Frida Kahlo: um exemplo de como podemos transformar o amor e a saudade em criação

 

Caro(a) leitor(a),

“Onde não puderes amar, não te demores.” A frase de Frida Kahlo — uma das mulheres mais intensas e representativas de todos os tempos — é quase um sussurro ao ouvido. Uma convocação para viver com verdade e não desperdiçar energia onde não há reciprocidade, nem brilho no olhar.

Tenho refletido tanto sobre isso que resolvi trazer o tema — falar sobre inspirar e explorar nuances do amor — não só o amor romântico, mas o amor-próprio, o amor que sangra e cicatriza, e no caso de Frida, transformou dor em arte.

Aos seis anos, ela teve poliomielite, que deixou uma sequela na perna. Aos dezoito, sofreu um grave acidente de ônibus — um ferro atravessou seu corpo. Isso mudou o rumo de sua vida para sempre. A medicina, que era seu sonho inicial, ficou de lado, e a pintura tornou-se seu remédio, seu diário íntimo e sua libertação.

Frida foi uma mulher de paixões inteiras. Seu amor por Diego Rivera, embora conturbado, é parte central de sua biografia. Casaram-se em 1929, separaram-se e casaram-se novamente. Um amor cheio de contradições, mas também de profundidade. Ela o amava intensamente, mas também se amava o suficiente para reconhecer suas próprias dores e limites. É aí que sua frase faz todo sentido.

Frida nasceu em 6 de julho de 1907 em Coyoacán, no México – Foto: Reprodução/ND

Frida amou outros homens e mulheres. Viveu sua sexualidade com liberdade e autenticidade em uma época em que isso era um escândalo. Não se conteve. Amava com a alma, com o corpo ferido e com o coração sempre pronto para mais uma tentativa.

Mas não era só sobre o amor ao outro. Frida é um símbolo do amor radical por si mesma, mesmo cheia de dores físicas e emocionais. Ela se autorretratou dezenas de vezes — não por vaidade, mas porque era quem ela mais conhecia. Sua imagem era sua armadura e sua vulnerabilidade.

Essa ideia de não se demorar onde o amor não floresce é um convite à lucidez afetiva. Um grito de autocuidado. De não insistir em amores que nos diminuem, lugares onde não somos vistos, relações em que o sentimento é unilateral.

Precisamos aceitar a importância de reconhecer quando o amor está ausente e saber partir sem culpa.

É quase como uma bússola para o coração: se não houver reciprocidade, verdade ou presença, é melhor recolher velas e buscar outro vento. Mas isso não significa que a travessia será fácil — o amor pode acabar, mas a saudade costuma ficar um pouco mais.

Partir sem culpa é diferente de partir sem dor. A dor pode vir — e virá — mas quando a gente parte por amor-próprio, há uma paz que acompanha o passo.

Agora, sobre o que fazer se a saudade bater — e ela vai bater, porque é humana, porque somos feitos de lembranças — aqui vai uma sugestão com a alma de Frida:

Transforme a saudade em criação. A saudade não precisa virar prisão; ela pode virar ponte. Uma ponte de volta para si. Ou, quem sabe, um reencontro com algo que também era amor e estava esquecido: você.

E se a saudade vier, ofereça uma cadeira — mas não um quarto inteiro.Deixe que ela conte sua história, mas não que decida o final.

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