O que é Cluely? IA ‘indetectável’ te ajuda a ‘colar’, mas pode trazer riscos

A inteligência artificial Cluely foi criada propositalmente para ajudar a “colar” ou “trapacear” em provas ou entrevistas. Trata-se de um assistente de IA que analisa chamadas de vídeo em tempo real sem que outra pessoa saiba e fornece respostas.

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O slogan da marca, inclusive, é “Cheat on everything” (“Trapaceie em tudo”, em tradução livre), e o CEO, Chunging Lee, alega ter acumulado mais de US$ 5,3 milhões em investimentos para a companhia. 

A proposta é controversa, mas já ganhou holofotes no segmento de IA — um vídeo que simula uma conversa em tempo real com o Cluely (num estilo Black Mirror) já tem mais de 10 milhões de visualizações no X. O Canaltech ajuda a entender as possíveis consequências de um software do tipo:


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  • O que o Cluely faz?
  • Riscos de segurança
  • Impactos na educação

O que o Cluely faz?

Segundo a empresa, o Cluely opera de forma “indetectável”, então não pode ser percebida por aplicativos como Google Meet e Zoom ou pelas pessoas no outro lado das chamadas de vídeo. A ferramenta conta com um modelo de IA para ler a tela, entender o que é dito nas conversas e trazer respostas rápidas.

Alguns cenários de uso incluiriam entrevistas de emprego para programadores que exigem exercícios práticos, provas e reuniões de vendas com clientes. 

Cluely promete ler a tela e raciocinar em tempo real para criar respostas (Imagem: Captura de tela/André Magalhães/Canaltech)

Riscos de segurança

A promessa de ser indetectável levanta preocupações de segurança, principalmente ao permitir que um aplicativo tenha acesso a todas as informações na tela do computador. Caso os dados não sejam devidamente protegidos, podem estar expostos a vazamentos e ciberataques.

O gerente de engenharia de segurança da Check Point Software, Fernando de Falchi, acredita que a IA pode passar despercebida porque as ferramentas de videoconferência não analisam se há outro app escutando a conversa, mas alerta para problemas com privacidade.

“Olhando para o lado de segurança, o usuário vai dar permissão para um terceiro poder acessar suas informações e basicamente armazenar tudo o que está acontecendo, como senha, planilhas com informações confidenciais e documentos sensíveis”, explica.

“Tudo isso vai ser enviado para a nuvem dessa ferramenta, mas quais são as garantias que aquele dado realmente não vai ser acessado por terceiros? Começa a ter um problema de acontecer um risco de um vazamento não intencional de informações sigilosas, muitas vezes confidenciais”.

Fernando de Falchi ainda aponta que gravações sem o consentimento de todos os participantes podem violar a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo, e gerar riscos jurídicos.

“Tem dois problemas: o risco com os dados, como onde essas informações vão parar, e violar alguma dessas leis”, completa.

Impactos na educação

Uma ferramenta nos moldes do Cluely também pode trazer impactos na educação, não só por “colar”, mas também pela ideia de um aluno absorver um conteúdo.

A professora doutora e especialista em IA aplicada à educação Emilly Fidelix entende que essas plataformas podem criar uma sensação de dependência:

“O estudante se torna alguém raso, sem profundidade de conhecimento em áreas importantes, repertório cultural,  autonomia intelectual. Pessoalmente, não vejo vantagem nisso. As ferramentas existem para nos auxiliar em processos, poupar tempo, não para fazer completamente o nosso trabalho”.

Nem todas as IAs são lançadas com a proposta de “ajudar a colar”, mas ferramentas como o ChatGPT e o Gemini já possuem recursos para resolver problemas matemáticos e provas. Emilly Fidelix analisa que as IAs já fazem parte do processo educacional, mas talvez seja necessário traçar novas estratégias de avaliação.

“Não ignorar que essas plataformas existem é um primeiro passo. É importantíssimo conhecê-las até certo ponto e criar um documento atualizado de política institucional relacionado à IA. Os cenários vão se transformando muito rapidamente, então processos formativos e de atualização se tornam necessários com certa frequência”, comenta.

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