Morte no metrô: qual a distância entre portas do trem e da plataforma

São Paulo – O vão entre as portas do trem e da plataforma na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás de metrô, em São Paulo, onde morreu Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, tem entre 28 e 30 centímetros, espaço suficiente para abrigar diversos objetos e até mesmo uma pessoa de compleição física mediana, como foi o caso da vítima. Entretanto, na mesma plataforma, há variações na largura.

A tragédia na linha de metrô fez com que muitos passageiros passassem a observar os vãos em estações com porta de plataforma de um jeito diferente, tentando compreender como uma pessoa poderia caber naquele espaço onde Lourivaldo ficou preso.

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Vão entre portas onde homem morreu, na Estação Campo Limpo, em São Paulo

Vão entre portas onde homem morreu, na Estação Campo Limpo, em São Paulo
Vão entre portas no início de plataforma onde homem morreu, na Estação Campo Limpo, em São Paulo
Plataforma da Estação Campo Limpo, em São Paulo
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Plataforma da Estação Campo Limpo, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

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Vão entre portas onde homem morreu, na Estação Campo Limpo, em São Paulo

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Vão entre portas onde homem morreu, na Estação Campo Limpo, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

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Vão entre portas no início de plataforma onde homem morreu, na Estação Campo Limpo, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

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Plataforma da Estação Campo Limpo, em São Paulo

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Plataforma da Estação Campo Limpo, em São Paulo

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Protesto na Estação Campo Limpo, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

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Protesto na Estação Campo Limpo, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

O Metrópoles fez a medição entre as portas de trens e a porta de plataforma da Estação Campo Limpo nessa quarta-feira (7/5), dois dias após a morte de Lourivaldo. Foi levada em consideração a largura entre o trilho da porta do trem e a barreira zebrada em amarelo e preto, que avança a partir da porta da plataforma.

Caso seja considerada a distância “porta a porta”, sem a barreira zebrada, então são acrescentados mais 10 cm — ou seja, beiraria os 40 cm.

Levando-se em consideração apenas os 30 cm, dimensão de uma régua escolar, o espaço seria suficiente para receber uma mochila comum de escola ou um calçado número 38 (em linha reta).

Presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô de São Paulo (Aeamesp), Luís Guilherme Kolle afirma que o espaço deveria ser menor, mas faz ressalvas. “Deveria ser um espaço menor. Mas se coloca a parte zebrada muito perto, você acaba entrando no gabarito dinâmico do trem [espaço lateral onde o trem pode tocar]. Ele não entra fixo na plataforma, vem balançando e pode ter um contato do trem com essa parte e causar acidentes”, diz.

Variações

Vale ressaltar que as distâncias entre as portas de plataforma e as portas dos trens são variáveis, inclusive na mesma estação. Como a Campo Limpo foi construída em curva, o vão entre portas pode ser mais estreito em alguns pontos, como ocorre na altura do último vagão no sentido Chácara Klabin, onde a medição apontou 23 cm.

Na mesma Linha 5, na Estação Santo Amaro, a distância da porta do vagão até a barreira zebrada é de 20 cm, chegando até 30 cm, considerando o recuo. Na Linha 3-Vermelha, na Palmeiras-Barra Funda, na plataforma em direção a Corinthians-Itaquera, são 28 cm até o início da porta. Na Jabaquara, na Linha 1-Azul, 21 cm.

Cuidados

O engenheiro afirma que é injusto culpar o passageiro pelo acidente envolvendo a porta plataforma. “Todo mundo que usa metrô já deu uma corridinha para tentar embarcar. O que precisa ser feito é uma nova conscientização dos passageiros para os perigos que é burlar esse sistema”, diz.

O engenheiro afirma que é preciso chamar as pessoas a colaborarem de forma diferente, porque o passageiro atual não é como nas décadas passadas. “Hoje, ele chega com fone de ouvido. Como você vai chamar a atenção do cara? Você tem que chamar a atenção de outras formas”, diz.

Segundo Kolle, é importante olhar para estratégias adotadas em outros lugares como exemplo. “Você tem shopping center que começa a colocar chamativo para ir a uma loja no celular do cara. Por que não faz uma campanha como essa?”, questiona.

O engenheiro também diz que as portas de plataforma são bastante úteis e devem ser mantidas. “Imagina a Sé como é hoje e com plataforma? Não ter pessoa, bolsa, carteira caindo na via. Não vai ter gente querendo se jogar no trem”, diz.

Trauma

Enquanto realizava medições na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás, na quarta, a reportagem do Metrópoles conversava com passageiros e uma das pessoas era próxima da família de Lourivaldo. A comerciante Lindaci Buarque, 39 anos, era amiga de infância do homem que morreu entre o trem e a plataforma.

Lindaci chegou a pensar em usar carro de aplicativo para evitar tomar o metrô na estação onde o amigo morreu. “Foi bem duro. Está sendo bem duro para a família também. A gente esperou a mãe e a irmã chegar da Bahia ontem. Está sendo bem triste, bem duro. Bem chato”, disse.

O que diz a concessionária

A concessionária ViaMobilidade afirma que, desde a adoção das portas de plataformas pelo sistema metroviário em SP, sempre orientou seus clientes sobre o uso seguro desse equipamento por meio de placas, avisos sonoros, luminosos, monitores e campanhas de conscientização nas estações, nos trens em seus canais de comunicação.

“Além dos sensores de fechamento, que já existem e impedem que um trem parta se qualquer porta estiver aberta, a concessionária trabalha em um projeto para a implantação de sensores adicionais de presença”, diz, em nota.

A concessionária afirma que a tecnologia “é muito recente e seu uso no mundo ainda é uma exceção, sendo a concessionária uma das pioneiras na adoção deste tipo de solução. Sua instalação envolve uma série de questões técnicas e testes, razão pela qual sua implantação não é imediata”.

Segundo a concessionária, na linha 5-Lilás, o cronograma prevê concluí-la no primeiro trimestre de 2026, data que pode ser antecipada conforme os resultados dos testes.

Questionado, o Metrô não se manifestou até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto.

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