, os métodos adotados incluíam tentativas de isolamento dos profissionais, com ligações para colegas e mensagens desencorajando qualquer forma de apoio ou colaboração. Em áudios obtidos pelas autoridades, um anestesista ligado à cooperativa menciona explicitamente a estratégia de “cerco” e “boicote” ao hospital como forma de evitar que médicos independentes ocupassem espaço.
O impacto da pressão foi direto sobre a assistência médica. Houve redução drástica no número de cirurgias realizadas no hospital, que, segundo registros apresentados, deixou de realizar centenas de procedimentos eletivos por falta de anestesistas dispostos a enfrentar a retaliação.
Operação Toque de Midaz
A estrutura exposta na investigação ganhou nova dimensão após a Operação Toque de Midaz, deflagrada em abril deste ano pela Polícia Civil do DF e o Ministério Público. A operação teve como alvo os principais dirigentes da Coopanest-DF, investigados por formação de cartel, organização criminosa, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.
A ação mirou práticas que incluem o monopólio de hospitais estratégicos, acordos com operadoras de saúde e coerção sistemática contra médicos que atuam fora do sistema.
O modelo de atuação aponta para um esquema estável e estruturado, que por anos teria controlado o mercado de anestesiologia na capital federal por meio de domínio econômico e pressão psicológica.
Procurada, a Coopanest-DF afirmou, por meio de nota, que não há irregularidades na atuação da cooperativa e que irá comprovar a legalidade e ética dos serviços prestados.