Cientistas acreditam que o número de usuários da psilocibina vem crescendo no Brasil, mas entendem que o fato do princípio ativo dos “cogumelos mágicos” não ser formalmente proibido ou permitido atrapalha quem deseja analisar seu consumo na sociedade. Atualmente, o composto psicodélico não consta na lista da portaria 344 da Anvisa, que apresenta substâncias proibídas no país.
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A psilocibina é uma substância natural encontrada em cogumelos como o Psilocybe cubensis e o Psilocybe mexicana. No corpo humano, a psilocibina é transformada em psilocina, que age no cérebro afetando a serotonina, neurotransmissor ligado ao bem-estar e ao humor.
Um estudo realizado pelo Instituto Micélio Sagrado, composto por cientistas da USP e Unicamp, analisou dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que pertence ao Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo era tentar encontrar evidências do uso dessa substância psicodélica no Brasil.
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Resultados do estudo
A pesquisa evidenciou que somente 13 ocorrências relacionadas ao uso da psilocibina foram registradas no Brasil entre 2017 e 2022. Os especialistas analisaram 112.451 casos ligados ao abuso de drogas que constavam na base de dados, e os resultados foram divulgados neste ano no periódico científico International Journal of Medicinal Mushrooms.
Apesar dos números refletirem o baixo potencial tóxico da psilocibina, os cientistas reforçam que ainda devem considerar a possibilidade de subnotificação dos casos, fato esse que atrapalha o desenvolvimento das pesquisas científicas.
“O estudo também destaca as dificuldades geradas pelo atual estatuto jurídico ambíguo, que cria barreiras ao acesso seguro à psilocibina e prejudica o avanço de pesquisas científicas e estratégias de redução de danos”, escreveu o farmacólogo Marcel Nogueira, líder da investigação, em comunicado divulgado pelo Instituto Micélio Sagrado.
Tratamentos com a psilocibina
A psilocibina tem potencial para ser usada no tratamento de pacientes com distúrbios relacionados à saúde mental, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
Marcel Nogueira afirma que o Instituto Micélio Sagrado defende a liberdade do uso da substância e dissemina informações relacionadas ao uso consciente e saudável. Contudo, sua indefinição jurídica no Brasil ainda é um empecilho para os cientistas e para a área da saúde.
“Quem procura a psilocibina como se fosse uma bebida alcoólica ou cannabis muitas vezes não sabe lidar com a natureza da experiência psicodélica que pode surgir ali, porque é algo que não é controlado”, disse o farmacólogo em entrevista ao jornal O Globo.
O pesquisador destaca ainda que a sociedade só tem a ganhar com o acesso seguro à substância psicodélica. “Queremos que mais gente entenda que a regulamentação dos cogumelos no país seria algo importante”, pontuou.
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